Escuridão - Drakón

Senhora da Escuridão

Gon e Ez tornaram-se amigos inseparáveis em pouquíssimo tempo, passando horas a fio conversando na língua dos monstros. A alegria que emanava da amizade deles me aquecia o coração, como se eu tivesse um filho e um irmão. E, de fato, uma irmã, ainda que problemática... Mik'o os observava, mas sua expressão não era das mais amigáveis. Chamei-a para um canto e me assustei quando ela me fitou com um olhar carregado de desejo, lambendo os lábios.

"Decidiu se entregar a mim? Estava ansiosa por este momento...", ela sussurrou, aproximando os dedos de minha intimidade. Revirei os olhos e, com um chute certeiro em suas costelas, derrubei-a. Minha força estava anormal, mesmo sem ativar minha magia.

"O quê? Quando você ficou tão forte?!", ela exclamou, surpresa.

"De agora em diante, você é a terceira em questão de força. É melhor tomar cuidado", respondi, aproximando-me e tocando-a levemente acima dos seios, enquanto pronunciava: "Ez rez mik'au". Minhas runas surgiram e se espalharam por seu corpo, curando-a. Ela sorriu de leve, soltando um baixo gemido. Por ter sido uma Elfa Sombria no passado, meus sentimentos me mostravam que eu já a considerava parte da família. "Voltando ao assunto... Quero saber o que você entendeu da conversa entre Gon e Ez. Você entende a Língua dos Monstros, não é?"

"Esse seu lado sádico é tão atraente... Irmãzinha tola", ela mordeu os lábios e se levantou. "De fato, entendo algumas coisas. Com os anos que passei em regiões de ninhos, aprendi o básico." Ela voltou o olhar para os dois. "Ez se refere a Chozinho como Herdeiro dos Céus. Disse que eles não são iguais, mas que está feliz por... uma promessa que foi cumprida? Não sei dizer se é uma promessa entre eles, ou com algum monstro, ou até mesmo com 'algo'... E... Diferente de Waira e Seraf, ele não é um monstro. A energia dele é muito diferente da que os monstros emanam. E, na verdade... monstros têm assinaturas de runas parecidas, mas a dele é quase igual à sua e à de Ez, como se ele fosse quase totalmente você, sem nenhum traço de monstro."

"Herdeiro dos Céus...?", pensei. O mesmo significado do meu nome. Mas o que isso queria dizer? "Não entendo. Não faz sentido... E o que Ez tem a ver com isso?", questionei, cerrando os punhos em frustração. "Cho'Gon, o que você é?", murmurei, mordendo o lábio e respirando fundo, imersa em pensamentos. "Sobre... assinaturas de runas, o que preciso para conseguir vê-las?"

"Treinamento. Você precisa parar de ler os sentimentos e aprender a sentir as runas enraizadas na aura da pessoa. É mais fácil em raças puras."

"...Pode enfiar essa sua 'pureza' onde o sol não bate", resmunguei.

Fui interrompida por um abraço inesperado de Gon. Relaxei em seus braços, sentindo uma onda de felicidade. Havia chegado a hora da aula do pequeno. Sentei-me com ele por perto, enquanto Ez e Mik'o se acomodavam ao nosso redor. Finalmente me senti segura para falar.

Expliquei a eles o que sabia sobre o mundo. Mik'o e Gon também compartilharam seus conhecimentos, e percebemos que tínhamos um objetivo em comum: viver juntos, unificar tudo. Contei sobre meu trauma com súcubos; uma delas havia levado a pessoa que eu amava e me deixado à beira da morte. Se eu tivesse morrido, também teria me tornado uma súcubo, como minha "irmãzinha".

Após a aula, jantamos e me levantei, espreguiçando-me. Tive uma ideia arriscada, mas que poderia nos ajudar.

"Se demorarmos para chegar ao oásis, ficaremos sem comida... Então, vamos nos separar e procurar aldeias para comprar mantimentos. Podemos vender o Cristal da Caligem; mesmo drenado, ainda vale uma Moeda de Prata. Irei sozinha desta vez. Mik'o, você cuida dos garotos, certo?"

Sorri quando ela assentiu e comecei a caminhar para o sul. Alguns cartazes indicavam as rotas seguras para mercadores. Segui por uma delas, mantendo-me sempre escondida.