PERDER UM PARENTE SEMPRE DÓI, AINDA MAIS SE ELE FOR SEU PAI. Charlotte e Caleb devem ser os adolescentes mais azarados do universo, pois acabaram de perder seu pai, apenas onze meses depois da morte repentina de sua mãe. Sentiam a dor os consumindo, mas ainda com esperanças de que o homem sobreviveria. Afinal, pessoas em situações assim sempre tem a esperança de que tudo dê certo.
Ali, sentados ao lado do corpo sem vida do pai, os irmãos se abraçavam enquanto esperavam pelo socorro. Estavam voltando de uma noite de cinema quando algo invadiu a pista e fez Ian perder o controle. Estava sem o cinto de segurança, seu corpo voou para fora, parando no meio fio.
As luzes azuis e vermelhas logo atingiram suas visões, e com ela a dor da perda. Foi declarado o óbito, Ian estava oficialmente morto agora. Charlotte abraçou o irmão, chorando inconsolável enquanto o garoto se encontrava no mesmo estado. Caleb estava branco, pálido feito uma pessoa anêmica, e seu coração palpitava com muita rapidez dentro da caixa torácica. E mesmo assim, nada se comparava ao estado da irmã mais velha.
Ela gritou, tão alto e agonizante que arrepiou qualquer pessoa que conseguiu a ouvir. Perderam o pai, ele estava morto, assim como sua mãe estava. A dor era aterrorizante, quase tão insuportável quanto amputar um membro do corpo. Era como o afogamento, ou até mesmo queimar vivo. O luto sufoca, deixa desnorteado e sem rumo. Sem fôlego para respirar.
— está tudo bem, Lottie. – o loiro dizia entre lábios trêmulos e uma enorme dor em seu peito, ainda tentando acalmar a irmã. — Você está sangrando, deve ser atendida.
Charlotte tinha um corte aparentemente muito profundo na testa e o sangue percorria por seu rosto, a deixando assustada e amedrontada. Caleb, mesmo querendo muito desabar e chorar até soluçar, tentou ser o mais forte possível para a irmã. Mesmo ele sendo o mais novo.
Ele pegou em sua mão, a conduzindo até a ambulância porque Charlotte se rejeitava a aceitar a ajuda de bombeiros, policiais ou paramédicos.
— eu estou aqui, ainda temos um ao outro – ele diz, sua voz em um fio doloroso e rouco.
Em duas horas, Melissa, sua única tia, já havia sido notificada sobre a morte do irmão. Por sorte, ou puro azar, Rafael também morava em São Francisco, era melhor amigo de Ian e foi o primeiro a chegar até os sobrinhos fragilizados.
Charlotte foi hospitalizada pelo grande corte na cabeça, seu irmão segurava sua mão após o sedativo que colocaram em seu soro finalmente fazer efeito. Rafael estava ali, fazendo companhia para os meninos enquanto a ex esposa ainda não havia chegado.
Era doloroso assistir ao sofrimento dos garotos, angustiante. Ainda mais quando sabiam que não tinham mais uma mãe para confortá-los por todo este caos. Estavam sozinhos agora, por conta própria nesse mundo horripilante.
Quatro, cinco, seis horas após o acidente e Melissa ainda não havia chegado até os garotos. Charlotte estava enlouquecendo, gritando aos quatro cantos o quanto ainda precisava do pai, ganhando a prescrição de outro sedativo. Caleb chorava enquanto a irmã dormia, pois era o único momento em que sentia que podia fazer aquilo.
As cinco e meia, Melissa ultrapassou as portas duplas do hospital. Caleb nem esperou a tia adentrar totalmente o quarto, correu para ela e a abraçou. Melissa agarrou o sobrinho, seus olhos se enchiam de lágrimas e as mãos tremiam, ainda desacreditada com a péssima notícia.
Quando Rafael a ligou, Melissa estava no meio de um turno no trabalho. As palavras do ex marido foram como adagas extremamente afiadas perfurando seu coração, causando uma dor imensurável. Ela largou tudo e fez o impossível para conseguir chegar a quem realmente importava, seus dois sobrinhos.
— está tudo bem, amor – ela dizia entre as lágrimas. Agarrou o rosto do garoto entre as mãos, limpando suas lágrimas — vocês ainda tem a mim. A tia Mel chegou, nada vai acontecer com vocês, está bem?
O garoto continuava chorando, deixando que seu mundo finalmente desabasse, pois sabia que Melissa estava ali para o segurar. Rafael assistia a aquela cena com o coração em pedaços, em um silêncio gritante, sentindo a verdadeira e dolorosa dor de perder um amigo.
Melissa beijou os fios loiros do sobrinho, o aconchegando em seus braços. Ela finalmente percebeu a presença de Rafael ali, no canto do quarto.— obrigada por não ter deixado eles sozinhos até que eu chegasse. – ela diz, recebendo um aceno de cabeça como resposta
— e o Scott?
— ficou na casa do Stiles, esperando por notícias.
Scott não se sentiu bem quando a mãe chegou em casa gritando seu nome, o mandando arrumar uma mochila e ir passar a noite no melhor amigo, sabia que havia algo de errado e só saiu depois de descobrir a dolorosa verdade.
Não se sabe ao certo quanto tempo Melissa passou abraçada com Caleb, mas acredita-se que foram alguns bons e longos minutos, talvez até horas. Ela sentou o garoto no sofá e o fez dormir, como se ele ainda fosse um bebê, o seu bebê.
Quanto mais tempo se passava, mais a dor se intensificava, se tornava mais real. A ideia de perder Ian ficava cada vez mais verdadeira, deixava de ser uma ideia e se tornava a dolorosa realidade.
(...)
As nove e quarenta, o efeito do sedativo no soro de Charlotte acabou, e a garota despertou completamente assustada. Apertou os olhos com força ao ver sua tia ao seu lado, segurando sua mão. Não foi um pesadelo.
— tia Mel está aqui, meu bem – ela sussurrou, ficando de pé e abraçando a garota, a puxando para seu peitoral — tudo bem, amor.
A menina chorou, sentindo novamente a dor do luto. Ian não era um pai perfeito, afinal ninguém é perfeito. Mas, ele era o melhor pai que alguém poderia ter, um pai presente e atencioso, sempre foi assim.
— o que há de errado com a gente, tia Mel? – choramingou, ainda abraçada a tia — por quê não podemos ser felizes?
— não há nada de errado com vocês, Lottie – ela sussurrou, acolhendo a menina em seus braços, passando a mão pelos fios loiros da garota — nada de errado.
Os pensamentos de Charlotte se dividiam entre o irmão mais novo e o que seria dos dois a partir de agora.
Ela olhou atordoada pelo quarto, em busca de Caleb. Não havia ninguém além delas duas ali. Melissa logo percebeu a agitação da garota, segurando em suas mãos.
— Rafael o levou para tomar café, ele está bem.
Ela olhou para a tia, se acalmando.
— Charlotte, amor eu sei que é cedo para falar sobre isso, mas...
— você vai ficar com a gente ou vamos ser entregados para o governo e viver em orfanatos separados? – questionou rapidamente
— vão voltar comigo para Beacon Hills. Eu jamais os deixariam desamparados, meu amor. Prometi para Amaya que sempre cuidaria dos filhos dela, não vai ser agora que vou quebrar com a minha palavra. – falou, passando o polegar pelo rosto da sobrinha, lhe dando um sorriso pequeno — você está cada dia mais parecida com ela.
Amaya, era a melhor amiga de Melissa durante o ensino médio. Não poderia ter mulher melhor para ser a mãe de seus sobrinhos e esposa de seu irmão. Amaya morreu de leucemia há onze meses atrás, fazendo Melissa prometer que jamais deixaria seus filhos sem uma figura materna em suas vidas.
Charlotte lhe deu um sorriso pequeno e doloroso, mas feliz. Gostava de quando lhe diziam o quanto se parecia com a mãe.
A partir daquele dia, os irmãos Delgado teriam de aprender mais uma vez a viver sem alguém importante em suas vidas. Culpa, remorso, dor, problemas psicológicos e uma dose de pesadelos era o que iriam os acompanhar.
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𝗠𝗘𝗠𝗢𝗥𝗜𝗘𝗦 | 𝐃𝐞𝐫𝐞𝐤 𝐇𝐚𝐥𝐞
Fanfiction(𝗠𝗘𝗠𝗢𝗥𝗜𝗔𝗦) onde Charlotte Delgado vive várias aventuras sobrenaturais ao lado do primo e melhor amigo, Stiles e Scott. Sobrinha de Melissa, a garota volta para Beacon Hills na companhia do irmão mais novo após o terrível fim do pai, Ian Delg...