Demônio Sedutor

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Corri com Gon nos braços o máximo que pude, atenta para não deixar rastros. O que mais me atormentava, além da fome e da quase nudez, era a preocupação com possíveis encontros indesejados. Conhecia bem a região, então evitei as rotas de caravanas mercantes. Trocar o Cristal da Caligem seria uma opção, mas o risco de sermos assaltados, presos ou vendidos como escravos era muito alto.

Uma das coisas que me impressionava era o calor corporal de Gon, que o mantinha aquecido mesmo nas temperaturas negativas da noite e, consequentemente, me aquecia também. Uma energia reconfortante. Me perguntava se essa sensação era puramente física ou se também era alimentada pelo meu desejo de ter... alguém para chamar de família. Ele era como um irmãozinho. Olhando para seu rosto, um sorriso brotava naturalmente. Sua inocência era cativante.

Sem recursos, comprar comida era impossível. Com isso em mente, parei em uma caverna onde sabia que encontraria cogumelos. O local era úmido e mais quente que o exterior.

Alguns animais e pequenos monstros se abrigavam ali: Ursos da Neve e Ovelhas Negras. Ao entrar, concentrei-me em minhas runas, buscando detectar qualquer hostilidade. Sentindo que era seguro, avancei. Uma corrente de ar quente vinha do fundo da caverna, onde águas termais escorriam pelas paredes. Centenas de pequenos cogumelos cobriam o chão úmido. Separei apenas os comestíveis. Felizmente, eu tinha um bom conhecimento de fauna e flora, adquirido por meio de estudos autodidatas, na tentativa de criar poções e remédios.

Alguns filhotes de Ovelha Negra se aproximaram. Não eram hostis; na verdade, eram um tipo de monstro que costumava conviver pacificamente com outras raças, uma das poucas que demonstrava afeto por mortais, já que a maioria possuía instintos destrutivos.

Cautelosa a princípio, logo entendi suas intenções. Ofereci alguns cogumelos e, em troca, elas me deram lã. Murmurei um encantamento, tecendo roupas para mim e um manto para o pequeno. Deitei-me ao seu lado e logo adormeci.

Em meu sonho, vi um... homem? Ser? Não sei ao certo, mas ele tinha olhos dourados, brilhantes como ouro puro, reptilianos como os de Gon. Seus cabelos pareciam feitos de finos fios platinados. Senti que ele ia falar algo; apenas vi seus lábios se movendo. Usando leitura labial, entendi: "Cuide bem dele, escuridão."

Acordei de repente. Algo puxava meu manto. Num reflexo, chutei a criatura, que gemeu de dor.

"Meretriz! Elfas não costumam ser fortes, sua impura canalha! Isso doeu! Tsk... Fufufu... Acho que vou 'brincar' com você."

Sua voz era grave, um contralto intenso que me arrepiava. O escárnio em sua risada ecoou em minhas memórias.

Mesmo na escuridão, percebi que era uma garota, aparentemente recém-adulta. Seus olhos tinham íris roxas e brilhantes, que se destacavam na penumbra. O mais assustador era o que se movia atrás dela: quatro tentáculos escamosos, como caudas de Armadilhos do Deserto, cobertos de espinhos que, assim como seus olhos, emitiam uma leve luminescência. Quando nossas runas reagiram, pude ver seu corpo. As "tatuagens" azuis nas minhas costas, brancas nas de Gon e púrpuras nas dela se revelaram. Seu corpo era belíssimo, mas... ela era...

"Elfas não costumam ser fortes, meretriz. Isso doeu", repetiu ela, com um tom que misturava ódio e excitação. A intensidade de seus sentimentos quase parou meu coração.

"S-S-S...", gaguejei. Uma experiência terrível com Súcubos me assombrava. Coloquei as mãos à frente do corpo, em posição de combate, mas tremia de medo. Só queria fugir! Seus olhos pareciam me ler; percebi que suas orelhas se moviam como as minhas ao captar emoções. Ela devia ser uma Elfa Sombria. "Saia daqui! Vá embora e eu te deixo viver!"

"Me deixar?", respondeu ela, com sarcasmo. "Está com medo, pequena desgraçada? Vou brincar um pouquinho com você. Vou te fazer sentir dor até que implore pela morte... Vai ser tão incrível! É minha primeira vez com uma híbrida! Pelos criadores, já sinto o orgasmo chegando só de pensar em te destruir!"

Escuridão - DrakónOnde histórias criam vida. Descubra agora