Floresta de Gelo

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Deixamos para trás a cidade em chamas e retornamos à minha modesta cabana. O caminho era extenuante, um tapete de rochas cobertas de gelo e neve que se estendia até o horizonte. Muitas dessas pedras eram pontiagudas como lanças, enquanto outras, espalhadas pelo chão, pareciam espinhos à espreita de quem ousasse passar. O vento cortante sibilava sem cessar, tornando a jornada ainda mais perigosa. Eu tremia de frio, mal agasalhada. O garoto, percebendo meu sofrimento, aproximou-se. Seu corpo, normalmente quente, irradiava ainda mais calor naquele momento, como se uma estrela tivesse se acendido dentro dele. De Wystéria até minha casa, eram cerca de 155 milhas, uma distância que eu costumava percorrer em três dias. Durante a viagem, eu me perdia na beleza da paisagem: os pequenos animais que habitavam a neve, como lebres árticas, lobos e corujas das neves; as árvores retorcidas que ofereciam abrigo, como carvalhos robustos, bétulas, pinheiros e medronheiros. A singularidade dessas espécies era notável, mas havia tantas outras que seria impossível enumerá-las. Ocasionalmente, avistava alguns monstros, o que era comum naquela região. Os mais inofensivos viviam perto das cidades, enquanto outros preferiam áreas mais isoladas.

Caminhamos durante todo o dia. O garoto, embora aparentemente indiferente, observava a paisagem com uma curiosidade silenciosa. Aproximei-me dele e agachei-me.

"O que você quer saber?", perguntei com gentileza.

Ele imitou meu gesto, cravando as garras no solo com tamanha força que seu braço inteiro afundou na terra, perfurando as rochas. Com um movimento ágil, extraiu algo do chão: um cristal negro que emanava uma luz sombria. A ponta do cristal se estendia como uma lâmina afiada, e sua aura era ao mesmo tempo fascinante e aterradora.

"É forte... Há muitos deles aqui... O que é isso?"

"É um Cristal da Caligem. São raros e valiosos. Um único cristal pode valer uma moeda de ouro... É como se fossem dez mil estações de trabalho condensadas em uma única peça", expliquei, observando-o atentamente. Sua energia era realmente sombria. "São usados na bruxaria..."

"Bruxaria? Isso é como magia?"

"Não exatamente... Bem, você ainda é uma criança, então talvez não entenda. No mundo, existem diversas raças e habilidades diferentes... Como esta." Pronunciei as palavras: "Buruku ez."

Lentamente, abri a palma da mão, e minhas runas brilharam. Um livro de capa de couro surgiu diante de nós, escrito em Evét, a língua dos Elfos. Eu não conseguia ler todo o conteúdo, apenas as partes que estavam preservadas. O restante eu mesma havia escrito e desenhado com base em minhas viagens.

A primeira ilustração mostrava cidades flutuantes, feitas de cristal puro, que refletiam todas as cores do arco-íris. Castelos de altura inimaginável, fontes de águas cristalinas e imagens de monstros adornavam o local, mas não havia árvores nem animais. Era um lugar desolado.

"Este é o primeiro dos Sete Reinos de D'oran. Chama-se Thá Elt, o Reino dos Espíritos. Ele representa a Luz do Mundo. Nenhum ser vivo jamais conseguiu entrar nele, mas suas construções podem ser vistas através da Lua Vermelha, Burúl. Com uma luneta, a visão é ainda mais nítida. O segundo Reino..."

Virei a página. A próxima imagem retratava uma floresta perene, com árvores tão altas que suas copas se perdiam de vista. Cipós grossos se entrelaçavam, e a vida ali era exuberante: frutas, flores, animais e monstros em abundância. Em seguida, um deserto se estendia sob um céu estrelado. O garoto, com os olhos atentos, logo identificou uma constelação e sorriu ao reconhecer a Constelação do Sátiro. Apenas aqueles com afinidade com a magia podiam vê-la com clareza. As dunas de areia branca refletiam a luz da lua, e entre elas surgiam oásis, onde a água brotava das rochas.

A última ilustração retratava uma região montanhosa, adornada por imponentes cachoeiras. As cidades, com arquitetura contemporânea, exibiam formas curvas e vastos espelhos que refletiam a luz para os vales abaixo. Entre as quedas d'água, tubulações metálicas canalizavam a água para todas as áreas.

Escuridão - DrakónOnde histórias criam vida. Descubra agora