Capítulo 38

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Ester 

Tirei o meu braço de baixo do Pedro e me levantei devagar. 
Essa noite foi difícil pra ele dormir e eu fiquei acordada juntinho com ele.

Fui direto para o banheiro, tomei um banho demorado pra relaxar o meu corpo. 
Sai enrolada na toalha, fui até o guarda-roupas e vesti uma calça Jeans, uma polo da Lacoste branca e calcei um tênis branco. 

Peguei uma bolsinha e coloquei meu rg, cartão, dinheiro e o celular. 
Olhei para o Pedro e o mesmo ainda estava capotado. 

Sai de fininho, desci as escadas, peguei as chaves da casa do Pedro, abri a porta e deixei a mesma encostada.

Se eu trancar o Pedro aqui, ele endoida e eu sou uma mulher morta. 

Fui caminhando até a casa dele, cheguei e acionei o portão, o mesmo abriu. 
Entrei na casa dele e peguei a chave do carro, entrei no mesmo, sai com o carro, fechei a garagem e dei partida. 

Suzana estava péssima e Pedro não pode resolver nada fora daqui. 
Quem vai resolver tudo sou eu, já contatei o advogado e marquei de encontrar com ele. 

...

Sai do IML bem mal, entrei no carro e dei partida para a funerária. 
Tive que reconhecer o corpo, essa é a pior forma. 

Além de resolver toda a papelada. 

Meu celular começou a vibrar no banco do passageiro, atendi e coloquei no viva voz. 

Oi, eu to dirigindo. - falei alto 

Tá aonde? - Pedro perguntou do outro lado da linha 

To resolvendo os negócios do seu irmão, porque? - parei no sinal e peguei o celular 

Fiquei preocupado, não te vi aqui e quando cheguei na minha casa o carro não estava. - ri baixinho - Tinha esquecido dessas paradas. - bufou 

Deixa que eu resolvo, Pedro. - coloquei o celular no suporte - Fica com a tua mãe e não deixa ela sozinha. 

Demoro, qualquer coisa tu me liga. - falou e eu desliguei 

Voltei a atenção para o trânsito, até chegar na funerária mais próxima. 
Estacionei o carro e desci. 

Entrei e fui direto falar com a recepcionista. 

Boa tarde, no que eu posso te ajudar? - sorriu 

Boa tarde, moça.- falei séria - Eu nem sei como funciona essas coisas, pra falar a verdade...mas estou aqui com as papeladas do IML e queria ver um caixão para o meu cunhado. - tirei os papéis da pasta e entreguei para ela 

Maycon, né? - perguntou lendo os papéis e eu assenti - Qual o orçamento? - me olhou 

Moça, eu quero o caixão mais bonito que tu tiver...se tiver como né. - ela deu um sorrisinho - O mais caro, pode ser. 

Entendi, me acompanhe, por favor. - falou saindo atrás do balcão 

Fui atrás dela e a mesma me mostrou os caixões mais caros. 
Resolvi o que tinha pra resolver e voltei pra favela. 

Fui direto na casa da Suzana e os parentes dela já estavam tudo lá. 
Fiquei surpresa quando eu vi o pai dos meninos, ele é a cara do Pedro, só que mais velho. 

Pai deles largou a Suzana, quando o Morales tinha cinco anos, assumiu outra mulher e sumiu no mundo. 

Pedro me viu e veio até mim. 

Resolveu tudo? - assenti - Quando vai ser 

Boa noite pessoal. - falei alto e todos me olharam, alguns responderam e outros não - Eu fui resolver toda a burocracia para o enterro, já está tudo resolvido. - Suzana caiu no choro mais uma vez - Pedi para que fosse o mais rápido possível tudo, marcaram o velório para essa noite. - dei uma pausa e olhei para o Pedro, segurei na mão do mesmo acariciando - Começa as dez e o enterro é ás dez da manhã. 

Obrigada, fia. - o pai deles se pronunciou pela primeira vez e eu sorri fraco 

Pedro me puxou para o andar de cima, entramos no antigo quarto dele. 

Eu não sei o que esse filha da puta tá fazendo aqui. - se sentou na cama e passou a mão no rosto - Foi embora quando o Maycon tinha cinco anos, Ester...cinco! - gritou - E vem aparecer agora? Agora que ele morreu? Depois de ele se tornar uma filha da puta desprezível? Porra...eu to completamente perdido. - jogou as coisas da mesinha no chão 

Ei. - segurei ele - Pedro, por favor. - empurrei ele pra sentar na cama - Se acalma! - falei séria olhando nos olhos dele - Eu sei que tu tem raiva dele...mas deixa isso pra lá, o que a gente menos precisa pra agora é confusa. - ele assentiu e deitou na cama com a mão no rosto - Pedro...-me  deitei ao lado dele, abraçando o mesmo - Não quero que tu carregue essa culpa sozinho, eu to aqui e sei do que aconteceu também! - ele me abraçou de volta - Não vou te abandonar! 

Minha Rapunzel.- disse baixinho passando a mão pelo meu cabelo - Te amo tanto que chega a arder o peito. - deu um beijo no topo da minha cabeça 

Ficamos ali por um tempo, apenas ouvindo o barulho no andar de baixo. 

...

Vamos? - ele assentiu arrumando a gola da sua polo da Lacoste preta 

Bora, minha loira. - segurou a minha mão

Descemos as escadas, peguei as chaves da minha casa, saímos e trancamos tudo. 
Viemos embora para a minha casa, pois tinha muita gente na Suzana e o Pedro não conseguia se acalmar de jeito nenhum. 

Pra ele não tinha sentido algum vir uns parentes que nem conviveram com o Morales. 
O sentimento de culpa está destruindo ele e ele está descontando em outras coisas. 

Entrei no banco do passageiro e ele no do motorista. 
O mesmo deu partida, saindo da favela. 

Suzana foi com o Vitin e a mãe dele. 

Quarenta minutos depois, chegamos no cemitério. 
Descemos do carro, fui para o lado do motorista e ele entrelaçou as nossas mãos. 

Não sai do meu lado.- apertou a minha mão e me olhou, apenas assenti 

Seguimos até aonde estava acontecendo o velório. 

Suzana estava sentando em um canto, ao lado da irmã dela. 

Vamos lá até a sua mãe. - puxei ele e o mesmo resistiu um pouco, mas foi junto comigo 

Quando ela me viu, se levantou e veio para me abraçar. 

Obrigada por tudo o que está fazendo pela minha família...eu te amo tanto. - retribui o abraço com o coração doendo 

Parece que eu estou traindo ela, só de saber realmente da história completa.
Engoli a seco todo aquele sentimento ruim que eu estava sentindo. 

Eu estou apenas retribuindo o que a senhora fez por mim, praticamente a vida toda. - dei um beijo na testa dela - Me perdoa por não poder proteger o seu caçula...-falei baixinho 

A culpa não é de vocês. - saiu do abraço e pegou na mão do Pedro - Ele quem escolheu essa vida...isso são resultados das escolhas dele! - falou olhando nos olhos do Pedro - Ester só quer o melhor pra tu, Pedro. Acho melhor você escutar ela, antes que aconteça a mesma coisa que com o teu irmão...e eu nunca vou estar preparada para perder mais um filho. - ele assentiu com os olhos cheios de lágrimas e abraçou ela 

Pedro saiu do abraço, deu um beijo na cabeça dela e falou alguma coisa no ouvido. 
Em seguida me puxou para sentar do outro lado com ele. 

Ficamos ali sentados, observando toda aquela situação. 

To sentindo mo bagulho ruim no peito. - passou a mão no tórax e fez careta 

Coloquei a minha mão por cima da dele. 

Isso é apenas o luto...-falei baixinho - Mas eu to aqui, lembra? - ele assentiu com os olhos marejados e me deu um selinho - Sempre que tu precisar, eu estarei ao seu lado! - ele assentiu e deitou a cabeça no meu ombro 

Juntos até depois do fim. - falou no meu ouvido e eu assenti com lágrimas nos olhos 

Por mais que eu quero ficar longe dessa vida toda, eu não quero ficar longe dele! 

Coração bandidoOnde histórias criam vida. Descubra agora