- Jerry! – Ramona gritou do buraco, o humor não podendo estar pior. – Jerry, caralho! – Chamou outra vez, escutando uns resmungos ofensivos.
- Que foi, porra... – O loiro saiu do quarto meio amarrotado, os cabelos uma total bagunça e os olhos tão cristalinos que a claridade da manhã os machucava. – O que quer, Mona? – Indagou, a voz pastosa e arrastada, não percebendo que usara do apelido dela.
- Os caras da reforma estarão aqui daqui a pouco. – A jovem informou, sorrindo com o que ele fizera. Achou fofo o jeito como soava seu apelido na boca dele, tão natural e certo. – Se troca aí, que quando eles chegarem vamos sair pra comer. – Avisou, antes de desaparecer pelo rombo.
Cantrell revirou os olhos enquanto voltava ao próprio quarto. Aquela mulher ainda o deixaria louco. Desabou sobre o colchão, desejando poder ficar o dia inteiro deitado, dormindo e sonhando com Baby Jenks, mesmo que em algum momento do sonho, o rosto da dançarina tivesse sido substituído pelo da ruiva, o que o assustou. Realmente estava ficando biruta, confundindo as coisas. Ramona era Ramona e Baby Jenks... O que era Baby Jenks? Uma idealização da femme fatale? Um personagem que o impactou pela originalidade e despeito. Mas era só isso... uma ideia. Provavelmente, a pessoa por baixo da máscara era igual a todo mundo, com uma vida comum, fazendo coisas comuns. Bufou, levantando outra vez e indo se aprontar, ou Ramona arrombaria sua porta e o trocava ela mesma. Não duvidava que pudesse fazer isso. Riu do pensamento, reparando no imenso contato que tinham, muito mais que com os companheiros de banda. Se a mulher não estivesse trabalhando ou ocupada com a própria rotina, certamente estariam juntos, conversando ou o que quer que fosse. Sentia que havia uma vida antes e depois dela e não reclamando disso. Ponderava sobre enquanto terminava de arrumar-se, ouvindo batidas na porta e reconhecendo de quem eram.
- Entra logo! – Gritou do banheiro, já sentindo o perfume familiar preencher o ambiente. – Tô quase pronto. – Informou, colocando a cabeça no corredor e sorrindo com a boca cheia de creme dental.
- Tranquilo. – Mona retribuiu o sorriso, jogando-se no sofá da sala. Pegou o controle da TV e a ligou, passeando pelos canais sem prestar muita atenção. Parou apenas quando viu a cara de Cantrell, jogando os cabelos para lá e para cá conforme tocava sua guitarra. Aumentou o volume, abrindo ainda mais o sorriso. – Cara! Essa música é foda! – Elogiou, cantarolando junto a voz de Layne.
- Gosta dela? – Fulton apareceu no cômodo, passando o olhar da mulher para o televisor.
- Essa aí me pega demais! – A ruiva comentou, sincera. – Pena que cortaram metade pra passar na MTV.
- Ossos do ofício. – Ele deu de ombros. – Pelo menos conseguiram editar bem. – Ponderou, a vendo concordar.
- Agora... – Ramona começou. – Puta que pariu! Tá pra nascer outra banda onde todos são uns gostosos! – Enfatizou a última parte, fazendo Jerry rir alto. – É sério! Olha isso! – Apontou para o aparelho, a expressão de indignação cravada na face. – É o sinônimo de tanto faz. – Afundou no estofado, balançando a cabeça como que em negação. – Deus tem seus preferidos. – Concluiu, arrancando uma nova onda de risadas no amigo.
- Então sinta-se honrada em ser próxima. – Cantrell soou arrogante, enquanto sentava ao lado da garota e descansava a têmpora no ombro dela. Fechou os olhos, aspirando o cheiro fresco de colônia, creme hidratante e cigarros, quase o fazendo adormecer de novo.
- Esses arrombados estão atrasados. – Ela se queixou dos empreiteiros, também deixando as pálpebras selarem. Inalou o aroma de sabonete, tabaco e amaciante do músico, sentindo certa paz.
Não saberiam dizer quando tempo permanecerem daquele jeito, apenas que acabaram por dar vazão ao cansaço remanescente da noite anterior, resultando num cochilo agradável, onde lá pelas tantas, trocaram as posições e se aconchegaram um no outro, meio embolados e retorcidos. O barulho da televisão embalando-os como uma canção de ninar. Fora somente com as investidas na porta e alguns gritos insistentes, que o casal despertara. Ramona enrolada na cintura do guitarrista, que a abraçava de lado, um pé apoiado no chão e o outro enroscado nas pernas dela. A cabeleira de Jerry ocultava metade do rosto, a cabeça apoiada no braço do sofá. Era uma visão peculiar, porém, parecendo tão deles que ninguém ousaria contestar.
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Something's Gotta Turn Out Right
ФанфикJerry se sentia azarado. Nada estava dando certo em sua vida e pelo jeito, a maré não mudaria tão cedo. Era o que pensava até conhecer Ramona, a vizinha do apartamento de cima. Será que a convivência com ela faria as coisa darem finalmente certo?