A sala de Valir virou um verdadeiro campo de batalha. Mais próximo à porta, Philipe lutava contra Azael usando duas facas de caça douradas com entalhes em branco que imaginei ser ouro. Eram suas armas preferidas, como ele me disse há alguns dias, quando as mostrou para mim pela primeira vez. Fora um presente de sua mãe quando o enviou para morar com Valir.
Enquanto isso, eu trocava socos com Gael, que segurava habilmente seu cajado. Aquilo não era mais um treinamento; era uma situação da qual Gael sempre me alertava durante os treinos: uma circunstância em que a derrota poderia significar perder a vida. Por isso, eu não poderia perder.
Com as manoplas, meus ataques ficavam um pouco mais lentos. Elas eram pesadas e exigiam muito da minha força e concentração. Mas o dano que causavam, caso atingissem Gael em cheio, valia totalmente a pena. Isso o forçava a lutar mais na defensiva, o que o tornava menos rápido do que costumava ser, nos deixando de certa forma igualados. No fim, seria uma batalha de resistência: quem fraquejasse primeiro, perderia.
Ataquei Gael com uma sequência de socos. Alguns o acertaram, empurrando-o cada vez mais para o canto da sala, que era meu objetivo desde o início. Ele encontrou uma brecha e contra-atacou, acertando em cheio a ponta do bastão em minha barriga, me fazendo curvar. Ele aproveitou minha guarda baixa para tentar acertar um chute na lateral do meu corpo, mas consegui defender a tempo com uma das manoplas, enquanto a outra o acertou em cheio na altura do queixo, jogando-o ao chão. Gael rolou para ganhar distância enquanto se levantava, mas acabou indo para o canto onde eu queria desde o começo.
Não dei tempo para ele se recuperar e o ataquei novamente, transformando as manoplas em duas facas de caça como as de Philipe. Ele reagiu a tempo, e começamos a trocar golpes. A cada ataque de Gael, eu trocava a forma da minha arma: ora espada, ora cetro, facas de caça ou um pequeno punhal na mão livre. Cada transformação visava encontrar uma brecha em sua defesa e o forçava a se adaptar ao meu estilo de luta, imaginando qual arma eu usaria a seguir. Como eu sempre dizia a ele: a imaginação era o limite.
Foi assim que um dos meus ataques passou por sua defesa. Com um pensamento rápido, criei uma faca e a enterrei na altura de sua costela. Com o impacto repentino, ele abriu outra brecha, e eu acertei um chute em sua perna, fazendo-o ceder um dos joelhos. Isso me deu tempo suficiente para acertar outro golpe em seu ombro, fincando uma adaga profundamente em sua pele. Preso no canto, ele não tinha para onde recuar; era uma presa fácil.
Suor escorria por seu rosto enquanto, com um dos joelhos no chão, ele puxava a adaga que deixei enterrada em seu ombro. A arma se desfez em água assim que ele a tocou.
— Você ficou tão bom nisso — ele admitiu com um sorriso orgulhoso no rosto. — Você se tornaria um guerreiro formidável no futuro.
— Eu não me tornaria; eu me tornarei — corrigi, avançando para dar o golpe final. Eu não o mataria, apenas o apagaria por tempo suficiente para conseguirmos fugir dali.
Quando me aproximei o bastante, mal consegui enxergar o que aconteceu. Só percebi quando Gael já estava em cima de mim, com uma das mãos segurando meu pescoço e a outra segurando uma espada prateada que brilhava intensamente na altura do meu coração. Minhas pernas tinham cortes em três pontos diferentes, e meu braço apresentava um rasgo de fora a fora. De repente, a dor explodiu nas feridas abertas, me fazendo morder os lábios para não gritar.
Ao fundo, alguém começou a bater palmas sem parar.
— Uma salva de palmas para meus guardas — disse Valir, arrastando a cadeira ao se levantar. — Dois em uma noite só.
Gael me puxou pelo pescoço, forçando-me a ficar de joelhos, mesmo com minha perna escorrendo sangue. Ele encostou a espada no meu pescoço e puxou minha cabeça para cima pelo cabelo, me fazendo olhar para Valir e Philipe.
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Sombras do Passado - Livro 1
FantasyPara pôr fim a uma guerra de anos, um tratado foi selado, Leonard e Tessa foram prometidos em casamento para o bem e a paz entre os reinos. Tessa era a princesa das bruxas, a filha da rainha mais amarga e perversa que já existira naquele reino enqu...