Capítulo 20

6 0 0
                                    


 Semanas se passaram desde o dia em que comecei a treinar com Gael e, para ser bem sincero, eu nunca me senti tão bem desde então. Treinávamos quase todos os dias na parte da manhã, já que à tarde e à noite ele revezava entre fazer a guarda na casa de Valir e o trabalho, que há alguns dias já havia voltado.

O controle do meu poder cresceu exponencialmente nos últimos dias, e agora já estávamos praticando em lutas mais próximas. Por mais que eu achasse que, com o poder que eu tinha, poderia facilmente evitar confrontos de perto, Gael insistia muito, dizendo que nunca se sabe quando seríamos surpreendidos por um ataque sorrateiro. Como eu lidava bem com combate à distância, deveria praticar mais embates corpo a corpo. Não que achasse ruim também, isso me trazia muitas lembranças de quando eu era mais jovem e sempre apanhava nas lutas contra Lucian.

Ele sempre foi muito mais ágil do que eu, e eu sempre fui o mais forte de nós dois, mesmo quando éramos bem pequenos. Mas, mesmo com toda a força que tinha, nada poderia se comparar à velocidade e à destreza que ele tinha com os movimentos. Durante os anos de ensino, muitas vezes eu não conseguia nem tocá-lo antes de ser rapidamente nocauteado com um chute que eu não via de onde vinha ou uma rasteira bem dada. Todas as vezes que lutávamos, nossos amigos faziam apostas sobre quem sairia vencedor, e eu tinha pena de quem ainda tinha esperanças e apostava em mim.

Mas agora, com todo esse poder, eu não conseguia imaginar quem lá de baixo conseguiria me enfrentar e sair vitorioso. Foi depois de aprender a usar bem os meus poderes e a realmente utilizá-los em batalhas que consegui ver a discrepância de poder entre uma bruxa e um ser humano comum. Não me admirava que Vexa tivesse massacrado tantos reinos durante toda a sua vida. Mesmo os mais preparados dos exércitos perderiam muitos homens para derrubar uma bruxa mais fraca, imagine uma rainha bruxa com séculos de história e massacres.

— Concentre-se, Léo! — gritou Gael, enquanto, em posição de defesa, esperava que eu desferisse o primeiro ataque.

Bea estava sentada no telhado de casa, ao lado de Marco, assistindo ao nosso treinamento. Desde que eu e Gael começamos a treinar para valer, nosso treino virou praticamente um evento naquela casa. Só Philipe não gostava muito de assistir e preferia ficar na biblioteca na maior parte do meu treino.

— Só estava me concentrando — respondi a ele, confiante.

Com um movimento das mãos, puxei uma bolha de água e a joguei com força em sua direção, usando-a como distração para que me aproximasse a toda velocidade de Gael. No caminho, puxei mais da água que Gael deixava ao nosso redor e criei o que chamei de "segunda pele".

Era uma camada superficial de água que percorria todo o meu corpo como uma armadura fina. Visto de longe, era quase invisível, mas, quando eu estava prestes a receber um ataque ou algo do tipo, desde que conseguisse ver ou imaginar onde o ataque iria acertar, essa fina camada de água se aglomerava e se tornava rígida como aço para bloquear o ataque, permitindo-me atacar com menor preocupação. Exigia um enorme esforço e concentração para mantê-la durante toda a luta e ainda mais percepção para saber de onde o ataque viria antes de atingir o meu corpo. Era por isso que estávamos treinando arduamente.

Com um soco, Gael explodiu a bolha que eu havia lançado, lançando água para todos os lados. Quando ele me viu, eu já estava praticamente em cima dele, mas Gael era tão ágil quanto Lucian e muito mais forte do que eu.

Com reflexos quase animais, ele acertou um tapa com a parte externa da mão na altura da minha costela. Graças à segunda pele, mal senti o impacto, que teria quebrado todos os meus ossos. Reagi ainda no ar, tocando seu braço e o usando como impulso para um chute em sua cabeça, que foi agilmente defendido por um agarrão.

Sombras do Passado - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora