Escuridão - Drakón

Maçãzinha Vermelha

Devo admitir que a paisagem era deslumbrante. Eu desenhava cada detalhe, o que atrasou um pouco a viagem, mas meus companheiros não pareciam se importar; até mesmo eles se divertiam com os novos cenários.

Conversei com Mik'o sobre a vida, sobre quem ela e eu éramos. Confesso que comecei a sentir boas vibrações vindas dela; uma amizade florescia como as estranhas plantas que brotavam nas rochas. Elas tinham raízes que se estendiam pela estrutura rochosa para absorver a água condensada, caules azulados, pétalas vermelhas brilhantes e espinhos que gotejavam toxina. Elas me lembraram Mik'o.

As poucas árvores se assemelhavam a coqueiros, mas seus frutos não eram cocos, e sim enormes toranjas, tão grandes quanto melancias. Quando me dei conta, Gon estava no topo de uma delas, devorando as frutas.

No céu, voavam alguns dragões e grifos, aparentemente apenas dois adultos de cada espécie e vários filhotes que planavam ao redor.

"Gon, são dragões. Consegue falar com eles?", perguntei.

"Eu não sei voar", respondeu ele, olhando fixamente para os animais. "Que inveja. Então, eu não sou um dragão? Talvez um lagarto... Será que sou um lagarto?"

"Você definitivamente não é um dragão, Chozinho, mas também não é um monstro. Se fosse, já teria nascido sentindo tudo deste mundo, o que chamam de 'Instinto Universal'", expliquei.

Continuamos a conversa enquanto seguíamos para a cidade. Precisávamos escalar um grande paredão de rocha, e ao chegarmos lá, fomos surpreendidos: não havia ninguém em nenhuma construção. Era como se todos tivessem partido às pressas.

As construções eram rústicas, feitas de barro e rochas, semelhantes a uma aldeia de goblins, mas com vestígios humanos. Peguei algumas roupas e as vesti. Então, algo me chamou a atenção: uma armadura de amazona que cobria bem o peitoral e a barriga. Runas visíveis fluíam por ela.

Senti novamente uma presença estranha atrás de mim, sussurrando em meu ouvido: "Princesa da Escuridão". Assustada, me virei, mas não havia ninguém. Apenas a armadura.

Aproximei-me e toquei o metal negro, sentindo uma familiaridade. Vesti as manoplas, as botas, o capacete e a malha de aço que ficava sob as placas de metal, para facilitar meus movimentos. Meus olhos se arregalaram ao sentir minhas runas se conectarem à armadura. Não conseguia tirá-la!

Senti que estava sendo observada, uma mistura de felicidade e tristeza. Corri para fora, procurando por Gon e Mik'o. O garoto olhou para mim e, por um segundo, seus sentimentos foram de nostalgia e... arrependimento. Mik'o se adiantou.

"Pelos demônios, o que aconteceu aqui?", exclamou.

"Este lugar tem um cheiro familiar", disse Gon, assumindo a liderança. "Cheiro de enxofre, fogo... Uma sensação familiar, mas ao mesmo tempo... estranha."

Novamente, senti olhares sobre nós. Olhando em volta, vi uma criança comendo uma das toranjas, sentada no telhado. Seus cabelos eram vermelhos vibrantes, curtos e lisos, e seus olhos verdes combinavam com sua pele clara. Parecia usar maquiagem avermelhada ao redor dos olhos, mas era natural dela. Vestia uma camisa branca longa, um colete cinza e calças negras.

Seu olhar era de tédio, mas seus sentimentos... Eu não conseguia decifrar. Era a primeira vez que alguém não demonstrava emoção alguma, como se fosse vazia. Quando olhei para ela, a criança retribuiu com um sorriso gentil e desapareceu. Num piscar de olhos, ela reapareceu entre nós três. Mik'o pareceu espantada com a velocidade, mas Gon a encarava com curiosidade. Notei que ambos se encaravam como se já se conhecessem. E Gon também não parecia sentir nada...

"O que são vocês?", perguntou a criança, com uma voz que me deixava em dúvida se era um garoto com voz fina ou uma garota com voz grave. "Nunca vi uma 'lagartixa', uma 'pontuda' e uma 'chicotuda' antes...", disse, embora eu percebesse que estava mentindo.