- Desembuche. – Ramona exigiu, enquanto entregava uma caneca fumegante e remédios ao vizinho, o observando com atenção demasiada, mesmo na semiescuridão da residência.
- Não vale a pena. – Jerry deu de ombros, tomando um cuidadoso gole de chá e quase gemendo com a sensação boa que o ato trouxe.
- Vale sim, vale muito. –A ruiva retrucou, ainda fitando o rapaz, preocupada. – Como acabou preso no seu apartamento? – Teve de perguntar, curiosa.
- Bem... – Cantrell começou, ciente que seria mais fácil desistir e abrir o bico. Acomodou-se melhor no encosto do sofá, uma careta de dor estampando a face. Tomou os comprimidos de uma vez, torcendo para que fizessem efeito logo. Suspirou contido, engolindo mais um pouco de chá antes de prosseguir. - Resumidamente, procurei por algumas velas e pela lanterna, percebi que não estavam aqui, lembrei que não as trouxe do outro apartamento e fui buscar. - Deu de ombros, como se aquilo não fosse nada demais, realmente não sendo. - Encontrei o que precisava, me virei para ir embora e do nada a porta que eu tinha deixado aberta, fechou, bateu com tudo, me trancando. - Concluiu, sintetizando com eficiência os fatos.
- Deve ter tomado um susto do caralho. - Mona comentou, segurando uma leve risada, ciente que não era o momento. - Imagine tudo escuro, trovões altíssimos e ainda a porra da porta batendo de repente. - Arregalou os olhos, construindo o cenário na mente e se arrepiando. - Teria me esgoelado por ajuda.
- Seria mais esperto do que eu fiz. - Fulton permitiu-se sorrir divertido, recebendo o mesmo gesto da vizinha.
- Não te julgo por tentar sair. - A ruiva o confortou, sincera. - Situações desesperadas, requerem medidas desesperadas. - Piscou cúmplice, o observando relaxar um pouco mais. - Mas tentar se apoiar num buraco pronto em ceder, não foi a coisa mais inteligente. - Teve de alfinetar, a língua coçando de maneira quase insuportável.
- Acha que não sei disso? - O guitarrista franziu o cenho, desgostoso.
- Ok, me desculpe. - Ramona pediu, querendo acabar com aquela conversa. Não era importante o que ele fez, bem, mais ou menos, pois ainda tinham de ver os estragos da queda, entretanto, deixaria que o vizinho terminasse o chá e esperaria os analgésicos agirem.
Nunca cogitaria o rumo que a noite tomara. Quando desceu do carro de Mary, a única coisa que conseguia pensar era em encontrar o loiro alto e tudo o que fariam no meio da noite chuvosa e sem energia. As roupas estavam um tanto quanto úmidas, resultado da corrida até a marquise do prédio, meros metros que bastaram para lhe atingir em cheio. Subira a escada guiada pelas luzes de emergência, parando no andar ao qual pertencia e estancando por alguns longos segundos, a expectativa crescente colando o estômago nas costas, pinicando a gengiva, provocando o baixo ventre e aquecendo o coração. Riu silenciosa, achando graça das sensações e conflitos internos que a paixão trazia. Pé ante pé retomou caminho, passando inocente pela porta da antiga moradia de Cantrell, já tirando o molho de chaves da bolsa e mirando com certa dificuldade a fechadura da casa ao lado, que por hora pertencia à dupla. Não chegou a concluir tal ação, gritos masculinos chamando por seu nome irrompendo do mais absoluto nada e quase fazendo-a soltar um palavrão, antes de reconhecer a voz desesperada. Prestou atenção para descobrir de onde o som vinha e basicamente deslizando para a esquerda, para então bater algumas vezes no pedaço de madeira compensada, recebendo uma resposta mais ativa e clara. Depois disso as coisas passaram numa velocidade ímpar e quando percebeu, colocava a chaleira no fogo e procurava a cartela de paracetamol perdida entre as gavetas da cozinha.
- Como conseguiu abrir? – Jerry questionou, fazendo Mona retornar dos devaneios e lhe dar atenção outra vez.
- O que disse? – Ela respondeu com outra pergunta, ignorando a sensação ruim das roupas geladas e sorrindo afável.
![](https://img.wattpad.com/cover/337668490-288-k227937.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Something's Gotta Turn Out Right
FanficJerry se sentia azarado. Nada estava dando certo em sua vida e pelo jeito, a maré não mudaria tão cedo. Era o que pensava até conhecer Ramona, a vizinha do apartamento de cima. Será que a convivência com ela faria as coisa darem finalmente certo?