Capitulo 6 - Nós

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            Encaixo a bolsa no ombro e aperto a pasta nas mãos.

— Eu tinha que voltar antes da minha mãe sair para o trabalho.

            Susan aperta os olhos para mim buscando verdade.

  — Como estava sem as chaves, não pude te esperar — completo e torço para que acredite.

            Ela segura um sorriso, esculpindo no seu rosto certa desconfiança.

            "O quê?"

  — Quase enlouqueci atrás de você — reclama aproximando-se.

            Aperto a pasta e me esqueço de respirar.

 — Desculpa — solto num suspiro.

            Ela para a uma distância razoável e esquadrinha meu rosto milimetricamente, começando pelo queixo, boca e sobe para os meus olhos. Tem um ar ousado.

 — Foi mesmo ... por que precisava chegar em casa antes da sua mãe sair?

            Seu olhar é tão esperto que me dá medo. Parece saber o que passa dentro de mim.

— Foi... — tento não soar afetada. — Passaria lá amanhã. Não precisava se preocupar — esforço.

            Ela aperta o olhar para mim e desce os olhos pelo meu corpo.

— É... mas você me deixou preocupada — rebate com sinceridade, voltando aos meus olhos.

            Incomoda-me a maneira de se referir como mulher.

            "Você é um homem!" — quero gritar.

  — Conseguiu achar a chave da sala? — pergunto tentando mudar meu pensamento.

            Ela me lança um sorriso debochado.

— Consegui — afirma com ironia.

            Não entendo o porquê e, ao pensar, acabo reparando no seu nariz empinado.

            "Deve ter mexido."

 — Respondendo a sua primeira pergunta, o seu endereço consta no currículo — resolve me trazer de volta à realidade.

            Olho para a pasta transparente.

 — Verdade.

            Volto-me para Susan. Exala um cheiro delicioso dela.

 — Desculpa... não queria ter incomodado. 

            Ela balança a cabeça negando que tenha sido incomodada.

  — Eu vim torcendo para que estivesse bem e em casa — suspira aliviada. — Também para devolver as suas coisas e ...

            Ela pega o celular no bolso de trás da calça.

 — Te pagar.

— Ah, obrigada.

 — Posso fazer uma transferência que cai agora mesmo — diz olhando-me.

  — Claro. Eu lhe agradeço.

            Ela baixa o olhar para a tela do celular.

            — Me fala seu banco, agência e conta — pede-me atenta à tela.

            — Ah ... espera, eu nunca sei esses números de cor.

            Tiro a bolsa do ombro para procurar a carteira e me atrapalho com ela e a pasta.

Susan: A história de uma travesti que se apaixona por uma mulher ((DEGUSTAÇÃO))Onde histórias criam vida. Descubra agora