Estranhou a falta de resposta dele para suas mensagens. Estava inquieta em seu gabinete, após o almoço, revisando as agendas do dia e o que precisava ler para a sessão de logo mais. Nada muito diferente de sua rotina. Exceto pela ausência dele, que normalmente estaria ali, sentado no canto do sofá, um braço apoiado sobre o encosto, os óculos de leitura no rosto e o colo cheio de papeis, conversando e debatendo com ela sobre as tantas pautas que tinham em comum, as falas de ambos entremeadas com pequenos detalhes da vida dos dois fora do espaço político: se precisavam repor algum item na despensa de casa, incluindo ração e petiscos da gatinha Marie; se suas meninas e meninos estavam precisando de algo; se teriam tempo para um jantarzinho com amigos ou só entre eles.
Parou por um momento, recostou-se em sua cadeira e sorriu. Eram muitas as memórias que partilhavam de tudo e tanto que já tinham vivido como colegas de bancada, companheiros de partido, pares na luta pelo que acreditavam, melhores amigos, namorados, companheiros de vida. Foi difícil lidar com o pós-2018, o presidente Lula preso em Curitiba, ele sem ter conseguido se eleger para o Congresso, ela com um mandato de deputada federal e à frente do PT, sendo atacada 24 horas por dia. Estavam tão acostumados com a presença um do outro que a distância física foi um grande desafio que precisaram aprender a lidar. E aprenderam. E passaram por cada uma das muitas adversidades juntos, escolhendo um ao outro todos os dias.
Sorriu de novo lembrando-se do sorriso dele, mais cedo, quando ainda estavam em casa, e ele contava dos muitos planos para aquele fim de semana, quando estariam no Rio de Janeiro. Com agendas de pré-campanha de candidatos petistas, é verdade, mas também com tempo para os dois. Adorava o cantinho deles na capital fluminense, adorava conhecer mais daquela cidade a partir dos olhos dele, dos lugares que ele fazia questão de compartilhar com ela. Olhou outra vez para o telefone e... nenhum sinal, nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Respirou fundo e por um momento pensou até mesmo em ir até o gabinete próximo ao seu, mas balançou a cabeça, retomando a leitura. Se algo tivesse acontecido, ela já saberia.
A algumas quadras da Câmara dos Deputados, o "pesadelo" do acaju, enfim, tinha se encerrado. Depois do nevou no carnaval, as tentativas equivocadas de tonalizar novamente os fios tinham se mostrado desastrosas, para dizer o mínimo. A "mudança" no visual foi motivo de piadas e zoação entre amigos, familiares, na bancada do partido e até mesmo dentro de casa. Foram necessários alguns meses de paciência, sem mexer mais nos fios, até que pudesse cortar do jeito que queria e encontrar o charme gris novamente. Estava tão feliz que pediu a sua equipe de comunicação para gravar um vídeo e postar em suas redes sociais, algo descontraído, de tom mais pessoal, diferente do conteúdo que normalmente aparecia em seus perfis, quase inteiramente dedicados à política.
Assim que retornou ao Congresso, Lindbergh Farias não parou de ouvir elogios ao seu novo visual. Desde a garagem, onde encontrou colegas parlamentares, até os corredores por onde passava, recebeu cumprimentos, sorrisos, comentários. Um ou outro até um tanto ousado pelo lugar onde estava. Agradeceu com carinho, sentindo-se bem com a própria aparência, mas pouco se importando com todas aquelas reações. Seu telefone, aliás, acumulava notificações desde que tinha autorizado a postagem do vídeo com o antes e depois. Caminhava, porém, apressado e com um único objetivo: chegar ao gabinete de Gleisi Hoffmann, sua mulher. Tinha visto as mensagens dela, mas decidiu não responder, queria fazer uma surpresa, embora ele tivesse comentado naquela semana que encontraria uma brecha na agenda para cortar o cabelo, não disse quando.
Após mais interrupções e abordagens do que gostaria, chegou ao gabinete 232. Entrou com a naturalidade de quem estava sempre por ali e foi cumprimentando rapidamente, pelo nome, servidores e assessores que trabalhavam com a deputada federal e presidenta do PT. Mesmo ciente de que, pelo burburinho, ela já sabia da presença dele, bateu na porta.
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Ministério do Amor
Fanfiction"Diga que deseja ter pra si A maravilha de um pleno existir Um amor assim Para chamar de ecstasy Amizade sensual, sutil Delicadeza que transcende o mundo vil" Um senso de que era pra ser. De estar junto, de falar todo dia, de dividir o mesmo riso at...