Capítulo 22

617 56 16
                                    

Depois daquele dia, Alexandre não voltou a cruzar a linha e ela não voltou a tocar naquela revista. Ela disse que não seria daquele jeito, nada ajudaria ler aquelas coisas. Entretanto, os apertos de mão, a proximidade ao andar ao seu lado, os sorrisos mais soltos... esses aconteciam com cada vez mais frequência. Giovanna não se importava nem um pouco.

Foi após aquela revista que ela começou a se atentar nos detalhes dele. Nos olhos e como eles estavam sempre duros ao estarem focados nos documentos, mas sempre suavizavam ao olhar para ela. Nas mãos tão fortes, firmes na educação de Augusto, leves no cuidado. Os ombros largos, o peito marcado pelas camisas pretas. Tudo nele chamava sua atenção agora como nunca antes.

Seu marido era muito bonito, realmente.

Ela tirou a sorte grande se casando com ele. Suas amigas que se casaram na mesma situação tinham maridos horríveis, com o dobro da idade quase. Alexandre era jovem, era bonito e era dela. Sorriu com o pensamento da possessividade.

Uma semana tinha se passado depois da noite na biblioteca. A vida tinha voltado ao normal, eles decretaram o fim da lua de mel, Augusto voltou para a escola, seus pais vieram fazer a primeira visita em um jantar regado de boa conversa, apesar do péssimo humor de Marcello que ela resolveu não questionar naquele momento. No dia seguinte do jantar com seus pais, Alessandra e Rodrigo vieram para uma coisa mais descontraída, sem muitas formalidade. Alexandre nem ao menos usou uma gravata.

— Giovanna! — ouviu a voz de Rodrigo ao longe.

Ela estava saindo da escola. Caminhava para a charrete quando ouviu a voz do amigo levemente ofegante. Rodrigo se aproximou com rapidez e a cumprimentou. Algumas pessoas na colônia olhavam sem entender quem era o homem.

A colônia italiana era como um pequeno bairro, lá eles construíram uma igreja, escola e comércios, lugares em que podiam viver como viviam em seu pais. Por Giovanna ser filha de uma italiana e falar o idioma muito bem, foi muito bem aceita para dar aula na escola, mas não eram todos os locais que eles aceitavam por perto.

— Rodrigo! O que faz aqui?

— Alexandre disse que nesse horário estaria saindo da escola, precisava da sua ajuda.

— Deixa eu adivinhar... aniversário da Alessandra. — Giovanna respondeu com um sorriso.

Rodrigo sorriu e concordou com a cabeça.

— Eu quero colocar um plano muito maluco em prática, e queria saber se poderia me ajudar.

— Claro, como seria?

— Quero me casar com Alessandra...

Giovanna o olhou sem entender.

— Quero me casar na igreja com ela. — ele completou para esclarecer. — Eu sei que é o sonho dela, eu vi como ela ficou no seu casamento. Não quero que ninguém tire os sonhos dela.

— É muito bonito da sua parte. — Giovanna falou sorrindo. — Mas como faria isso? Nenhuma igreja no centro aceitaria casar vocês dois.

— Por isso preciso da sua ajuda... ouvi dizer que a igreja da colônia é um pouco mais flexível e as pessoas aqui são mais simpáticas.

Ela sorriu, sabendo onde ele queria chegar. O Padre Ítalo era um grande amigo e lhe dava bons concelhos para ensinar as crianças. Ela queria que ele tivesse sido o sacerdote em seu casamento, mas até isso foi um exigência de sua mãe. Giovanna tocou o ombro do amigo e sorriu.

— Vamos falar com ele, venha.

Marcello olhava de maneira fixa pela janela. Ele simplesmente não conseguia entender o que diabos tinha acontecido para ela simplesmente sumir do mapa daquele jeito. De fato não apareceu mais na casa dos Hayden, já que ele viu uma nova babá com Augusto naquela noite. Ele não a encontrava caminhando na rua nem indo nas lojas. Será que tinha saído de São Paulo? Será que algo tinha acontecido com seu avô?

Quanta Sorte | GNOnde histórias criam vida. Descubra agora