Capítulo II - Madame Verônica

58 11 0
                                    

Não fora a dúvida lançada pela mãe que o havia convencido de ir até lá.

Não interessava a Jungkook se Deus havia se esquecido deles, mas sim a recuperação plena do pai, antes que fosse tarde demais.

Durante o caminho, tendo como acompanhante o amigo Eunwoo e a grande ajuda do automóvel do senhor Cha, gentilmente cedido no domingo, Jungkook tentou se focar no que iria conseguir e não no que teria que fazer. Orgulho nenhum valia a vida do pai. E embora o rapaz sentisse calafrios quando o carro passou pelo portão do casarão, não ousou, em nenhum momento sequer, pedir que Eunwoo desse meia volta e retornasse ao Brixton.

- Se eu pudesse, e se eu tivesse mais condições, eu te ajudava – Eunwoo murmurou, quando ambos colocaram seus pés na curta escadaria da casa, subindo degrau por degrau de madeira escura.

- Que isso, Eunwoo! Já nos ajudam demais com a caixa de alimentos semanal. Até leite seu pai está doando para nós – murmurou, sentindo os braços se tornarem pesados demais para erguer a mão e bater na porta.

Jungkook estava pálido e não era, definitivamente, pelo frio.

- Sim, mas eu vou arrumar outra forma de te ajudar. Eu posso ceder o meu salário por algum tempo se[...]

O rapaz teve sua fala interrompida pelo abrir da pesada porta de carvalho.

A dupla voltou-se imediatamente a quem havia surgido por detrás da passagem, divisando um homem de cabelos brancos alinhados e um paletó cor grafite.

- O Lupanar ainda não abriu, rapazes. Receio que devam voltar somente após as 20h – avisou, apertando os olhos cinzentos para enxergar melhor os recém-chegados. Deveria estar na casa dos 70 anos.

- Não, senhor! Não viemos como clientes. Precisamos conversar com Madame Verônica, se possível – Eunwoo se adiantou, segurando contra o peito o chapéu que outrora cobria seus cabelos negros.

- A madame? – questionou o velho – Eu não sei não se a madame vai querer receber visita nesse horário – completou, olhando para dentro da casa.

Jungkook pôde enxergar por cima do ombro dele a suntuosa escadaria dupla de madeira coberta pela tapeçaria vermelha.

- Fiquei sabendo que ela está procurando por rapazes para trabalho, senhor. Só podemos vir aos domingos para conversar. Por favor, não feche a porta em nossas caras – Eunwoo continuou a falar. Jungkook parecia aturdido demais para tomar a frente do diálogo.

O velho voltou a abrir a boca quando uma voz feminina se fez presente. No topo da escada, uma mulher trajando um vestido preto de mangas longas e casaco bordô parecia interessada no movimento da porta.

Talvez ela tivesse perguntado quem estava ali, ou chamado pelo nome do homem que atendera a porta. Jungkook não soube precisar. Estava intimamente apavorado, apesar de ser bom em não exteriorizar suas inseguranças.

- Deixe que eu atendo os rapazes, Charles – a mulher voltou a dizer, desta vez, sendo prontamente ouvida pelo filho mais velho dos Jeon.

- Mas madame, eu ia avisá-los que hoje é nossa noite de maior movimento. Para que voltem em outro dia – justificou o idoso.

- Agradeço pela preocupação. Você está certo, Charles. A razão é sua! Porém, sabe como estamos precisando de novos funcionários. Ouvi o rapaz dizer que esse era o único dia em que podiam conversar, sendo assim, abrirei uma exceção – avisou, se aproximando da entrada.

Jungkook pôde então perceber os cabelos negros presos em um coque lateral, onde alguns cachos bem moldados se destacavam conforme a luz os iluminava.

O LupanarOnde histórias criam vida. Descubra agora