Na quinta-feira seguinte, o movimento do lupanar estava baixo, graças a uma chuva gelada que caía torrencialmente por Londres. A senhora Jeon estranhou que Jungkook tivesse que trabalhar debaixo de chuva, mas não ficou questionando o filho. Devia muito a ele, por tudo o que estava fazendo pela família. Trabalhava até aos domingos! Não tinha momento algum para descansar! Nenhum dia livre! Era responsável o bastante para não merecer lidar uma mãe desconfiada em suas costas.
- E aí, sua rainha só te visita aos domingos, né? – Tony puxou assunto, vendo o amigo calado em um canto – Você tem sorte do pessoal não ter querido sexo com você. Normalmente os ricos gostam de certa exclusividade, sabe? – comentou.
- Entendo. É tipo um compromisso que não é compromisso. – explicou, observando o barman.
- Por exemplo, observe aquele moço bem-apessoado entrando. – indicou.
Jungkook observou o tal rapaz, o medindo de cima abaixo. Era loiro, alto, tinha olhos claros e pequenos, além de um nariz bem afilado.
- Ele se chama David Dashkov e está apaixonado por Elizabeth, a Lizzy. – explicou – Ele frequenta o Lupanar há mais de um ano.
O jovem coreano franziu o cenho.
- Mas Madame me disse que não devemos nos envolver com os clientes. Que devemos ser profissionais quanto a isso. – murmurou.
- Sim, ela está correta. Mas tem como a gente mandar no coração? – perguntou, enquanto enxugava um copo.
Jungkook deu de ombros, pensativo.
- Ele vai tirar a Lizzy daqui a qualquer momento. Ele é filho de um empresário francês. Estava estudando na Inglaterra e se formou agora. Provavelmente vai arrumar um emprego aqui mesmo, em uma das filiais do pai, e irá se com Lizzy. Não precisa apresentá-la à família como uma ex-prostituta, afinal de contas, os pais dele são franceses. Não tem quem diga a eles o contrário.
- E a Madame sabe disso? Que ela planeja ir embora? – perguntou, observando o abraço que Lizzy trocava com David. Os dois se olhavam com devoção e formavam um belo casal, diga-se de passagem.
- Sabe e não sabe. Fica aquela coisa velada. Ela faz uma ideia, mas Lizzy nunca comentou o que fosse. Nem para mim. Mas é o tipo da coisa que você observa e prevê que vá acontecer.
Jungkook assentiu, voltando-se a ele mais uma vez.
- Já aconteceu alguma vez, Tony?
- Já, no antigo Lupanar de Madame Helena. Eu trabalhava lá. Ela encorajava as meninas a se arrumarem na vida e aproveitarem as oportunidades. Era uma mãezona. – disse saudoso.
- E por que veio trabalhar aqui? – questionou, curioso.
- Porque o Lupanar da Madame Helena fechou.
O mais novo abaixou o rosto, observando os próprios calçados. Estava cogitando a possibilidade de sondar Tony sobre o passado de Madame Verônica quando ouviu os guinchos felizes de Antonella e Olga. As duas amigas se aproximavam dele, felizes. Estavam com vestidos cheios de babados e ombros de fora por baixo dos pesados casacos de pele.
- Vamos JK! Vamos subir! Trouxemos um vinil de tango maravilhoso e queremos dançar com você! – Olga avisou, enquanto Antonella ia acertar o valor com Madame Verônica.
O rapaz sorriu animado, dando o braço para a viúva, antes de ir até Antonella, com o outro braço arqueado. Pegou as duas e subiu as escadas, bem-disposto.
No sábado seguinte, a senhora Jeon e o filho mais velho sentaram à mesa enquanto o senhor Jeon dormia no quarto. Apanharam suas economias todas e foram contar. Faltava pouco para que o pai de família pudesse ser operado. O remédio ajudava com as dores, mas o nervo estava cada vez mais gasto. Se não houvesse a intervenção cirúrgica, ele poderia perder os movimentos de uma das pernas. Era uma necessidade urgente.
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O Lupanar
Romance"Porque eu gostei de como você tem olhos grandes em formato de amêndoas. São diferentes dos que eu vejo todos os dias pelas ruas. Eu gosto do diferente. Ninguém até hoje escreveu um conto com um cara que tinha os mesmos olhos que você."