OTÁVIO
O que diabos foi aquilo ontem? Estou pensando no que aconteceu na noite anterior e no que vimos depois de sair do banheiro. Havia algumas pessoas usando drogas e vendendo não tão discretamente. Naty e eu resolvemos voltar juntos, porque o caminho de nossas casas é o mesmo, diferente de Adriana que parecia mais aborrecida do que o normal. No carro chegamos a mencionar o fato de os estudantes estarem muito alterados na festa. Naty comenta que é algo comum em qualquer festas com drogas na cidade, mas na Uni? Estávamos assustados.
Termino de lavar a louça do café da manhã. Preparei omeletes, torradas e o bom e velho café. Vi que o tênis do Kupper está na entrada, ou seja, teremos companhia. Vou até a porta do quarto e bato pra chamar eles pro café e volto pra mesa e me sirvo. Lembro do beijo gostoso daquele barbudinho, vulgo Joabe (isso me deixa excitado) e do banho de Chopp que levei (brochante). Meu pai aparece de roupão e meias. Ele parece relaxado e feliz. Transou a noite toda, dá nisso!
— Bom dia, meu indiozinho — ele cheira meu cabelo e beija minha cabeça — como foi a festa ontem?
— Boa, mas... — não queria comentar do Herus, porém temos uma regra de não esconder nada um do outro.
— Mas? — Meu pai enche a xícara de café e dá um gole — Café forte igual o do Dani — um sorriso nostálgico brota em seu rosto.
— Um veterano anda me marcando.
— Me diz o nome que eu resolvo — esse tom calmo do meu pai me dá arrepios — não quero meu filho sofrendo bullying depois de adulto.
— Não precisa, pai. Eu já resolvi e minha amiga nova deu um tranco nele — sorrio pra ele na busca de evitar que se envolva nisso.
— Se você diz... — ele me encara depois de morder uma torrada com geleia de amora — Tem algo mais, fala.
— Eu vi algumas pessoas vendendo drogas e usando. Lá na festa, sabe...
— Eu sei disso — meu pai suspira — já tentamos de tudo para barrar essa venda, mas nunca tivemos bom resultado. E como as festas tem sua função pro DCE e a Comissão estudantil, fica difícil parar — Ele me olha e sorri — Obrigado por me contar e não vá mais nessas festas.
— Não mesmo! — Pisco pra ele — E o Kupper. Cadê ele?
— Com vergonha de sair do quarto — meu pai dá uma risada e um sorriso malicioso.
— Kupper, vem tomar café que eu já passei da frase de trauma do meu pai transando! — Levo um tapa no braço e vejo a cara de vergonha do meu velho.
— Já tô indo! — Ele aparece vestindo pijama azul e com a cara mais vermelha que o normal — Você é péssimo, Otávio! — Ele diz enquanto se senta e coloca café pra beber — Vocês já viram o resultado da festa de ontem?
— Que? Eu não peguei o celular ainda. — Digo e vejo meu pai com a feição de que vai se estressar.
— Um estudante de artes foi espancado no perímetro da Uni. Não levaram nada dele e só não ficou pior, porque algumas pessoas viram.
— Eu já falei pro Adam dessas coisas. — Meu pai passa as mãos no rosto e respira fundo — Mas parece que não tem jeito. O bom é que o Polo onde estou não tem esses problemas.
— Você sabe quem é o garoto agredido? — Pergunto.
— O Joabe. Um amigo da Adriana — Será que foi o Herus que fez isso?
— Otávio? Você viajou agora?
— Ah, é que eu conheci ele ontem — digo.
— Espero que não tenha ficado com ele. Esse garoto não vale um real da nota de papel.
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Os Arcanos e Eu
RomantizmOtávio está a caminho de uma nova fase de sua vida: morar com o pai Hugo, a faculdade de enfermagem e a mudança de cidade. Ele incorpora o arquétipo do Louco e decide viver tudo isso de frente e com bastante entusiasmo. Entretanto, ele não imagina q...