Monstros Sem Coração

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O sol se esvaía no horizonte, enquanto as luas ascendiam no céu, banhando a noite em uma luz quase diurna. Até mesmo Mik'o parecia relaxado diante daquele cenário. Eu rabiscava em meu caderno, tentando capturar a beleza daquele lugar, mas uma inquietação persistia em meu íntimo.

"Estamos viajando há dias e não encontramos nenhum sinal de civilização...", Gon comentou, com os olhos fixos nas constelações. "Kriana évec..."

"O Reino da Terra é vasto, e suas tribos são muito isoladas, principalmente nas regiões desérticas e savânicas. Híbridos como vocês, que ignoram isso, pereceriam aqui", respondeu Mik'o, com um tom irritado que denunciava emoções conflitantes. "Estamos em uma região... problemática."

"Problemática? Por quê?"

"Tsk. Chozinho, acho que chegou a hora de intensificar o treinamento da nossa líder", Mik'o respondeu, lançando um olhar significativo para Gon. Este, fitando o horizonte com uma expressão indecifrável, apenas assentiu. "Conheço bem esta região. Estive aqui por quinhentos, talvez seiscentos anos..."

Engoli em seco. A revelação da idade de Mik'o me atingiu como um raio. Pela Lei Élfica, um indivíduo com mais de cinco séculos era considerado apto para governar. Quantos anos ela teria, exatamente? Suas orelhas tremeram levemente, um eco do meu próprio nervosismo. Em Limát Evet, para que Gon não entendesse, ela murmurou: "Tenho dois mil, novecentos e noventa e seis anos". A confissão me fez estremecer. Ainda mais estranho foi observar os dedos de Gon se moverem sutilmente, como se ele estivesse calculando algo, quase como se compreendesse a língua élfica.

"Gon, você entendeu o que ela disse?", sussurrei.

Ele me ignorou completamente. Seus sentimentos estavam ocultos, bloqueados como Maeve Linker costumava fazer. Para ter certeza, pronunciei em nossa língua: "Estou com vontade de comer pão". O olhar dele se desviou brevemente para a mochila de mantimentos, confirmando minhas suspeitas: ele entendia. Impossível para um meio-humano e meio... o que quer que ele fosse.

Mik'o suspirou e apontou para o noroeste, com uma expressão pensativa.

"A sessenta e nove quilômetros daqui, seguindo para noroeste, há um ninho de monstros. Sua missão é infiltrar-se no centro e recuperar um objeto de valor. Entendido, Chozinho?"

"O quê?!" A surpresa me deixou sem palavras quando Gon assentiu sem hesitar. Um ninho de monstros? Nem mesmo um exército orc ousaria invadir tal lugar. Eu teria que ir sozinha?

"Se você não retornar até a próxima Lua Cheia de Cálico, iremos procurá-la. Mas você precisa sobreviver até lá."

"Mas isso é daqui a três dias!"

"Hira, confie em tudo o que aprendeu. Você é forte. Quando voltar, comeremos pão juntos." O sorriso de Mik'o aliviou um pouco meu temor. Ele tinha razão: para proteger aqueles que amo e trilhar meu próprio caminho, preciso ser mais forte. Mas será que precisava ser tão forte assim? Abaixei o olhar, mergulhada em pensamentos, e depois voltei a encarar Gon.

"Gon, não deixe que ela toque em você enquanto eu estiver fora. Prometo trazer um presente para você! Até logo, irmãozinho."

Runas brilharam em meu corpo. Usei magia para fortalecer minhas pernas e disparei em velocidade máxima. Levei cerca de uma hora para chegar ao local indicado. As runas poderosas que emanavam da região denunciavam a presença de inúmeras criaturas. Mas acima de tudo, duas presenças distintas e assustadoras pairavam no topo.

Era um pico imponente, habitado por uma variedade de monstros: Lobos Prateados, Carneiros Negros e Dourados, Grifos, Slimes e até mesmo alguns Dragões. Observando a formação do local, percebi uma clara hierarquia: os monstros mais fracos ocupavam as áreas mais baixas, enquanto os mais perigosos e agressivos residiam no topo, como em um reino.

Escuridão - DrakónOnde histórias criam vida. Descubra agora