Mal Absoluto

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Começamos a andar, e comecei a notar as peculiaridades das Garras do Diabo. Muitas rochas exibiam cristais de um vermelho intenso e se moviam, como olhos nos seguindo na escuridão. As plantas eram retorcidas, de grande porte, e carregavam frutos, mesmo em pleno inverno.

"Gon, este lugar é bizarro...", murmurei. Por instinto, coloquei os dedos em frente ao rosto, como se estivesse registrando cada detalhe mentalmente. "Isso vai render ótimos desenhos..."

"Desenhos?", perguntou Mik'o, demonstrando um interesse surpreendente. Revirei os olhos e invoquei meu livro, mostrando as páginas com meus desenhos. Gon se aproximou para ver novamente. "Você é bem talentosa... Muitos detalhes, coisas que nem eu percebo quando olho uma paisagem... Eu... não sei, mas isso me lembra... algo..."

Mik'o pegou o livro e folheou as páginas. Ao ver os desenhos dos oásis, passou a mão levemente sobre eles, com um olhar nostálgico. Pela primeira vez, seus sentimentos não eram agressivos, mas sim de saudade, nostalgia e tristeza.

"Súcubos vivem no deserto? É o lar de vocês?", perguntei.

"Chozinho...", ela sorriu levemente, agachando-se até a altura dele. "Súcubos não têm um lar. Nós... não temos nada. Somos apenas demônios, nascidos para matar." Ao ouvir isso, minhas orelhas tremeram. Uma tristeza profunda me invadiu, e lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto sem que eu percebesse. Era como se... finalmente eu tivesse sincronizado minhas runas com as dela.

"Você não queria renascer como uma Súcubo, não é?", perguntei em um tom melancólico. Seus olhos encontraram os meus, mas ela logo desviou o olhar.

"Re... nascer?", perguntou Gon, confuso.

"Súcubos já foram mulheres puras, Gon... Caíram na tentação de demônios, foram mortas e renasceram amaldiçoadas, condenadas a roubar a energia de outros seres através do contato físico. Ela nem deve se lembrar de quem foi antes...", expliquei, respirando fundo e sentando-me perto dele.

"Uhum... Se ela se quebrou, é só reconstruir", respondeu Gon, voltando seu olhar para Mik'o e se aproximando dela. Segurou o rosto da garota gentilmente, e seus olhos se encontraram. Novamente, aquele brilho azulado misterioso surgiu em suas íris, e o que aconteceu em seguida me deixou perplexa: ela começou a chorar, como se estivesse em transe. Suas runas reagiram, se reorganizando. O padrão quebrado foi lentamente apagado, dando lugar a um novo.

"Pronto... Demorou um pouco, mas acho que consertei...", disse Gon.

"Gon, o que você fez?", perguntei, desconfiada, não por achar que fosse algo ruim, mas por estar diante de algo que eu não compreendia.

"Meu nome...", disse Mik'o, ainda chorando. "Era mesmo Mik'o... Mik'o Alidik'kose... Uma nobre do Reino do Raio, prometida em casamento... Eu... era uma Elfa Sombria... Aconteceu em uma noite escura. Um homem sedutor se aproximou de mim, com um sorriso caloroso e olhos tão azuis que pareciam raios cortando o céu..."

Nesse instante, tentáculos surgiram das costas de Mik'o e avançaram sobre nós dois. Para minha surpresa, Gon não reagiu, então decidi não fazer nada. Confiava em sua decisão e não sentia hostilidade na ação dela. Ao nos tocarem, as runas em meu corpo se manifestaram, negras como a noite, e as escamas de Gon brilharam em um tom branco intenso, assim como seus olhos.

O mundo ao nosso redor mudou. Vimos Mik'o e o homem no topo de uma montanha, a vegetação rala devido à altitude. Estávamos acima das nuvens, negras como a noite e com descargas elétricas que percorriam cabos de prata até as casas no topo dos picos. Pequenos cristais de gelo se misturavam à vegetação, e Cristais da Potência brilhavam em um tom púrpura, iluminando o local. As poucas árvores presentes tinham folhas luminescentes e frutos diversos, desde os tropicais até aqueles típicos de regiões geladas.

Escuridão - DrakónOnde histórias criam vida. Descubra agora