Os Arcanos e Eu

Quatro de espadas

HERUS

Voltar à normalidade na segunda-feira é bem estranho depois desse final de semana. Ainda me sinto estranho só de lembrar do momento constrangedor que tive com o Otávio. Lembrar daquele rostinho cheio de marra se mostrando diferente. Não tive coragem de ficar para o café matinal com o senhor Pinheiro. Só aceitei os pães de queijo e bolo que ele colocou em um pote de plástico que por sinal está no banco do carona agora. Olhar para ele e tê-lo como a desculpa perfeita de encontrar o Otávio. Por que quero estar mais com o Pinheiro? Meu celular toca e vejo que é o Sacerdote me enviando mensagens.

Meus contatos informaram que a Adriana vai começar começar a agir essa semana. Só não me especificaram o que ela está fazendo. Diga aos valetes e aos seus que fiquem atentos.

Ela vai aprontar!

Como esperado, Adriana vai começar a agir como animal acuado. Um animal meticuloso e preciso, suponho. E assim o jogo começa: a rainha sai para seu cortejo antes da batalha, analisando tudo e todos. A procura do ponto fraco ou elo mais fraco. Queria que tudo fosse tranquilo e eu pudesse me permitir ter um ano letivo normal, como qualquer universitários. Saio do carro e vou para a aula preocupado com o que pode acontecer. Encaminho a mensagem para as pessoas que conheço e digo a mim mesmo que é melhor ficar longe do Otávio, ou ele pode ser prejudicado por tudo isso.

Toda terça-feira, eu tenho atividade no laboratório e fico até às seis da tarde desenvolvendo projetos ou corrigindo, ajudando os alunos novos que estão fazendo alguma atividade. Mal olho o celular a tarde toda até todos os alunos saírem e eu ficar sozinho sentado em frente ao computador no projeto do bosque universitário. Resolvo enviar uma mensagem para o Otávio. Não nos falamos muito desde domingo e não faço a mínima ideia do que mandar.

Eu:
Estou com o pote do seu pai no carro. Posso te entregar?

Pinheiro 🌲:
Boa noite, Herus!
Estou bem. Obrigado por perguntar! 😑😑😑😑😑😑😑😑😑😑

Eu:
Bom saber!
Você está com fome? 😅

Pinheiro 🌲:
Bastante. Hoje teve atividade no laboratório.

Eu:
Quer comer alguma coisa? Eu pago.

Pinheiro 🌲:
Se você pagar, a resposta é sim!

Eu:
Onde você está?

Pinheiro 🌲:
E eu tô na faculdade ainda. Tive uma atividade no laboratório
Acabei de falar...

Eu:
Ignora minha desatenção 🤣
Ei!!!
Estou na Uni ainda. Posso te pegar depois?

Pinheiro 🌲:
Pode ser...
Eu vou com a Naty até o ponto de ônibus e você pode me encontrar lá?

Eu:
BELEZA!
Eita! Ignora o caixa alta 😅

Pinheiro 🌲:
Mais 15 minutos e me encontre na parada da Rua Baixa.

Eu:
É o tempo que fecho o laboratório e desligo tudo aqui.
Até depois!

Pinheiro 🌲:
Até mais, Bosstelho rsrs

O Otávio é um carinha legal e eu me sinto só desde quando as atividades de final de curso apertaram minha agenda e dos meus amigos mais próximos. Os rapazes da faculdade são legais, mas não são meus amigos e nem me sinto à vontade em conversar assuntos mais delicados com eles. Desligo os computadores e organizo os documentos em pastas rápido, encaro o relógio entre um movimento e outro por ser bastante pontual e gostar disso. E depois de tudo feito, corro pelos corredores da faculdade até as escadas com a mochila batendo nas costas e aquele canudo enorme de guardar projetos. Chego no carro e estou a cinco minutos de encontrar Otávio no ponto de ônibus. É fofo ele se preocupar com a amiga, ainda mais porque a Rua Baixa fica pouco iluminada a noite e está começando a escurecer.