- Puta que pariu. – Foi tudo o que Ramona conseguiu proferir, enquanto encarava o enorme rombo no teto de Jerry, que também era seu chão da sala. Era. No passado. Não havia quase nada mais ali, apenas um vazio sobre as cabeças da dupla, do zelador e dos empreiteiros.
- O que aconteceu?! – Cantrell estava incrédulo, uma carranca estampando o rosto outrora gentil.
- Então... – Um dos pedreiros começou, sem jeito. – Estávamos quebrando um pouco mais o buraco, como era de praxe. Só que no meio do processo uma rachadura começou a aparecer e do nada várias outras e daí... – Apontou para cima, dando de ombros.
- Cara, quase que todo mundo se ferra. – Outro funcionário comentou, a roupa cheia de entulho. – A sorte foi que afastamos as coisas do outro apartamento, ou os móveis teriam caído na gente. – Arregalou os olhos, assustado.
- Meu Deus... – Jerry soltou, exasperado. Não era possível tanto azar. Quando pensou estar melhor, outra merda ocorrera.
- E agora? Como eu fico? – Mona indagou, perdida.
- Sinto muito minha querida. Terá de achar algum lugar por enquanto. Na verdade, vocês dois. – O zelador informou, compadecido da dupla.
- E só fica pior. – Fulton resmungou, a irritação fervendo nas veias. – Sabe que é quase impossível encontrar um apartamento nesta cidade! – Vociferou, não contendo-se mais.
- Se acalme, meu rapaz. – Sr. Simons pediu, apaziguador. – O apartamento ao lado vagou. Está a disposição de vocês, se quiserem. Sem custo nenhum. – Propôs, esperando paciente pela resposta.
- O que você acha? – A ruiva consultou o vizinho, interessada na opinião dele.
- Bem... Por mim tá tudo certo. – Cantrell realmente não se importava. Já estavam na merda mesmo. – E para você?
- Para mim? – Ramona sorriu atrevida, fitando-o por longos segundos. – Para mim está perfeito. – Proferiu cada palavra com esmero, deixando nítida todas as intenções na frase.
- Já podemos mudar? – Fulton questionou o zelador, ignorando os arrepios que inundavam o corpo. A mente rondava o beijo de pouco antes, as sensações que provocara. De repente, o buraco no teto não pareceu grande coisa, somente um detalhe, um pequeno percalço.
- Podem sim. – Sr. Simons afirmou, contendo uma risadinha. – Me deixe abrir para vocês. – Sorriu amável, já saindo para o corredor e guiando o casal. Sem demora e estavam dentro do apartamento, idêntico aos demais e até com alguns móveis. – Prontinho. – Continuou sorrindo, enquanto a dupla examinava o ambiente em curiosidade.
- Tá ótimo. – Mona comentou, passando os dedos pelo balcão empoeirado. – É só dar uma organizada.
- Tenho os produtos lá em casa. – Jerry informou, abrindo uma janela e deixando o ar circular. – Rapidinho a gente termina. – Apontou o redor, recebendo um aceno concordante da amiga.
- Muito que bem. – O zelador disse, satisfeito. – Os empreiteiros ficarão algumas horas ainda arrumando o rombo. Penso que é o tempo da limpeza. – Ponderou, consultando o relógio de pulso. – Quando terminarem, pedirei que os ajudem com os móveis e o que precisarem do apartamento de cima. – Concluiu, querendo que tudo se ajeitasse da melhor maneira.
- Agradecemos a ajuda, Sr. Simons. – A ruiva parou frente ao velho, o abraçando de leve. – Nada de buracos aqui. Prometemos. – Acabou por brincar, fazendo-o rir sincero.
- É melhor ir ver como estão as coisas. – Sr. Simons ainda ria, se despedindo dos inquilinos. – Qualquer problema me chamem, ok?
- Pode deixar. – Cantrell assentiu, o observando se distanciar.
- E aí, bonitão? – Ramona começou, indo até a janela e acedendo um cigarro. – Terá de passar mais tempo comigo. Será que consegue? – Provocou, lançando uma nuvem de fumaça para o nada e contemplando a paisagem.
- Como se eu já não estivesse. – O músico revirou os olhos, se juntando a mulher. – Jogarei a pergunta para você, Mona. – Rebateu, roubando o vício dela e o usufruindo. – Vai aguentar minha presença? Com todo o som de guitarras e essas coisas?
- Um sacrifício que farei. – Ela respondeu, zombeteira. – Sabe, nem percebeu que está me chamando pelo apelido. – Apontou, sorrindo com a expressão do outro.
- É verdade. – Fulton só ali deu-se conta do ato. – Te incomoda? – Teve de questionar, não querendo ser invasivo.
- Nenhum pouco. – A jovem o tranquilizou. – Até gosto. – Confidenciou, não sabendo exatamente a razão. – É legal quanto diz, meio fofinho. – Deu de ombros, se forçando a calar a boca.
- E ela tem uma lado meigo, senhoras e senhores! – Jerry provocou, rindo em seguida.
- Me pegou. – A ruiva sorriu de lado, não importando-se em negar.
- Não. Você me pegou. – O guitarrista tinha uma das sobrancelhas erguida, pedras azuis mirando atentas a figura de Ramona. – Por que me beijou? – Soltou a indagação, realmente interessado.
- Pra te ajudar? – Mona tentou se desvencilhar, ciente do fracasso.
- De novo. – Fulton gesticulou com as mãos, sorrindo matreiro.
- Sei lá, ok? Só me deixei levar pelo momento. – A mulher cedeu, ainda assistindo a movimentação do lado de fora. – Vi você desconfortável e quis ajudar. O beijo foi resultado disso. – Explicou, e não era total mentira. – Só que não contava que fosse bom na coisa. Daí só aproveitei. Não sou rogada, como já percebeu. – Deu de ombros outra vez, acendendo mais um cigarro.
- Então me achou bom. – Cantrell apegou-se naquela parte, especificamente. – Melhor que o Sean? – Não conseguiu segurar a língua, quase morrendo por dentro.
- Ah! Agora eu saquei tudo! – Ramona riu com vontade, antes de se ajeitar e chegar muito perto do colega. – Ficou incomodado, Jerry? Pensei que sua mente estava toda na Baby Jenks. – Fez-se de desentendida, os orbes escuros brilhando com falsa inocência.
- Bem... – O loiro iniciou uma resposta, porém, nada vinha.
- Foi o que pensei. – Mona sorriu vitoriosa, dando uns tapinhas na bochecha magra. – Escute, bobão. Nós nos beijamos e foi ótimo. – Expôs os fatos. – Beijei o Sean e foi ótimo também. – Continuou, reparando numa pequena careta do vizinho, que logo se recuperou. – Não sei o motivo dessa neura.
- Não é nenhuma neura. – Fulton se defendeu, adotando uma postura tensa.
- Não mesmo? – A ruiva insistia, querendo ver até onde aquilo poderia ir. – Então por que tocou no nome do Sean? – Acusou, encostando no corpo alto e esguio.
- E isso importa? – O músico retrucou. - Por que tocou no nome da Baby Jenks?
- Baby Jenks... – Mona repetiu, misteriosa. – Bateu outra pra ela no banheiro do clube. – Debochou, deslizando os dedos pelo cós da calça do loiro.
- O que está fazendo? – Cantrell prendeu a respiração, sentindo as investidas passarem para sua pele sob a camiseta, um roçar suave e que causava formigamento. Franziu o cenho, tentando conter os instintos que gritavam. – Mona... - Chamou-a, e foi quase como um aviso.
- Jer... – Ela proferiu, perigosa. Subiu o rosto, encarando o oceano tempestuoso e vendo ali tudo o que precisava. Sorriu, antes de afastar-se e voltar ao comportamento habitual. – Vamos pegar os produtos? – Esticou ainda mais o sorriso ladino, virando as costas e rumando até o corredor.
Jerry nada respondeu, ainda recuperando os eixos. Sacudiu a cabeça, buscando uma linha de raciocínio ao qual se apegar. Só então bufou derrotado, rindo contido pela cena anterior e entendendo que fora apenas Ramona sendo Ramona.
Ramona sendo a porra da Ramona.
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Something's Gotta Turn Out Right
FanficJerry se sentia azarado. Nada estava dando certo em sua vida e pelo jeito, a maré não mudaria tão cedo. Era o que pensava até conhecer Ramona, a vizinha do apartamento de cima. Será que a convivência com ela faria as coisa darem finalmente certo?