Baby Ramona Jenks.

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Sean parou frente a porta branca e simples. A noite caía serena sobre a cidade, as nuvens formando a cortina costumeira e tapando as estrelas que deveriam estar brilhando esplendorosas para outros sortudos espectadores. Tocou a campainha com uma calma ensaiada, já que internamente queria socar um certo alguém, sendo mais específico, um loiro alto e de cabelos longos, meio magrelão e mesmo assim, boa-pinta. Tapado, lerdo e turrão também poderiam o descrever bem, porém, inseguro, ciumento e rancoroso eram as palavras do momento. Não teve de esperar muito e logo fora recepcionado pela empresária, que sorriu afável, dando passagem para entrar.

- Ele tá no quarto de hóspedes. - A morena apontou o andar de cima, prática como sempre fora.

- Valeu, Susan. - O baterista sorriu sincero, enquanto refazia o rabo-de-cavalo. - Vim assim que escutei seu recado. - Informou, a vendo assentir atenta.

- Jerry apareceu aqui ontem, perguntando se poderia passar a noite. - Começou a contar o causo, encostando na parede próxima. - Falei que sim, é claro, e o mandei subir e se acomodar. Ele não quis comer nada, somente tomar algumas xícaras de café e fumar o restante do maço de cigarros. - Seu olhar transmitia preocupação, como uma irmã ou mãe. - Não sei o que aconteceu ou está acontecendo, também não perguntei. Tentei dar espaço e daí hoje liguei para você. - Concluiu a explicação, esperançosa em compreender toda aquela história.

- Nosso amigo tá apaixonado e mais perdido que cego em tiroteio. - Kinney disse sem rodeios, cansado de toda aquela epopeia. - O teto do apartamento dele desabou e como consequência conheceu a vizinha adoravelmente maluca e gostosa, tendo que conviver com ela e gostando. - Resumiu os fatos.

- Que o teto dele caiu, todo mundo meio que sabe. - Susan deu de ombros. - Agora, a parte da vizinha gostosa e louca ficou de fora. - Sorriu divertida, ansiosa por mais.

- A Ramona, esse é o nome dela, foi uma surpresa na vida do Jer, meio que o sendo uma companhia boa pra ele, o obrigando a sair da bolha melancólica que estava enfiado. - Continuou a fofoca, sempre espiando para ver se o tópico do assunto apareceria. - Penso que no começo era uma amizade sob as forças das circunstâncias, mas depois... Conforme conviviam a proximidade aumentou e quando tiveram que dividir a mesma casa, tudo tomou outro nível. - Inclinou-se para frente, cauteloso em ser pego. - Sempre rolou flertes e provocações de ambas as partes, meio que uma brincadeira deles, sei lá. Numa noite fomos a uns dos lugares onde Ramona trabalha e acabamos por nos beijar, o que deixou ele incomodado. - Sorriu ladino, fazendo a amiga revirar os olhos antes de rir baixo. - Adianto que não foi nada além de uma brincadeira. Até porque já sabia que o Jerry estava nutrindo sentimentos pela Mona e que era lerdo demais pra tomar uma atitude. Só movimentei o jogo. - Foi a vez dele de dar de ombros, como se as ações tomadas tivessem justificativas incorrigíveis.

- Isso elucida muita coisa, só não o motivo do Jerry se esconder aqui, especificamente ontem. - A mulher estreitou o olhar, exigindo o restante das peças daquele quebra-cabeça.

- Fiz minha festa de aniversário ontem, aquela que você não foi. - Sean teve de cutucar, mesmo que a empresária tivesse dado suas razões. - Meio que tentei adiantar as coisas de novo e peguei Ramona para conversar. - Interrompeu o assunto, pois ouvira barulhos suspeitos. Checou as escadas e certificou-se que Cantrell não desceria naquele momento, antes de prosseguir. - Expus a verdade sobre os sentimentos do Jer e os dela. Falei sobre o incêndio no casarão e como aquilo o mudou, como afetou o que ele era. - Todos os mais próximos assistiram a transformação do rapaz, dando o suporte necessário. - Também disse que ela o ajudou a sair da concha, que a convivência deles foi benéfica. E que com a proximidade diária os sentimentos brotaram. - Viu Susan sorrir, o brilho no olhar dela dizendo muito. - Ramona até desconversou, mas acabou admitindo que gostava do loiro e que iria resolver as coisas. - Retribuiu o sorriso, antes de deixá-lo morrer. - Ela me abraçou como forma de agradecimento e foi nesse instante que o tapado apareceu. - Estampou uma careta, desgostoso. - Tirou conclusões precipitadas, virou as costas e foi embora. - Deixou sua mentirinha de fora, não era importante. - Ramona foi atrás dele e também não voltou mais. Pensei que tinham se resolvido, até que você me ligou e informou que ele estava aqui. - Deu de ombros outra vez, colocando as mãos no bolso e esperando comentários.

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