Restaurante: A Fuga

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O Samuel sempre foi um cara esforçado. Eu lembro que desde 2008 ele trabalhava com o carro de mão nos mercados mais movimentados das redondezas, mas ele era garçom naquele ano. Trabalhava para o negócio de família do Mário, que é o meio irmão da Mayra que sim, é a mesma Mayra da sopa no "Acampamento".

Quando recebeu minha ligação, o Samuel disse que tinha acabado de sair para tirar o horário de almoço, o que fez eu me sentir sortudo uma vez que ao mesmo tempo eu estava na frente da casa do Lucas após ter sido expulso de lá pelo mesmo que depois de ter se assumido para mim teria surtado e gritado comigo outra vez.

- Você consegue fazer isso por mim, Samuel? - Pergunto um tanto cabisbaixo.

- Claro mano! Tô indo agora mesmo até aí. - Ele me responde com honestidade.

- Grato demais, irmão. - Agradeço ainda triste.

Eu estava tão feliz há poucas horas quando fui visitar a Stella na casa do Lucas e agora estava voltando tão destruído como nunca por talvez ter criado uma memória tão traumática para o meu "talvez ainda" melhor amigo.

- Chega aí. - Disse Samuel ao descer da moto, puxar um beck do bolso e pendurar o capacete no retrovisor da moto.

- Você sempre resolve as coisas fumando maconha? - Eu pergunto e já o sigo enquanto espero uma resposta plausível.

- Sim. - Ele responde rápido mas não era a resposta que eu esperava.

- Sério?? - Fico surpreso.

- Quer dizer... - Ele pensa por uns segundos. - Sim, sim. Na verdade sim.

Samuel acendeu o Beck enquanto eu estava analisando cada detalhe daquela paisagem rural. No meio do caminho eu até estranhei o tamanho da subida que estávamos indo e não parecia ser tão movimentado assim.

- Você é uma onda, Samuel. - Digo me sentando em uma árvore na qual ele tinha se acomodado.

- Na verdade eu estou na onda. - Ele me entrega o Beck ao usar um tom cômico.

- Você acha que eu fiz algo muito errado? - Perguntei depois de já ter explicado a situação para ele no meio do caminho.

- Não, Índio... Você não forçou ninguém a nada ou sequer criou algum tipo de compromisso com o Lucas, então acho que você não devia se culpar em algum momento.

A gente fica calado por um tempinho só observando a paisagem e curtindo a brisa da ventania que por ali passava já que o local era tão alto.

- Não sei que horas são, mas eu disse para a minha mãe que eu não iria demorar hoje. - Falo já procurando e abrindo o meu celular e percebo que daqui a pouco vai ficar um pouco tarde para quem passou a noite fora.

- Sabe, Índio... - Ele pareceu ignorar completamente meu assunto. - Eu sinto por esse stress que tá na cara que tu esta passando. Eu acho que você devia buscar uma... Fuga. Sabe? Algo que te mantenha ocupado

Eu entrego o Beck para ele enquanto penso por um longo tempo.

- Mas o que você acha que me ajudaria? - Pergunto apreensivo.

O celular do Samuel notificou um SMS que indicava alguma informação do seu trabalho. Ele observa e revira os olhos.

- Tá tudo bem? - Pergunto percebendo que ele se incomodou.

- Tá sim... É que a garota nova acabou de jogar as coisas para o ar lá no restaurante e pediu as contas. - Ele puxou rápido alguns tragos e me entregou o Beck ligeiro.

- Poxa. E ela fez isso do nada? - Eu pergunto como quem queria saber mais da situação.

- Ela não aguentou a pressão e eu já cansei do tanto de novatos que passaram por aquele restaurante esse semestre e se arrependeram. E agora sabe quem vai se foder porque vai ter que voltar bem mais cedo do almoço?

Breno: Sexo é ArteOnde histórias criam vida. Descubra agora