Não fora a dúvida lançada pela mãe que o havia convencido de ir até lá.
Não interessava a Jungkook se Deus havia se esquecido deles, mas sim a recuperação plena do pai, antes que fosse tarde demais.
Durante o caminho, tendo como acompanhante o amigo Eunwoo e a grande ajuda do automóvel do senhor Cha, gentilmente cedido no domingo, Jungkook tentou se focar no que iria conseguir e não no que teria que fazer. Orgulho nenhum valia a vida do pai. E embora o rapaz sentisse calafrios quando o carro passou pelo portão do casarão, não ousou, em nenhum momento sequer, pedir que Eunwoo desse meia volta e retornasse ao Brixton.
- Se eu pudesse, e se eu tivesse mais condições, eu te ajudava – Eunwoo murmurou, quando ambos colocaram seus pés na curta escadaria da casa, subindo degrau por degrau de madeira escura.
- Que isso, Eunwoo! Já nos ajudam demais com a caixa de alimentos semanal. Até leite seu pai está doando para nós – murmurou, sentindo os braços se tornarem pesados demais para erguer a mão e bater na porta.
Jungkook estava pálido e não era, definitivamente, pelo frio.
- Sim, mas eu vou arrumar outra forma de te ajudar. Eu posso ceder o meu salário por algum tempo se[...]
O rapaz teve sua fala interrompida pelo abrir da pesada porta de carvalho.
A dupla voltou-se imediatamente a quem havia surgido por detrás da passagem, divisando um homem de cabelos brancos alinhados e um paletó cor grafite.
- O Lupanar ainda não abriu, rapazes. Receio que devam voltar somente após as 20h – avisou, apertando os olhos cinzentos para enxergar melhor os recém-chegados. Deveria estar na casa dos 70 anos.
- Não, senhor! Não viemos como clientes. Precisamos conversar com Madame Verônica, se possível – Eunwoo se adiantou, segurando contra o peito o chapéu que outrora cobria seus cabelos negros.
- A madame? – questionou o velho – Eu não sei não se a madame vai querer receber visita nesse horário – completou, olhando para dentro da casa.
Jungkook pôde enxergar por cima do ombro dele a suntuosa escadaria dupla de madeira coberta pela tapeçaria vermelha.
- Fiquei sabendo que ela está procurando por rapazes para trabalho, senhor. Só podemos vir aos domingos para conversar. Por favor, não feche a porta em nossas caras – Eunwoo continuou a falar. Jungkook parecia aturdido demais para tomar a frente do diálogo.
O velho voltou a abrir a boca quando uma voz feminina se fez presente. No topo da escada, uma mulher trajando um vestido preto de mangas longas e casaco bordô parecia interessada no movimento da porta.
Talvez ela tivesse perguntado quem estava ali, ou chamado pelo nome do homem que atendera a porta. Jungkook não soube precisar. Estava intimamente apavorado, apesar de ser bom em não exteriorizar suas inseguranças.
- Deixe que eu atendo os rapazes, Charles – a mulher voltou a dizer, desta vez, sendo prontamente ouvida pelo filho mais velho dos Jeon.
- Mas madame, eu ia avisá-los que hoje é nossa noite de maior movimento. Para que voltem em outro dia – justificou o idoso.
- Agradeço pela preocupação. Você está certo, Charles. A razão é sua! Porém, sabe como estamos precisando de novos funcionários. Ouvi o rapaz dizer que esse era o único dia em que podiam conversar, sendo assim, abrirei uma exceção – avisou, se aproximando da entrada.
Jungkook pôde então perceber os cabelos negros presos em um coque lateral, onde alguns cachos bem moldados se destacavam conforme a luz os iluminava.
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O Lupanar
Romance"Porque eu gostei de como você tem olhos grandes em formato de amêndoas. São diferentes dos que eu vejo todos os dias pelas ruas. Eu gosto do diferente. Ninguém até hoje escreveu um conto com um cara que tinha os mesmos olhos que você."