Dois de copas - parte II

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HERUS

Ficar sozinho sempre me ajudou a refletir melhor sobre muitas coisas. Principalmente quando minha cabeça está tomada pela última reunião dos arcanos, mais precisamente, porque sei que alguma coisa ruim vai acontecer e não tenho como evitar, apenas reduzir danos por meio do sacerdote. Alguém que nunca vi antes e que se mantém a parte de todos os outros membros. Segundo meu pai, ele é um legado e uma posição que visa manter a ordem entre todos, se alguma coisa que venha a expor ou ameaçar a ordem, ele age. Como? Ninguém nunca soube, além de mim e o Joabe. E mesmo o que aconteceu com o jovem valete, é pouco quando comparado ao poder desse arcano.

Entretanto, não são apenas os pensamentos do grupo secreto da faculdade que me assombram, em especial o sonho sem nexo desta noite. Eu criança brincando no parque e arrastado para uma reunião cujo os membros eram estátuas grandes e aterrorizantes, formando um corredor até o altar onde Adriana estava sentada como uma imperatriz louca. Banhada de sangue, ela ria exasperadamente e sob ela meus amigos e os valetes. Eu já era adulto e estava vestindo roupas de prisioneiro. Um horror me tomou de imediato, mas foi desfeito quando alguém tocou minha mão e disse: vai ficar tudo bem. Olhei, mas a pessoa estava de costas saindo daquele lugar, só pude ver o desenho da lua nova em suas costas e foi no momento em que acordei suado de madrugada.

Cheguei na casa da praia ainda na sexta à noite. Eu comi, assisti filmes de suspense que não assistiria com minha irmã porque ela gritaria o tempo todo para eu mudar e assistir ao dorama favorito dela. E acho que deveria ter feito isso, porque esse sonho estranho que tive deve ter tido influência do que vi a noite toda. De manhã eu preparei meu café da manhã e comia enquanto preparava o almoço/jantar de hoje. Depois disso fiquei na piscina pelado, algo tão bom e que só posso fazer estando só aqui. Dormi no sofá, de roupão, após terminar minhas atividades da faculdade e agora estou fazendo uma corrida de leve pela orla da praia.

Depois de meia hora correndo, volto para casa tomando água de coco. O vento está forte e um tanto frio, nuvens de chuva começam a se formar e parece que vai ser uma tempestade forte e demorada. Vejo um rapaz de cabelo escuro e desgrenhado pelo vento sentado em frente de casa, mas no outro lado da pista. E a medida que me aproximo, noto que ele é familiar, então me aproximo devagar e noto que é o Pinheiro, sentado em posição de lotus e se apoiando com os pulsos para trás.

– Ei! – Digo bem alto. – Você está me seguindo até aqui? – Sorrio, mas penso por que diabos disse isso!

– Você?

– Sim. Eu! – Sento ao seu lado. – O que faz sozinho por aqui, Pinheiro?

– Primeiramente, boa tarde! – Seu regular tom e fala de afronta. Pensei ter quebrado isso no nosso último encontro. – Porque não dormi com você E. – Pausa enfática com o dedo indicador para concluir sua frase – Eu não te devo satisfação!

– Au! – Aperto meu peito dramaticamente.

– Você está bem? – Ele parece assustado.

– Sua grosseria partiu meu coração – começo a rir e sou empurrado mas me apoio para não cair.

– Praga! – ele diz e se levanta. Sinto umas gotas de chuva.

– Quer entrar? Vai cair uma chuva forte. – Levanto do chão e limpo a bunda.

– Eu vou indo. É. Ainda preciso comprar pão. – Seu tom de voz está melhor agora, mais amistoso.

– Compra depois. Você vai se molhar.

– Não vou não! – Ele sobe na bicicleta, mas me coloco na sua frente. O que diabos estou fazendo? – Herus. Sai, por favor eu vou me molhar! – Ele faz manha como uma crianças e então a chuva começa a cair mais forte – Culpa sua!

Os Arcanos e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora