HERUS
Já estou mais habituado com essas situações da faculdade e essa maldita Irmandade! Vou apenas seguir o fluxo e fazer esse ano render algo bom. Um passo de cada vez é manter o controle das coisas.
— Pensando demais, querido? — Penélope é fofa às vezes, mas... — Você pode me levar até o shopping? Eu encomendei uma bolsa nova da Gucci e já chegou! — Ela é fútil e mimada a maior parte do tempo.
— Por que não? Ah, os meninos da minha turma vão sair hoje para beber — Resolvi passar na casa dela, porque não estou a fim de cruzar com meu pai hoje e porque a gente não se via há duas semanas.
— Só não me faça ir a algum desses lugares decadentes que os seus colegas de faculdade gostam — Ela borrifa o fixador de maquiagem e depois fica me olhando pelo espelho.
— Eles querem ir a um Pub novo no Centro — Digo enquanto pego no celular para fugir do seu olhar.
— E os seus outros amigos? — Ela levanta e vai até o armário pegar os sapatos.
— Estão viajando e só chegam para as aulas.
— Bem que você poderia me levar até a casa de praia de vocês neste domingo... — Lá vem ela me fazendo biquinho e me pedindo coisas.
— Minha mãe está fazendo uma reforma na cozinha — Uma mentira, na verdade mais uma. Eu sempre minto sobre a casa de praia quando ela me pede para conhecer. É o meu espaço mais sagrado de todos e não sinto confiança em abrir ele para a Penélope, mesmo namorando há uns cinco meses.
— Está bem — Não, não está! Eu nem sei o porquê de manter esse relacionamento. Ela finge mais do que eu. Mal nos tocamos e só fico passivo, ouvindo os caprichos de uma garota mimada a maior parte do tempo.
— Você quer almoçar no shopping? — Pergunto, já que vou levar ela.
— Almoçar no shopping? Que coisa cafona, Herus! — Quando ela diz carona ou qualquer adjetivo que diminui um lugar ou pessoa, se refere a "coisa de pobre", ela mesmo me contou um dia.
— Tudo bem — Dou um sorriso falso. — Quer saber, eu acho melhor a gente...
— Me deixe no shopping, por favor? Eu acabei de marcar com minhas amigas para almoçarmos no Le Blanc — Ela me interrompe toda vez que tento chegar nesse assunto: término. E eu nem vi ela pegando o celular para conversar com as amigas. Bom que o restaurante fica do outro lado do shopping.
— Vamos logo. Não quero que você chegue atrasada. — Levanto e saio do quarto mesmo sem Penélope.
— Me espere no carro, querido! — Ela grita do quarto e eu aproveito os minutos em silêncio dentro do meu Jeep para pensar em como terminar com meu namoro com Penélope.
Sigo direto para casa depois de dar carona a ela. Meus pais e minha irmã estão na casa de praia e voltam na segunda. Queria ter a sorte de Hermione e não ter de voltar tão cedo às aulas, mas eu estou no penúltimo ano da faculdade agora e só falta um pouco para tudo isso terminar e principalmente a Irmandade. Dediquei três anos a isso, três anos me sentindo mal por todas aquelas pessoas e coisas ilícitas que me vi forçado a fazer. Dar as costas a tudo isso me custou ver meu pai me rejeitando e a tudo que se refere a minha vida. Mas ele tornou isso tão sutil para não envolver minha mãe que é quase uma tortura lidar com o fingimento todo. Ao menos eu posso me sentir mais aliviado sem todas aquelas obrigações e ter deixado a Irmandade nas mãos de alguém que a diretoria aprova.
•••
Passada algumas horas, estou na calçada de um Pub novo no Centro, conversando dos relacionamentos chatos e ouço os meus colegas reclamarem da faculdade também. Túlio, Anderson, Marcus e Dalto. Todos aqui rindo e me fazendo sentir menos pior e até esquecer o que passei no ano passado. Túlio e Dalto são colegas mais especiais que se mantém leal a mim, mesmo sendo um rei que abriu mão da coroa. Penélope ainda não chegou e seria perfeito se ela me mandasse uma mensagem dizendo que não poderia ir porque decidiu fazer skincare.
— A patroa chegou! — Dalto levanta a caneca de Chopp para saudar Penélope. Falando no diabo!
— Engraçadinho! — Ela reage a Dalto — Oi, querido! — Ganho um beijo na bochecha. Penélope pega uma cadeira e coloca ao meu lado. Ela sempre gosta de ficar perto de mim, mesmo que eu não goste de muito contato. Acho que esse é o gesto mais sincero dela para comigo, mesmo nós dois não sendo o tipo de pessoas que demonstram afeto.
— Meu Chopp acabou! — Digo.
— Deixa que eu peço mais um, chefe. — Túlio não sai desse personagem tão cedo.
— Relaxa, eu vou ao banheiro e depois pego mais no balcão. — Contesto. — Já volto, Penélope. Você vai querer alguma coisa?
— Um Gin Tropical, por favor — ela parece querer interagir hoje.
— Claro! Cuidem bem dela!
Ouço os garotos rindo e começando a conversar com a minha namorada como se ela fosse um deles: um bando de animais. Desvio o olhar de uma mesa onde vejo um amigo de trabalho da minha mãe com um conhecido da Universidade. Acho que eles devem ter algo pela maneira que estão próximos, penso com meus botões. Tem um outro garoto também, ele é enérgico e tem trejeitos suaves e caricatos o que faz os outros rirem dele. Melhor ir logo ao banheiro e ignorar isso! Entrei no pequeno espaço que destinaram ao banheiro masculino e me concentro para mijar.
— Por sorte eu posso encher a cara hoje que os meninos me jogam em um táxi para casa — Verbalizo meus pensamentos, porque sei que depois de dois drinks a Penélope vai embora. Termino de fazer o que estou fazendo, lavo as mãos e saio do banheiro e para o meu azar tinha um carinha vindo na minha direção com uma caneca de Chopp. O resultado: minha camisa molhada e eu irritado!
— Presta atenção! — Empurro o garoto, mas acabo usando muita força e vejo que ele se bateu — Puta merda! — Estou molhado e acabei batendo em alguém que está visivelmente bêbado.
— Me desculpa! — Ele tentou se aproximar de mim e me tocar. Coisa que eu já não gosto de pessoas que conheço, agora imagina um desconhecido. — Não era preciso me empurrar! — Ouço ele murmurar alguma coisa.
— Você quer apanhar? — Perco a paciência totalmente e o seguro firme no pulso! Eu só queria uma noite legal, mas estou puto.
— Não estou interessado. Obrigado! — Ele responde e se solta me empurrando, mas sem muito efeito, porque sou bem maior que esse cara. — Só quero ir ao banheiro, okay! Sem brigas! — Ele me olha com certo deboche e sua voz parece desafiadora, mesmo tentando não arrumar briga.
— Você é bem debochadinho, não é? — Empurro o garoto de volta para continuar meu caminho até a mesa. Sento na cadeira ao lado de Penélope, bastante irritado e ela é a primeira a perceber.
— Aconteceu alguma coisa?
— Um fodido, idiota derrubou Chopp em mim!
— Ei, chefe! O que rolou? — Preciso me controlar ou vão querer brigar com o pobre coitado.
— Só esbarrei em alguém e me sujei. Pede mais Chopp, Anderson! Por minha, hoje! — Eles bradam como se estivesse assistindo a um jogo de futebol.
Entrei no ritmo e comecei a zoar com Túlio, assim desvio ele de uma confusão. Olho para o lado e vejo o carinha que me deu nos nervos andar às pressas para fora do Pub e o conhecido da faculdade indo atrás dele. Puta merda! Ele estava com o amigo da minha mãe! Eu não sei se me irrito mais ou menos, só que encaro ele de longe, mas volto ao meu grupo se não as coisas desandam nessa droga.
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Os Arcanos e Eu
RomanceOtávio está a caminho de uma nova fase de sua vida: morar com o pai Hugo, a faculdade de enfermagem e a mudança de cidade. Ele incorpora o arquétipo do Louco e decide viver tudo isso de frente e com bastante entusiasmo. Entretanto, ele não imagina q...