Somente eu e ele.

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Acordei por volta das 06:20pm, com meu pai me chamando. Tinha em mente o que havia acontecido, lembro de ter desmaiado antes de subir ao meu quarto, provavelmente meu pai me levara até o cômodo e me embrulhara na cama, como quando fazia, quando eu era menor e costumava dormir no sofá da sala.

— Hey. Vim avisar que sua mãe vai sair agora, quer ir até lá se despedir dela? — ele passava a mão em meus cabelos, com receio, como se não se sentisse digno daquilo. Eu neguei veemente, meus olhos voltaram a encher de lágrimas.

— Tudo bem. — me deu um beijo na testa. — Sabe que ela irá embora do país, não sabe?

Espera, o quê?
Ela realmente iria embora da minha vida? Porra, não fui eu que traí ela.

Eu apenas neguei com a cabeça mais uma vez. — Vem. — ele estendeu sua mão. — Dê ao menos um tchau para sua mãe, não sabe quando a verá novamente. — com sua mão estendida consegui me apoiar, e com muita dificuldade me pus de pé em cima da cama. Comecei a fitá-lo sem jeito, mas meu pai havia entendido, sabia do que eu precisava. No mesmo instante, me pegou em seus braços, enlacei minhas pernas em seu corpo, e deitei minha cabeça em seu ombro. Sentia falta disso.

Desceu as escadas comigo, sussurando em meu ouvido que tudo iria ficar bem, enquanto eu apenas chorava silenciosamente.

Chegamos a sala, vimos o táxi do lado de fora, e mamãe com duas malas e uma mochila nas costas, indo de encontro ao carro. Papai caminhou até a faixada da nossa casa e me pôs no chão, em nenhum momento me desgrudei dele. — não sabia qual seria a reação dela ao me ver. — Charlotte olhou para trás e caminhou até nós dois.

— Mandarei lembranças a Isabel, por vocês. Ela também está decepcionada, ainda mais com você, Enid. — disse a última parte enquanto se curvava até mim e me olhava nos olhos. Eu tinha meu rosto enterrado na barriga do meu pai. Era como se eu tivesse voltado no tempo, como quando eu acabava quebrando algo em casa, sem querer, e mamãe surtava, essas ocasiões faziam-me sentir culpada, enquanto eu me escondia atrás de Isaiah.

— Pare com isso, Charlotte, deixe a garota. Ela não fez nada de errado, a não ser lhe poupar da grande burrada que eu fiz. — meu pai percebendo a forma tenebrosa com que ela me encarava, saiu em minha defesa.

— Ao menos reconhece a merda que você mesmo fez. — voltou a sua postura ereta, encarando Isaiah.

— Mamãe me perdoa... eu-

— "Charlotte" pra você. — meu choro antes tímido, começou a sair copiosamente. Papai afagava minhas costas tentando me acalmar. Olhava horrorisado para ela.

— Por favor, mamãe... — eu ainda tentava. Como aquela mulher conseguia ser tão fria?

Não aja como uma garotinha, Enid. Vê se cresce.

Então ela simplesmente deu as costas, caminhou até o táxi, entrou, e foi embora. Sem ao menos dar uma última olhada para trás.

Eu caí de joelhos enquanto gritava, sentindo uma dor imensa se apossar do meu corpo, as lágrimas não pareciam ter prazo de validade naquele momento.
Papai ao me ver assim, não tardou em se aproximar e me levantar, me pegando em seus braços de novo, e tentando de alguma forma me ninar.

Entramos em casa e meu desespero só aumentou. De todos os episódios de choro que haviam me ocorrido recentemente, aquele era o que mais me doía. Eu me sentia rejeitada, desprezada, humilhada e indigna do amor de alguém. Por mais que meu pai estivesse ali por mim, como sempre esteve, era pesado demais pensar que, a pessoa que me colocou no mundo, me odiava a ponto de não querer mais me ver em sua frente. Ouvir dizê-la que eu estava morta para a mesma, era algo terrível, difícil demais. A dor era imensurável.

Eu não conseguia raciocinar direito, apenas me debatia, enquanto o ar já me faltava novamente. Mas, eu já não chorava sozinha, Isaiah fazia tanto barulho quanto eu, o doía ver sua garotinha sendo desprezada pela própria mãe.

Após um hora inteira interrupta de choros, gritos e soluços, meu pai conseguiu me acalmar. Me pôs no sofá e foi até a cozinha. Pegou uma água com gás gelada, e colocou algumas gotas de Tylenol, para alívio das minhas dores de cabeça. Tomei a contragosto, com o tempo fui me acalmando a ponto de somente soluçar.

Papai voltou para a cozinha, a fim de preparar algo para comermos. Já tinha passado da hora do jantar e eu não havia comido nada desde o almoço na escola. Um tempo depois, ele voltou com dois pratos; tinha preparado purê de batatas, frango empanado, fritas, e para acompanhar, uma garrafinha de Pepsi pra mim. — ele sabia que eu amava Pepsi. — Isaiah se deu ao trabalho de tentar recriar o prato que eu mais gostava. Mas, ele não era o vilão da história?

Eu realmente estava faminta, mas não tinha forças para conseguir mastigar, demorei mais que o tempo habitual para comer, tendo que meu pai esquentar minha comida por duas vezes no micro-ondas, pois ficava fria.

Tempo depois de jantarmos, eu já me encontrava na cama. Isaiah me guiou da sala até meu quarto, e se desculpava a todo momento por sua fala infeliz mais cedo. Repetia incontáveis vezes no meu ouvido sobre o quão arrependido estava, culpa era o que exalava dele naquele momento.

Era óbvio que eu estava com muita raiva, porém, não mais do que abalada, a ponto de não aceitar os cuidados do cara que sempre me quis bem. Meu pai quem sempre me amou de verdade, no fim das contas.

— Aqui tem uma cartela de Tylenol, uma garrafinha de água com gás, outra sem, e um copo de leite, caso não consiga dormir. — apontou para a bandeja que havia trazido, colocando na minha mesa de cabeceira. — Vou estar no meu quarto, qualquer coisa me mande mensagem que eu venho, tudo bem? — eu acenei minimamente com a cabeça, e ele se dirigiu até a porta.

— Pai... — chamei em um baixo e dificultoso fio de voz, que ainda me restava. Ele parou.

— Sim, querida? — se virou me encarando com um olhar preocupado.

— Obrigada. — ele deu um meio sorriso e se voltou para mim.

— Você é, e sempre será a minha garotinha. — deu um beijo em minha testa e em seguida, um beijinho de esquimó. — Eu te amo, minha menina. — sussurrou como se fosse um segredo só meu e dele.

— Eu te amo mais. — um sorriso enfim, surgiu em meu rosto. Apesar dos pesares, meu pai ainda era o meu herói.

Dali em diante, seria apenas nós dois, somente eu e ele, pra sempre.

A amante do meu pai | WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora