Encaixo a bolsa no ombro e aperto a pasta nas mãos.
— Eu tinha que voltar antes da minha mãe sair para o trabalho.
Susan aperta os olhos para mim buscando verdade.
— Como estava sem as chaves, não pude te esperar — completo e torço para que acredite.
Ela segura um sorriso, esculpindo no seu rosto certa desconfiança.
"O quê?"
— Quase enlouqueci atrás de você — reclama aproximando-se.
Aperto a pasta e me esqueço de respirar.
— Desculpa — solto num suspiro.
Ela para a uma distância razoável e esquadrinha meu rosto milimetricamente, começando pelo queixo, boca e sobe para os meus olhos. Tem um ar ousado.
— Foi mesmo ... por que precisava chegar em casa antes da sua mãe sair?
Seu olhar é tão esperto que me dá medo. Parece saber o que passa dentro de mim.
— Foi... — tento não soar afetada. — Passaria lá amanhã. Não precisava se preocupar — esforço.
Ela aperta o olhar para mim e desce os olhos pelo meu corpo.
— É... mas você me deixou preocupada — rebate com sinceridade, voltando aos meus olhos.
Incomoda-me a maneira de se referir como mulher.
"Você é um homem!" — quero gritar.
— Conseguiu achar a chave da sala? — pergunto tentando mudar meu pensamento.
Ela me lança um sorriso debochado.
— Consegui — afirma com ironia.
Não entendo o porquê e, ao pensar, acabo reparando no seu nariz empinado.
"Deve ter mexido."
— Respondendo a sua primeira pergunta, o seu endereço consta no currículo — resolve me trazer de volta à realidade.
Olho para a pasta transparente.
— Verdade.
Volto-me para Susan. Exala um cheiro delicioso dela.
— Desculpa... não queria ter incomodado.
Ela balança a cabeça negando que tenha sido incomodada.
— Eu vim torcendo para que estivesse bem e em casa — suspira aliviada. — Também para devolver as suas coisas e ...
Ela pega o celular no bolso de trás da calça.
— Te pagar.
— Ah, obrigada.
— Posso fazer uma transferência que cai agora mesmo — diz olhando-me.
— Claro. Eu lhe agradeço.
Ela baixa o olhar para a tela do celular.
— Me fala seu banco, agência e conta — pede-me atenta à tela.
— Ah ... espera, eu nunca sei esses números de cor.
Tiro a bolsa do ombro para procurar a carteira e me atrapalho com ela e a pasta.
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Susan: A história de uma travesti que se apaixona por uma mulher ((DEGUSTAÇÃO))
RomanceElizabete é uma estudante de relações públicas, que está prestes a se formar e a fazer trinta anos. Ela carrega dentro de si, traços fortes de uma criação rígida e junto a mãe vence as batalhas da vida. Atualmente desempregada, procura uma nova co...