33_ Ela morreu ali comigo.

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Puxei Christian até a mim, em um abraço firme ignorando completamente que meu pijama poderia ficar encharcado. Suas mãos abraçaram minha cintura, enquanto os meus o puxaram pelos ombros.

Apertei-o entre meus braços, ouvindo seus resmungos aleatórios.

ㅡ O que aconteceu? ㅡ Perguntei, tentando me afastar dele para que eu pudesse fechar a porta. As gotas da chuva estavam tão grossa que batiam no chão e faziam um barulho. ㅡ Creio que seja sério, né? Até porque você não iria vim aqui em vão.

ㅡ Precisava te ver. ㅡ Christian, simplesmente, soltou me fazendo encará-lo enquanto fechava a porta.

Assenti, me afastando dele e correndo até o andar de cima para pegar roupas ou qualquer coisa que pudesse aquecê-lo.

ㅡ Pode tomar um banho quente, Christian, se quiser. ㅡ Sugeri, terminando de descer as escadas com uma das mãos ocupadas por um moletom masculino que eu tinha comprado e na outra duas toalhas.

Percebi que Christian estava no chão encostado na parede e com o celular dele em mãos.

ㅡ Não molhou, por pura sorte. ㅡ Christian afirmou, erguendo seu olhar para mim. Tá certo, achei bem fofo a parte em que suas bochechas estavam vermelhas. ㅡ O que foi?

Coloquei as coisas em cima do sofá e fui até ele, me sentando ao seu lado.

ㅡ Você quer me contar o real motivo de estar aqui? ㅡ Encarei fixamente ele, piscando meus olhos várias vezes. ㅡ Porque eu tô achando tudo isso muito estranho. Você não faltaria o trabalho.

ㅡ Greta disse que a biblioteca não iria abrir hoje por causa do tempo. ㅡ Ele afirmou, passando a língua pelos lábios. ㅡ A estrutura de lá é bem antiga e velha, o teto estava caindo aos pedaços e com essa chuva acaba molhando tudo. Ontem tiramos todos os livros de lá, mas mesmo assim sabemos que podem prejudicar as madeiras das estantes e todas as mesas que tem lá.

Uma sensação ruim me atingiu após todas as palavras ditas pelo Christian ecoaram na minha cabeça me fazendo sentir o peso de tudo.

ㅡ E a pizzaria onde eu trabalho está comemorando 35 anos de funcionamento. ㅡ Ele continuou. ㅡ Então eu vou virar a noite com entregas extras e comemorações.

ㅡ Christian... ㅡ Ele me interrompeu.

ㅡ Hoje faz 4 anos que a minha mãe morreu, literalmente, em meus braços. ㅡ Christian ergueu seu olhar para mim, o que me fez perceber que seus olhos estavam marejados e um tanto tristes. Na verdade, havia uma escuridão tão grande no seu olhar que me fez temer. Era dor. ㅡ Eu sei que esse não é o clima que você esperava vindo de mim, mas é que eu realmente não estou bem hoje. Precisava ver você.

As suas últimas palavras me fizeram sorri. Eu não conhecia bem o Christian, mas sabia que no fundo ele me fazia bem e eu queria fazer o mesmo por ele.

ㅡ Quer me contar como era a sua mãe? ㅡ Indaguei, pegando a sua mão e entrelaçando nossos dedos. Meu coração acelerou por alguns instantes. ㅡ Naquele dia na Ponte você não contou totalmente e fugiu de mim com os olhos cheios de lágrimas.

Ele suspirou, olhando fixamente para o chão e mordendo os lábios com força.

ㅡ Como eu tinha dito, o estado da minha mãe piorou e eu precisava juntar todo dinheiro possível para pagar o tratamento dela. ㅡ Ele começou a falar, dando um pequeno aperto na minha mão. ㅡ Eu já estava trabalhando duro porque eu queria dá um lugar melhor para minha mãe, mesmo que eu adorasse o conforto da casa da tia Clarice.

ㅡ Clarice é o nome da mulher que faz os melhores biscoitos do Brooklyn? 

ㅡ Sim. ㅡ Ele assentiu. ㅡ Eu sabia que ela não se importava da gente estar na casa dela, mas mesmo assim eu queria sair da casa dela porque eu estava afundando cada vez mais e pensava que eu estava virando um fardo para ela.

Christian continuou...

As coisas começaram a piorar. Cada vez mais as dívidas médicas cresciam e o estado da minha mãe piorava. Eu estava enlouquecendo. Cada dia eu ficava mais cansado e cada vez mais triste por não me sentir suficiente para nenhum dos trabalhos e não me sentir suficiente como filho.

Até que um dia eu cheguei em casa, quase 01h da manhã e a minha mãe estava gemendo de dor quando eu cheguei. Clarice não estava em casa naquela semana, então a minha mãe passava o dia sozinha e eu deixava tudo preparado para ela não fazer muito esforço.

O estado dela pirou, ela começou a ter convulsões e espumar pela boca. Foi a pior cena que eu vi.

Eu peguei ela no colo na tentativa de reanimá-la enquanto tentava chamar a ambulância, mas ela não resistiu. Morreu. Fechou os olhos lentamente com o coração perdendo o ritmo, antes mesmo que eu pudesse dizer a ela o quanto eu a amava.

Ela morreu ali comigo, junto a mim, lentamente e gradativamente.

Meu coração se apertou em meu peito ao terminar de ouvir as palavras de Christian.

ㅡ E... e sua família? ㅡ Gaguejei, um pouco nervosa ao ver que as lágrimas desciam pelas bochechas dele.

ㅡ Depois daquele dia, eu demorei para contar a eles. Para ser mais exato, uma semana. ㅡ Ele respondeu-me. ㅡ Eu e a tia Clarice que enterramos ela, com o pouco dinheiro que eu tinha juntado. Após a morte dela, depois que eu contei, eles vieram prestar homenagem e me ofereceram dinheiro para que eu pudesse começar uma nova vida em Greenville. Eu rejeitei, não queria nenhum centavo daquela gente.

ㅡ E... ㅡ Engoli em seco. ㅡ E o seu pai?

ㅡ Foi o primeiro a partir, na verdade. ㅡ Christian engoliu em seco antes de continuar. ㅡ Ele não aguentou a pressão da família desprezível da minha mãe, e morreu antes que pudéssemos vim para o Brooklyn.

ㅡ Eu... eu sinto muito. ㅡ Aproximei mais meu corpo do dele, nos juntando cada vez mais e deixando ele encostar sua cabeça em meu ombro. ㅡ Desculpa por fazer você lembrar dessa história, Christian, desculpa.

ㅡ Depois disso, você sabe. Clarice me ajudou com a maior parte do dinheiro com as vendas enormes dos biscoitos, então me mudei para Manhattan e a minha irmã voltou para NY de vez. Morou por alguns instantes em minha casa, foi aí que ela se conheceu e a gente também. ㅡ Ele riu. ㅡ Confio em você, Lily. Me sinto bem com você e sei que você nunca faria nada para me machucar.

Nunca mesmo.

Afastei-me um pouco dele e peguei seu rosto com as duas mãos, deixando-o um pouco mais perto de mim.

ㅡ Pode confiar em mim. ㅡ Afirmei, umidecendo meus lábios. ㅡ Eu quero que confiemos um no outro porque eu gosto de você. Gosto muito e quero que estejamos entrelaçados de uma forma boa.

Um sorriso iluminado se abriu nos lábios do Christian, fazendo ele balançar a cabeça em concordância em seguida. Ele estava com um brilho no olhar diferente, um brilho lindo que fazia seus olhos ficarem três vezes mais atraentes.

Abracei Christian novamente, o puxando cada vez mais para meu corpo.

•••
Publicando outro por ser um capítulo SUPER IMPORTANTE no crescimento dos personagens.

Enjoy!

Lily e Christian, Um Amor em Nova IorqueOnde histórias criam vida. Descubra agora