Querida mamãe.

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Nasci e cresci na cidade de Palm Springs, Califórnia, um lugar quente e com muitas pessoas calorosas.
Eu morava com a minha mãe Charlotte, meu pai Isaiah, e minha irmã Isabel, que era cinco anos mais velha que eu.

Minha infância foi perfeita e comum na medida do possível, saía para brincar na rua enquanto minha mãe cuidava da casa, e meu pai passava o dia fora no escritório de contabilidade em que trabalhava.
Éramos uma típica família tradicional americana, costumávamos ir a "First Baptist Church", uma igreja a qual frequentávamos todos os domingos sem falta. Participávamos de trabalhos voluntários pelo subúrbio da igreja e meu pai servia como auxiliar do nosso querido e falecido pastor Jeremiah Olsson (que Deus o tenha).
Confesso que não era meu lugar favorito para ir, mas ainda não frequentava a escola, então até a ida a um supermercado, era um passeio incrível para mim.

Minha relação com meu pai era ótima, ele sempre muito amoroso e firme nas palavras, eu o admirava pra caramba. Todos os dias, antes de sair para o trabalhao, enquanto tomávamos café da manhã, se despedia dando um beijo na minha testa e um beijinho de esquimó, fazia o mesmo com Isabel. Em mamãe dava um abraço, um selinho, e sempre acariciava sua bochecha, dizendo o quanto ela era linda. - eu fico emocionada só de lembrar.

Ao anoitecer, fazia questão de colocar eu e minha irmã para dormir, perguntava como havia sido o dia na escola para Isabel, e qual nova brincadeira eu havia inventado com os meus amigos da rua. Ao final, rezávamos o "Pai Nosso" e ele se despedia com um "Boa noite minhas meninas, mal posso esperar para vê-las amanhã novamente, amo vocês. Durmam com os anjos de Deus." e saia.
Ah, esse cara era meu herói.

Já, minha relação com a minha mãe, era um tanto quanto diferente, ela também era amorosa e, fazia de tudo por mim, mas... Era estranho, eu percebia uma certa diferença entre o jeito que ela me tratava e tratava Isabel. Na época, eu não entendia, achava que era porque eu era pequena demais, e como minha irmã já frequentava a escola e sabia se expressar melhor, facilitava o relacionamento delas. Oh, como eu era ingênua.
Mais tarde eu viria a descobrir que não fui planejada, ou melhor, não fui desejada.

Mamãe me teve aos trinta anos, se achava velha por isso, acabou por me educar de uma maneira diferente, criou-me para que eu fosse uma menina mais "independente".
Não queria que eu me apegasse demais a ela, pois, pela idade, quando morresse eu não sofreria tanto. Que ideia.

Evitava me pôr para dormir e me pegar no colo enquanto eu ainda cabia em seus braços.
Até interromper a amamentação antes do tempo previsto ela fez. - É sério que ela se achava velha ao ponto de não querer amamentar seu próprio bebê? Bem, depois de anos foi isso que a mesma falou, e eu acabei acatando, porque... Nem eu sei o porquê! Talvez eu já estivesse estafada de querer sua atenção! Qual é? Eu ainda era adolescente quando me contou sobre isso. Eu era - e ainda sou -, um ser humano que ama contato físico, era difícil para mim quando negava meus toques.

Apesar da nossa relação ser meio esquisita, ela ainda era a minha mãe e me amava, do jeito dela, mas me amava. Uma das poucas memórias afetivas que eu tenho, é de quando ela me levava para o supermercado paras as compras da semana, e nesse dia - somente nesse - me deixava escolher como queria, e o que eu queria vestir. Eu amava, mas hoje vejo o quão problemático aquilo era.

"Enid, ocasiões são ocasiões, e ocasiões exigem trajes específicos. Não irá a rua vestida com essa meia, usará a que sua avó lhe mandou de presente, e pegue o laço rosa que está em sua mesa de cabeceira."

Oh, eu revirava os olhos com ódio. Que babaquice! "Ocasiões", como se eu frequentasse algum tipo de escola, eu tinha três anos, ainda me restavam uns meses para ela poder implicar com isso. Eu só ia até a rua, no máximo a igreja, não entendia essa implicância.

Com o tempo eu cresci, e as coisas mudaram, ao meu ver, pelo menos.
Comecei a frequentar a escola, fiz amigos, o tempo ia passando e eu ia esquecendo desse tratamento que minha mãe me oferecia. Na verdade, eu acreditava que eu havia esquecido, porém, eu percebia a diferença entre as mães dos meus amigos, e a minha própria mãe.

A ideia dela deu certo, eu cresci uma menina independente, que sabia se "preparar pra vida", como ela mesma dizia.
Tinha uma única coisa nisso tudo que eu havia aprendido a gostar;
Ela se dirigia a mim como se eu fosse uma adulta, alguém da sua idade, uma colega de classe que não via há muito tempo, um ser humano a ser respeitado. E não como uma garotinha indefesa, que não sabia fazer nada e precisava que a mamãe fizesse tudo. Falava comigo de igual para igual, sem rodeios, sem histórinhas, apenas a mais pura e cruel realidade.

Essa era Charlotte Sinclair, minha querida mamãe.

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primeiro capítulo, mais como uma introdução da história, espero que acompanhem e que gostem.

Lembrem de ler a sinopse, por via das dúvidas.

votem e comentem.

e lembrem SEMPRE de clicarem pra ver a foto do capítulo, é importante!

- Lanna 🍁

A amante do meu pai | WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora