Susan parece que viu um fantasma e permanece petrificada a me olhar. Aos poucos, volta a mastigar e pisca algumas vezes, ao que parece, recompondo-se.
— Isso — confirma. — É o nome no meu documento.
Penalizada, olho para ela e sorrio a fim de tranquilizá-la.
— Chegou sim — refiro-me à transferência.
Ela tenta um sorriso e pega o copo na mesa. Leva-o aos lábios.
— Não! — levanto as mãos para alertar que é conhaque. — Isso é...
Não dá tempo. Assim que sente o sabor, Susan salta para trás, levantando e empurrando a cadeira junto. O copo fica na mesa. Um pouco do líquido escorre no canto dos seus lábios, com uma cara feia, ela engole e seca a boca com a mão.
— Argh! — reclama.
Com o rosto em choque, levanto-me.
— Espera, vou pegar água — aviso e sigo para a geladeira.
Abro a porta e pego a jarra com água. Ela tosse atrás de mim. No armário ao lado, apanho um copo e o encho.
— Aqui — ofereço-lhe.
Susan aceita o copo. Está com o rosto vermelho e os olhos cheios de água.
— Obrigada - agradece ao levá-lo na boca e vira tudo em pouco goles.
Respira e coloca a mão os seios.
— Puta merda! — reclama e deixa o copo vazio na mesa. — O que é isso?!
Cubro a boca tentando me controlar, mas não consigo e começo a rir. Susan me encara como se eu fosse louca. Tento parar, mas a sua cara pasma e avermelhada é tão engraçada que começo a gargalhar.
— Qual a graça?! — pergunta se abanando com as mãos. — Isso foi um coice!
Concordo com a cabeça.
— Desculpa — peço limpando as lágrimas dos olhos. — Eu deixei aí antes de te atender.
— É conhaque?! — pergunta desacreditada.
— É sim.
— Você toma conhaque?! — pergunta unindo as sobrancelhas.
— Não. Usei para fazer o estrogonofe e tomei um gole.
Ela expira o ar de dentro do corpo, numa lufada e arregala os olhos.
— Meu Deus! Tô pegando fogo!
Toca seu rosto e abre a jaqueta e a tira, apoiando no encosto da cadeira. Está com uma camiseta cropped branca, de mangas curtas. Ela é larguinha e tem uma bandeira de Londres estampada. Sobre o abdômen exposto, os riscos da tatuagem aparecem. Agora sei onde terminam e vê-los me faz lembrar dela no banho.
— Foi mal.
Ela me lança com um olhar engraçado.
— Você vai comer mais? — quero saber.
Seu prato está vazio.
— Não. Estou satisfeita. Obrigada.
Adianto para pegar a louça suja da mesa.
— Então me deixa lavar isso... é rapidinho.
Sigo para pia com tudo nas mãos.
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Susan: A história de uma travesti que se apaixona por uma mulher ((DEGUSTAÇÃO))
RomanceElizabete é uma estudante de relações públicas, que está prestes a se formar e a fazer trinta anos. Ela carrega dentro de si, traços fortes de uma criação rígida e junto a mãe vence as batalhas da vida. Atualmente desempregada, procura uma nova co...