Capítulo 10 - Decida-se

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O brilho do seu olhar amarelo é intenso. Meu corpo todo aceita cada parte de Susan e a quer com a mesma necessidade de água quando tem sede. Isso me magoa a ponto de doer.

Fecho os olhos e paro de respirar. Se não fizer isso, lhe daria um beijo agora mesmo e impossibilitaria que ela cumprisse tudo que me disse a pouco.

Brigo contra a natureza dos meus anseios, que, de repente, jorra pelo meu corpo.

"Respira, Elizabete!" — exige meu peito prestes a asfixiar.

"Não!" — luto à beira de um colapso emocional.

— Elizabete — ouço a voz de Susan longe.

"Shhii!" — precisa se calar para que eu consiga, de alguma forma, me recuperar.

Comprimo o rosto e abaixo um pouco a cabeça. Bato a testa na aba do boné de Susan. Mãos magras e compridas envolvem meu rosto, elas estão geladas. Seu toque vai fundo demais e dobra meu âmago.

"Como eu te quero!" — confesso na minha própria desgraça.

Prendo as mãos nos bolsos detrás da minha calça, para que não me traiam e a toquem... como querem.

Susan levanta meu rosto, fazendo com que o sol bata nele e me esquente.

— Olha para mim — pede.

Obedeço-lhe e exponho minha vulnerabilidade ao revelar meus olhos cheios de lágrimas contidas. São resultado da incompreensão em que me tornei.

Eu não me entendo mais. Não sei mais quem sou, para que fui feita e para onde vou.

Um passo... e destruo todas as bases sobre as quais acreditei um dia viver.

Como pode?

Meu estado mexe com Susan e seus olhos ficam perdidos. Vejo-a não me entender e depois se culpar. Controlo-me para que nenhuma gota caia dos meus olhos. Preocupada, ela faz carinho no meu rosto com os polegares e destrói o fio que me segurava.

Duas lágrimas quentes marcam meu rosto em ambos os lados e molham seus dedos.

Ela deixa meus olhos para ver suas mãos. Seu maxilar tensiona e a sua expressão se fecha. Pensa e arfa pesadamente ao voltar a me encarar.

— Tudo isso por que eu sou uma travesti? — é uma pergunta sincera.

Não lhe respondo e seguro meu descontrole mordendo o lábio inferior.

Susan me avalia e balança a cabeça, concordando com ironia.

— Se fosse homem, não teria problema, não é?! — é sarcástica.

Minha razão ordena que eu dê um passo atrás e me afaste, mas não consigo, ... porque este momento é tudo que eu mais quero. Seu toque, sua proximidade, seu calor.

— Não teria — confesso.

Suas mãos deixam o meu rosto. Sinto falta.

— Vamos — é objetiva ao engolir a seco.

Dá um passo para o lado e me espera andar primeiro. Avalio-a antes de seguir.

— Susan...

— Relaxa, Elizabete. Você pode ficar tranquila.

Olho para ela querendo dizer tantas coisas, mas não sei como me expressar, por isso desisto e a passo. Ela vem atrás.

Susan: A história de uma travesti que se apaixona por uma mulher ((DEGUSTAÇÃO))Onde histórias criam vida. Descubra agora