Capítulo 4

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Em toda sua vida, Alexandre nunca tinha visto uma mulher tão bonita. ''Um dia você vai encontrar alguém que vai te fazer questionar até o seu nome, seu coração vai saltar pela boca, suas mãos vão congelar como o ártico...'' ouvia a voz de sua mãe em sua mente. Sentia tudo aquilo, se perguntava se ainda estava sonhando em sua cama, se ainda estava no inverno rigoroso de Londres de tão gelada que sentia sua mão, se ele poderia morrer de tão rápido que seu coração estava batendo. O olhar dela era duro, mas quente, os cabelos escuros como a noite no oceano atlântico, estavam arrumados em uma trança folgada, com fios caindo ao redor de seu rosto. Não sabia se era ela que deveria ter encontrado, mas essas coisas que sentiam... queria sentir pelo resto da vida.

— Filha! — Assunção  exclamou. — Primeiramente, isso não são modos de se falar com o Senhor Hayden, e isso não é roupa.

— Boa noite, Senhorita Antonelli. — Alexandre cumprimentou formalmente, tentando controlar sua voz para não evidenciar o quão encantado estava pela morena.

— Boa noite, Senhor. — ela disse firme. — Sei que Augusto é seu sobrinho e tem todo direito sobre ele, mas o garoto não sai dessa casa hoje.

— Me desculpe? — ele questionou sem entender.

Quem essa linda mulher pensava que era para controlar a ida e vinda de seu sobrinho? Certamente não a mãe dele.

— Giovanna! Basta! — Assunção  exclamou em voz grossa.

— Papai! — ela rebateu.

Certo, provavelmente o xodó do pai tinha a última palavra naquela casa, Alexandre pensou sarcástico. De repente a beleza dela foi diminuindo aos poucos. Alguém que ficasse entre ele e sua família... a única pessoa de sua família que restava... não seria vista com bons olhos por Alexandre.

— Senhor Antonelli, creio que possa pedir para alguém trazer o menino para baixo, não quero voltar tarde para casa.

— Claro.

— De jeito nenhum! — ela se aproximou perigosamente do homem, quase no limite do que era considerado próprio. — Está tarde, e frio! Augusto é uma criança, não deve andar na rua este horário.

— Eu posso cuidar do meu sobrinho, Senhorita Antonelli. — Alexandre rebateu com certa irritação.

— Não acredito nisso, já que o menino o esperou durante todo o jantar.

Alexandre balançou a cabeça e a apertou o chapéu em sua mão, se controlando para não perder a compostura com essa mulher.

— Eu cheguei hoje de Londres, senhorita... acabei pegando no sono, mas estou aqui e vou levar Augusto pra casa.

Assunção  via que o hall de sua casa explodiria a qualquer momento com os dois. A proteção que Giovanna tinha pelo menino um dia foi muito admirada, mas agora estava passando dos limites. A última coisa que precisava era de sua filha comprando briga com o herdeiro do império Hayden, tão importante no meio industrial no mundo inteiro.

— Eu sinto muito pela minha filha, Senhor. — Assunção  interviu. — Eu vou pedir para a governando pegar o menino.

— Espera! — ela pediu olhando nos olhos escuros do herdeiro.

Pela primeira vez via o quanto eles eram diferentes de todos os olhos que tinha visto, um brilho estranho, quase melancólico.  Alexandre tinha o olhar cansado, duro e triste, e ela se lembrou que provavelmente também estava difícil para ele. Perder a família toda e de repente assumir a responsabilidade sobre uma criança.

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