Um cantinho, uma paixão

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O vento tinha realinhado sua rota, virado a sul, e o tempo tinha mudado naquela sexta-feira, o sol estava encoberto por nuvens pesadas, prenúncio talvez de chuva. Na varanda de seu apartamento no Leblon, sorriu ao se lembrar da associação que tinha feito mais cedo, ao desembarcar no Santos Dumont. Era como se o Rio de Janeiro tivesse se vestido de Curitiba para recebê-la.

Abriu apenas parte dos vidros que fechavam o espaço de que tanto gostava de usar para ler, tomar café ou fazer alguma refeição mais intimista na mesinha de dois lugares. Gostava, sobretudo, quando tinha a presença dela. Abraçou a si mesmo, usava uma bermuda e uma camisa de manga comprida, ainda que fina. Não era acostumado a temperaturas amenas, filho da Paraíba, era meio avesso a inverno.

E justo ele, Lindbergh Farias, tinha se encantado por ela que, para sentir frio mesmo, tinha que ser menos de 15 ºC. Gleisi Hoffmann era filha do inverno e, numa sexta-feira como aquela, estava confortável vestindo apenas uma camisa de algodão dele enquanto passava café para os dois e certamente era a mulher mais bonita do mundo inteiro enquanto ocupava a cozinha do apartamento dele com os cabelos ainda levemente bagunçados. Tinham acordado há pouco, aproveitando a tarde livre para curtirem a companhia um do outro sem interrupções, sem urgências, sem gente batendo na porta, precisando falar com eles o tempo todo.

Era um momento raro, sabiam, a vida que tinham escolhido quase não lhes dava tempo para os dois. E tinham até pensando em dar uma volta pela cidade, passar a tarde num cantinho mais reservado, mas a vontade de estarem perto, estarem entrelaçados um no outro era tanta que, depois do almoço, foram se despindo daquela ideia de sair e se deitaram sem nenhuma outra pauta que não fossem os beijos, os toques, as pernas misturadas.

- Bem, vem pegar as xícaras pra gente, por favor – ela chamou da cozinha e ele sorriu entrando no apartamento.

Lindbergh se deparou com Gleisi terminando de colocar os sanduíches de queijo quente com tomate grelhado que tinha feito num prato. Já tinham combinado de ocupar a varanda para o café da tarde. Ela estava tão à vontade ali, tão em casa, que ele simplesmente não resistiu. Esperou que ela apoiasse o prato na mesa e então a pegou com os dois braços pela cintura, levantando a deputada no colo. A surpresa a fez soltar um gritinho logo seguido de uma risada, fazendo-a enlaçar os dois braços no pescoço do namorado, enquanto ele a enchia de beijos.

- Amoooooooooooooooooooor! – Gleisi reagiu quando Lindbergh deixou uma mordida na pontinha da orelha dela. Aquele sotaque da curitibana o tirava do eixo, ouvir sua mulher rindo era um presente, ainda mais com ele – Lind, me põe no chão!

- Só mais um pouquinho, estrelinha... – ele respondeu com o rosto escondido no pescoço dela – Cê sabe que é linda, não sabe, Gleisi? Tão linda que eu fico bobo só de ver. Eu tenho vontade de você o tempo todo, cê também sabe disso...

- Mas eu gosto de te ouvir dizer – ela sussurrou enquanto bagunçava os cabelos dele com as mãos.

Lindbergh a colocou de volta no chão, mas não soltou, não a deixou sair daquele espaço feito pra ela, dentro dos braços dele.

- Você é linda, Gleisi... linda! – o deputado segurou o rosto da namorada com uma das mãos e a beijou sem pressa alguma, podendo desfrutar dela, sorrindo quando ela ficou na ponta dos pés para beijá-lo de volta.

Quando ela mordeu o lábio inferior dele e puxou, fazendo os dois se olharem, Lindbergh se apaixonou de novo ao se ver inteiro ali, inteiro dela. Aliás, apaixonarem-se um pelo outro era um exercício quase diário dos dois. Às vezes acontecia mais de uma vez no mesmo dia.

- As xícaras pro nosso café, Lindbergh Farias! – ela disse e se soltou, pegando o prato com os sanduíches e a garrafa térmica com a bebida quente, saindo da cozinha, os pés descalços no chão frio, a caminho da varanda.

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