Restaurante: Que Pecado

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Na maioria das vezes em que fechávamos a loja, como Samuel era muito amigo do Mário, ele sempre ficava responsável por isso: fechar os portões. O Mário sempre era o primeiro a sair por ser o gerente, é claro, sempre arrumava uma desculpa para ir embora e sumir dali. Ora dizia que estava com dor de cabeça porque tinha acordado muito cedo, ora dizia que precisava urgentemente resolver algo que só dava para acontecer se fosse naquele momento, entretanto ninguém falava nada, né? Uma vez que ele era mais dono do Restaurante do que o próprio pai, que mal pisava no local. Tinha até os momentos em que ele aparecia na loja, né? Mas nem entrava. Esperava lá fora, no carro, até que Mayra, sua filha terminasse o expediente e metia o pé com ela...

Mas neste dia o Samuel só tinha trabalhado meio expediente e o Mário já tinha falado que a chave iria ficar comigo já que era sempre a Marina e eu para limpar tudo antes da saída e também, por algum motivo ele confiava em mim para fazer isso. Ele disse baixinho para mim que a Jaddy não estava se sentindo muito bem, arrumando mais uma desculpa para sair antes de todo mundo, o que não pareceu mentira, mas nem dava para dar um voto de confiança já que sempre havia um motivo.

A Marina conversava por ligação em seu celular bem pertinho de mim, que lavava a louça, por isso, inevitavelmente pude ouvir enquanto ela respondia desapontada:

- ...mas de novo? - Ela perguntou com uma entonação de quem está abatido. - Não vai chegar carregado outra vez, né, Andrés? Sei. Sempre há algo para comemorar, né? ... Não... Sim, estou quase largando ... Eu sei, mas não posso ficar gastando dinheiro assim...

Foi quando a Mayra apareceu, entrando pela porta da cozinha nos fundos e me disse que nos ajudaria com o fechamento até que seu pai viesse buscá-la. Ela sempre fazia isso e eu amava, já que com ela nunca houve frescura ou mesquinhez, então foi direto ao salão afim de começar pelos banheiros.

- ...certo. - Continuou Marina com a conversa pelo telefone. - Vou precisar desligar. Quando chegar conversamos ... Também te amo ... Outro...

Ela sentou por uns 6 segundos em um banco e eu fingi não observa-la enquanto fazia isso, mas logo se levantou, espremeu o esfregão que já estava usando antes mesmo de falar com o esposo na ligação e então murmurou em voz alta:

- O Mário me irrita às vezes, sabe? - Foi o que me perguntou em um cochicho bufante ao passar àquele esfregão macio pelo liso chão da cozinha próximo à mim.

- Nem me fale - Respondi enquanto lavava os pratos com o jato quente da pia e já quase acabando toda a louça. - Mas, por curiosidade ... - Perguntei já limpando meus punhos com um pano de prato. - O que ele fez desta...

- E você ainda pergunta? - Ela franzia a testa revoltada. - A questão certa é "o que ele não fez, né?" - Ela encostou o esfregão e limpou o suor da testa com uma flanela que sempre ficava em seu avental de limpeza.

- Não entendi... - Respondi dando um pouco mais de atenção à situação.

- Ele não faz nada! - Ela pareceu levantar um pouco o tom. - E às vezes fica chegando muito perto de mim sem motivo ou intimidade alguma. Por quê? - Ela parecia saber do que estava falando enquanto me olhava com seus olhos escuros e isso me deixou meio surpreso. - Ele pensa que não sei. - Continuou, só que agora meio triste. - Eles pensam que eu não sei...

- Eles? - Senti seu incômodo e perguntei curioso ao me aproximar de leve, logo abaixei o volume do meu tom. - Do que você está falando, Marina? Quem são eles?

Uma buzina escandalosa gritou no exato momento em que a pupila da Marina dilatou esboçando uma expressão lúcida de quem estava caindo na real e no mesmo instante nós dois nos afastamos, fingindo nunca ter parado de fazer nossos deveres ao notar que a Mayra estava saindo do mini-corredor que levava aos banheiro. Ela tirou um par de luvas descartáveis da mão e jogou no lixo que ficava próximo a pia do salão no mesmo instante em que já começou a lavar os próprios punhos.

Breno: Sexo é ArteOnde histórias criam vida. Descubra agora