Julie e Daniel

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Não consegui dormir direito, eu tinha feito uma grande bobagem, tinha magoado Daniel mesmo sem intenção.
Era sábado e não iria para a faculdade, levantei cedo e saí antes que ele acordasse. Caminhei pelas ruas daquele bairro desconhecido, todas aquelas casas imponentes pareciam me vigiar, tentavam me amedrontar. Sussurravam: Vá embora daqui.
Senti vontade de chorar ali mesmo no meio da rua, mordi a língua o mais forte que consegui tentando conter as lágrimas. Eu precisava ser forte por mim e por Sophia, eu não queria deixá-la como Georgia fez.
E também não queria deixar Daniel, não queria que ele sentisse dor, nunca mais.
Meu celular vibrou, era Penélope que ligava pra mim.
- Alô -foi a única palavra que meu cérebro raciocinou.
-Que alô o que, você pensa que sou uma garota de telemarketing? Vai me cumprimentar direito -gritou, a gravidez estava a deixando ainda mais sensível.
-Bom dia Penélope, como você está?
-Melhorou, eu estou bem, estava pensando na gente se encontrar, o que acha? – eu não estava com a mínima vontade de ver alguém.
-Acho que vou passar, não estou me sentindo bem.
- Vai passar nada, você sabe o quanto eu e o Daniel trabalhamos ontem para eu poder tirar folga? -mais uma vez gritou, distanciei o celular para não ficar surda.
-Onde você quer me encontrar?
-No lugar de sempre, daqui a meia hora -soltou um risinho leve e desligou antes que eu pudesse falar algo.
Apenas saí da tela de chamada e entrei no aplicativo para chamar um carro.
O lugar de sempre era a primeira padaria que fomos quando chegamos em Nova York, era ficava perto do centro de compras e estava sempre movimentada.
Fazia um mês que não via Penélope, estive tão ocupada com a faculdade que deixei de ir ao escritório e quase pulei de alegria quando a encontrei no meio dos clientes.
Sua barriga já estava denunciando a gravidez e ela não tinha vergonha alguma daquilo, estava vestindo uma blusa que mostrasse bem sua barriga como se estivesse orgulhosa.
E deveria, ela estava doando uma parte de si para outro ser.
-Eu tava com saudades- abraçou-me apertado, tomei cuidado para não machucar sua barriga.
-Eu também estava, você está cada vez mais bonita -falei segurando em sua cintura como se quisesse espiar o bebê -Está nervosa para saber o sexo?
-Estou, o Jimmy fala que não tem importância, mas eu sei que ele quer uma menina, eu vi roupinhas rosas nas coisas dele -comentou me surpreendendo - Mês que vem vamos no médico saber o que está escondido aqui -fez carinho na barriga, ela não parecia nada com aquela Penélope centrada do escritório, parecia a Penélope garota que sonhava em ser modelo.
Nos sentamos em uma das mesas e continuamos a conversar enquanto esperávamos uma nossos pedidos.
-Mas você não está com a melhor das caras – comentou pegando uma das xícaras de chocolate quente duplo -O casamento não está indo como imaginou?
Eu não sabia o que falar, eu queria abrir meu coração mesmo que eu começasse a chorar.
-Eu fiz algo que magoou Daniel -respondi provando uma das bolachas confeitadas.
-Derramou café no Armani dele? -brincou me deixando mais impaciente.
-Eu conheci um cara na faculdade, o nome dele é Noah, um dia que o Daniel me levou para a aula descobri que eles eram amigos antes da Georgia morrer -falei devagar -De início o Daniel não se importou que eu estivesse falando com o ele, mas ficou realmente bravo quando o Noah me pediu que eu entregasse algumas coisas da Georgia para Sophia -tentei explicar o mais fácil possível, Penélope prestou atenção atenta.
Parou de mexer o chocolate e me lançou um sorriso falso.
-Julie querida, vem cá -fez sinal que eu aproximasse o rosto -Você quer que eu bata em qual lado da tua cara? -berrou enquanto levantava a mão para mim.
-Penélope -choraminguei, ela não tinha direito de brigar comigo.
-Julie, eu sei que você é tapada, desastrada e que demora pra entender as situações, mas como caralhos você não pensou um pouquinho antes de fazer isso? -batia a ponta dos dedos em minha testa -Sua cabeça oca.
-Eu sei, eu sei que não devia ter feito isso, só que o Daniel trata a morte da Georgia como um tabu, ele se recusa a conversar com a Sophia sobre ela, se fecha ao ponto de não ver o quanto aquilo machuca a filha -argumentei em minha defesa -Eu só aceitei a ajuda do Noah por causa da Sophia.
-Tá, eu só te aviso uma coisa, se você realmente gosta do Daniel esqueça esse tal de Noah, porque se ele fosse um cara legal não teria te entregado essas coisas, ele sabia que faria vocês brigarem -balancei a cabeça de acordo, ela então voltou sua atenção para o lanche.
Penélope tinha um bom argumento, mas eu não conseguia pensar que ele tivesse feito aquilo com segundas intenções, ele queria ajudar Sophia e era nisso que eu acreditava.
-Vamos dar um passeio? Se eu continuar aqui vou engordar uns três quilos -Penélope perguntou depois de um tempo.
Estávamos agora em uma lojinha de brinquedos e presentes, Penélope procurava ursinhos para decorar o quarto do bebê e eu estava a ajudando a decidir.
-Olha que amor, vou te dar de presente -mostrei para ela um mobile musical que tinha vários bichinhos diferentes.
-Ele vai se sentir na África -ela estava mastigando algo novamente- O pai dele comprou um conjunto de cama no tema safari, vai combinar.
Concordei com a cabeça e coloquei no carrinho. Passeamos mais um tempo pelos corredores, todos aqueles brinquedos, dava vontade de voltar a ser criança.
Chegamos no caixa, enquanto Penélope era atendida eu voltei minha atenção para alguns chaveiros em uma caixinha. Tinham várias formas e cores, um mais lindo do que o outro.
Encontrei lá no fundo o chaveiro mais lindo, era um pequeno coelho segurando uma cenoura e no topo de sua cabeça havia uma flor.
Peguei-o com cuidado, aquilo me fazia lembrar Daniel e todas as formas dele me chamar de coelha, de início eu não entendia, até mesmo fiquei brava com um apelido tão sem sentido, contudo agora eu amo ser uma coelha.

~Quem mais quer um chaveiro de coelho? 🙋
Próxima atualização: sexta
Beijo, amo vocês 😘