Dois de copas - parte I

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OTÁVIO

Sextou! E finalmente um final de semana para descansar e viajar! Sim. Você leu viajar! Meu pai, Kupper e eu estamos indo passar uns dias na praia e eu estou morrendo de vontade de salgar meu corpinho na água do mar, tomar um bronze e mostrar esse corpinho lindo que Deus me deu! Resolvemos sair à noite, porque o Kupper sai do estágio depois das seis e meia e assim poderíamos aproveitar melhor o dia no sábado.

Folheio as páginas do livreto que veio com as cartas de tarot. Tem alguns dias que não toco nisso e chego a carta dos Amantes, com um casal heterossexual se pegando forte no mato. Seria mais realista se fosse um casal gay se pegando no mato, vou pesquisar depois se tem algum tarot menos normativo.

A junção do masculino e feminino; o grande ato entre o imperador e a imperatriz; almas que se buscam e finalmente se encontram; trocas recíprocas e favoráveis.

Textinho mixuruca esse, mas lembro que vi em um vídeo de tarot a moça falando que essa carta tem um babado de almas gêmeas e tal. Não que eu acredite nisso, mas também não desacredito. Antes eu achava que as almas gêmeas deveriam ficar juntas pra sempre, mas depois que o casamento dos meus pais desandou, minha avó disse que nem sempre as almas gêmeas ficam juntas. Às vezes só o tempo necessário para cumprir a missão de vida de cada um. Ainda choro pensando nisso, me pego pensando que talvez o Kupper não seja tão bom assim pro meu pai Hugo, como o pai Dani é.

– Ei! – Alguém me tira dos meus pensamentos tristes. É Kupper balançando meu joelho. – Está tudo bem? É a primeira vez que te vejo calado por mais de trinta minutos. – Ele ri e meu pai também.

– Acho que ele está pensando em alguém – diz meu pai.

– Com o tanto de trabalhos da faculdade? Acho bem difícil! – Meu pensamento vai direto para o Herus. – Não penso em namoro no momento. Pai, a gente pode comprar alguma pizza no caminho? Tô morrendo de fome! – Saindo pela tangente com a melhor desculpa de todas: comida.

– Acho que a pizzaria vai estar fechada quando chegarmos, mas posso parar no próximo drive-in.

– Perfeito! Opa. – Meu celular toca e é uma chamada de vídeo da Flávia e do JP.

– A gay sumida está vivaaa! – JP grita no celular e meu pai ri.

– Por que está tão escuro aí, Otávio? – Flávia questiona.

– No carro do papis, indo pra praia! – falo a palavra praia cantando – E vocês?

– O William vem dormir em casa – JP conta algo que me deixa perplexo.

– Que!? – Flávia e eu gritamos ao mesmo tempo.

– E eu achava que era só o Otávio o espalhafatoso – Kupper diz.

– São amigos dele de infância e se os três são assim no telefone, imagina juntos em uma sala.

– Beijo, tio Hugo! – Flávia grita.

– Saudades, tio!! A mãe mandou um beijo também e disse que você deve uma cachaça de banana e tá esperando até hoje! – A velha história da cachaça de banana da mãe do JP.

– Sua mãe tem que procurar o Alcoólicos Anônimos! – Meu pai ri enquanto dirige – E diz que eu vou nas férias e levo tanta bebida que o rabo dela vai entortar!

– A senhora ouviu, não é? – Podemos ouvir o grito agudo da tia Joana ao fundo.

– Mas não fuja do assunto e me fala desse boyzinho! – Coloco até os fones pra conversar melhor.

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