- P'fa me dá um pedaço de manga...
- não, tira a mão Nude, essa manga é só minha.
- mas você já está comendo a horas, P'fa, me dá só um pouquinho.
- na na não, vai comprar pra você se quiser.
Onde já se viu, dividir a minha manguinha? só na próxima vida.
- P'fa, posso pegar um pedaço?
- pode, quer molho também?
- obrigada P'fa.
- porque pra Charlotty você deu e pra mim não?
Ops, eu fui no automático, Charlotty olha pra Nude e faz uma expressão de deboche, como ela sabia que eu ia dar pra ela? Nude estende a mão pedindo um pedaço e ela divide a manga. Eu estou ficando com o hábito de dividir quase tudo com ela, deve ser porque a gente divide o mesmo quarto e passa muito tempo juntas, já estamos na terceira semana do concurso a propósito, ainda não me acostumei totalmente com essa história de dividir o quarto com a minha "crush" mas está mais fácil do que nos primeiros dias.
Uma semana antes.
Acabei a sessão de fotos, porque eu tive que ficar por último? Estou moída, tudo que eu preciso agora é um banho quente, e dormir a noite toda, entro no quarto já deixando a bolsa em qualquer canto, a medida que vou avançando em direção ao banheiro vou deixando as peças de roupa pelo caminho, primeiro os saltos, depois a blusa, tiro também o sutiã e jogo em cima da cama.
- aaaah P'fa.
- aaaaaaaah.
Cubro meus seios com a mão e corro pra trás da cortina apavorada.
- Charlotty, o que você está fazendo aqui?
- eu estou descansando, e te esperando pra jantar.
- eu não te vi aí, você quase me mata do coração.
- você que quase me mata, P'fa.
- porque você não falou nada quando me viu tirando a roupa sua tarada?
- eu não pensei que você ia tirar a roupa toda, no meio do quarto.
Meu coração está acelerado do susto, eu me esqueço que divido o quarto as vezes, que vergonha, agora como eu vou sair daqui e olhar pra cara dela?
- Charlotty.
- hum?
- fecha os olhos, eu vou passar para o banheiro.
- já estão fechados.
- tem certeza?
- P'fa...
Passo correndo em direção ao banheiro, escorrego e quase caio quando chego na porta, solto um leve gritinho ao me equilibrar no beiral .
- P'fa você está bem?
- fica aí, não olha pra mim.
- eu não estou olhando.
Entro no banheiro e tranco a porta, me encosto na madeira e fico um tempo tendo pequenos surtos de vergonha, por fim decido que isso é bobeira minha, afinal, nós duas somos mulheres, quem nunca viu os peitos da amiga não é mesmo? Meu rosto começa a ficar vermelho ao imaginar isso, balanço a cabeça pra afastar os pensamentos sujos e entro em baixo do chuveiro, foi banho frio mesmo, pra ver se esfria o meu sangue que está fervendo.
No jantar, estamos as duas sem graça, evito contato visual pra não ficar corada, mas toda hora que eu olho pra ela eu lembro que ela me viu sem nada, ai meu pai, será que ela vai ficar sem jeito comigo? Será que ela achou bonito? Não tem como não achar, modéstia à parte, eu tenho peitos lindos, estou presa em meus devaneios e nem escuto a Tina me chamando.
- P'fa.
Charlotty me cutuca e eu tomo um susto.
- o que foi?
- Tina está falando com você, está no mundo da lua é?
- foi mal, o que foi?
- você quer participar da nossa live depois do jantar?
- sim, claro, Charlotty também vai?
- vou.
- ótimo.
Um silêncio um pouco embaraçoso paira no ar, procuro algo pra dizer, mas eu esqueci até como fala meu nome, e oh que só tem uma sílaba.
- P'fa, vamos no quarto, escovar os dentes e depois descer pra live?
Concordo com a cabeça e a sigo de volta pro quarto, acho que só eu que estou pensando demais, ela está agindo normalmente, então talvez ela não esteja com vergonha, deito na cama e espero ela acabar, pra gente descer juntas.
- Charlotty, você pode tirar essa espinha pra mim? Eu não estou conseguindo.
Odeio tirar espinhas, eu sempre aperto demais e fica dolorido depois, ela se ajoelha na cama e abaixa sobre o meu rosto, pra ver a espinha mais de perto, tudo normal, até eu me dar conta de quão perto ela está de mim, a gente nunca ficou tão próximas assim, meu coração acelera, mas eu tento disfarçar pra ela não perceber, ela tira a espinha e se senta na cama.
- prontinho.
- valeu Charlotty, vamos descer?
- ah espera, tem outra bem aqui.
Ela está olhando fixamente pra minha testa, como uma leoa olha pra sua presa, essa expressão no rosto dela me assustou um pouco.
- pode deixar, depois eu tiro.
- não, vai ser rapidinho.
Ela se aproxima e começa a espremer a espinha, ok, isso foi estranho, normalmente ela fica sem graça quando a gente tem que ficar perto, mas agora ela está a centímetros do meu rosto e...
ELA ESTÁ A CENTÍMETROS DO MEU ROSTO....
Aí me coraçãozinho... Nem estou sentindo a dor da espinha, estou usando toda a minha concentração para não olhar pra boca dela, não olhar pra boca dela.... Eu olhei pra boca dela. Os lábios dela são tão lindos, são vermelhos naturalmente e também são volumosos... Não P'fa, imagina o pai Nawat de cropped, isso vai ajudar a focar. Ao contrário de mim que estou entrando em parafuso, ela está super concentrada, na caçada as espinhas na minha cara, parece super serena e calma.
- essa posição está ruim, deita aqui no meu colo P'fa, é melhor pra eu espremer elas.
É sério? Ela é algum tipo de louca das espinhas ou o quê? Não protesto, deito a cabeça no colo dela, ela até colocou uma almofada, pra mim, ela ajeita os cabelos atrás da orelha e se abaixa sobre o meu rosto, com um semblante super concentrado, e começa a caçada as espinhas.
Ficamos conversando distraidamente sobre cuidados com a pele, que tipo de creme eu uso, o que eu devia ou não fazer com meus cravos, parece que ela sabe tudo sobre isso, é a primeira vez que temos uma conversa longa e descontraída, meu coração continua acelerando toda vez que ela chega mais perto, pra procurar alguma coisa no meu queixo, ou quando eu sinto o cabelo dela roçar na minha pele, mas eu estou orgulhosa de mim mesma, pois estou fazendo um ótimo trabalho, pra ficar imóvel com ela tão perto assim.
Nem vemos o tempo passar, quando ela acaba com todas, eu já estou sonolenta, quase dormindo no colo dela.
- P'fa, você está cochilando, vamos dormir.
- a gente tem que descer pra live ainda.
- aí meu pai, a live P'fa.
Esquecemos completamente, eu pego o telefone pra olhar a hora e já está muito tarde, a Tina vai arrancar o meu couro amanhã.
- e agora Charlotty?
- não sei, amanhã a gente inventa alguma desculpa.
- tem razão, de qualquer forma já é tarde, eu vou dormir.
- eu também, estou exausta.
- posso dormir na sua cama Charlotty?
- não abusa.