Capitulo 29

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Naquela manhã, Giovanna não desceu para o café. As dores no corpo realmente estavam levando a melhor, além da dor de cabeça que martelava desde o dia anterior. Era estranho pensar que as coisas podiam ruir de uma hora para outra, mas sua vida nesse momento provava que não só era possível como era extremamente doloroso. Deitada na cama, olhando para um ponto qualquer do papel de parede, ela deixava sua mente vagar para os momentos felizes e cheios de promessas nas semanas anteriores.

Parecia outra vida.

Alexandre não tentou se defender, não tentou negar. Provavelmente a culpa o corroendo como ácido. Ela se encolheu mais ainda na cama, pensando no homem que dizia lhe amar. Que ela arriscava dizer estar completamente apaixonada. Era um completo estranho agora.

Não entrava em sua cabeça como ele tinha sido capaz de mentir tão bem. Por vezes falaram da família do advogado e nem uma sombra da verdade tinha aparecido nas palavras dele. Alexandre tinha de fato matado o pai de sua vida. Um trauma? Uma história ruim? Poucas coisas que Richard pudesse ter feito justificariam tamanho desgosto vindo do filho.

Em sua mente se perguntava: se ele não teve consideração com o próprio sangue, como poderia ter consideração por ela? Nitidamente não tinha nenhuma.

Deitou-se de barriga para cima. A barriga vazia, o ventre seco. Lívia tinha lhe dito que o sangue não parecia o sangue de alguém que perdia um bebê, mas ela sentia que seu filho estava dentro dela nesses dias sozinha. Ela nutriu um amor por um bebê que nem existiu, mas que em sua mente era tão real.

Fechou os olhos, pousando a mão sobre o ventre. Via claramente uma menina de cabelos escuros como os do pai, olhos castanhos com aquele brilho intenso e único de Alexandre. Em sua mente a criança existia, mas na vida real ela esperava. Giovanna não estava grávida, provavelmente nunca esteve, e agora se perguntava se um dia estaria considerando que não conseguia nem ao menos olhar para Alexandre, quem dirá tocá-lo.

Como poderia tocar um completo estranho? Seu marido não era aquele homem que viu na noite anterior. Ele era bom, justo, honesto, e jamais faria o que o homem da noite anterior fez.

— Senhora? — foi interrompida nos devaneios pela voz de Lívia.

Giovanna virou a cabeça de modo a ver a loira parada na porta, as mãos juntas na altura da cintura, esperando.

— Não almoçou, gostaria que trouxesse seu almoço?

— Não estou com fome. — ela respondeu simplesmente.

— Precisa comer, senhora, ou vai ficar realmente doente. — Lívia falou preocupada.

Giovanna nada respondeu, apenas encarou a moça. A loira suspirou e apontou para a porta.

— Senhora Lombardi está na biblioteca, devo dizer que está indisposta?

A professora olhou para o teto e respirou fundo, considerando. A única possibilidade para Alessandra vir até aqui era Alexandre ter ido até Rodrigo como um desabafo. Ela mesmo poderia usar o ombro da amiga naquele momento. Sua mãe parecia algo completamente fora de mão, se ela dissesse para Catarina o que se passava pela sua cabeça, provavelmente levaria umas boas palmadas.

— Mande ela subir, por favor. — Giovanna pediu enquanto se sentava na cama, arrumando os cabelos bagunçados.

— Posso providenciar um chá e biscoito para vocês? — Lívia sugeriu, animada com a possibilidade da mulher comer alguma coisa.

— Claro, pode sim.

Não demorou muito para Alessandra bater em sua porta e entrar como se esperasse encontrar um cenário de guerra. Giovanna sorriu, triste, e guiou a amiga para varanda, onde tinha arrumada uma mesa para comerem algo. O dia não estava todo ruim, o sol fraco entre as nuvens ainda seria capaz de aquecer seu corpo.

Quanta Sorte | GNOnde histórias criam vida. Descubra agora