Capítulo 27

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Alexandre ficaria uma semana no Rio de Janeiro, e Giovanna já sentia sua falta no segundo dia. Acordou mais cansada, mais tonta, talvez por não ter conseguido dormir muito bem sem ele na grande cama. Seu café da manhã com Augusto foi bom, mas ela estava até sem fome para comer tudo que Mercedes oferecia.

Dar aulas na colônia, entretanto, estava cada vez melhor. Cada vez mais crianças e pais interessados que seus filhos tivessem educação para um futuro melhor. Ela abraçava essa causa com tudo o que tinha, e pensava seriamente se não estava na hora de expandir a escola para terem mais uma sala, quem sabe contratarem outra professora.

Conversaria com o Padre sobre isso.

Chegar em casa, porém, a deixava cabisbaixa. Tinha se acostumado com a companhia de Alexandre, com o cheiro dele pela casa, com a voz grossa conversando com Augusto, os risos. Já queria encontra-lo brincando com o menino no quarto dele, contando histórias. A presença de Alexandre era a alma dessa casa. Ele dizia não gostar muito daqui, mas sentia que isso estava mudando agora que criavam novas lembranças para essas paredes.

Lá para o sexto dia, Giovanna já sentia o corpo doer de saudade. Hoje, pelo menos, iria passar a noite da casa dos Lombardi. Foi convidada por Alessandra que também não via sentido na Giovanna ficar sozinha naquela casa gigantesca. Mercedes servia o almoço da senhora, mas via que quanto mais os dias passavam, menos ela comia.

— Senhora? Não está boa a comida? — perguntou ela ao ver a moça afastar o prato.

Ela fez uma careta antes de responder.

— Não sei... acho que não estou com fome, nada me desce. — ela levou a mão para a barriga e olhou para a governanta. — Pode pedir para fazerem um pão na chapa? Acho que é a única coisa que ficaria... e peça desculpas para a cozinheira, por favor.

— Giovanna... — Mercedes falou em tom de repreensão. — Há dias que não come direito, e Lívia me disse que não tem passado bem pelas manhãs... não acha melhor chamar um médico?

— Médico? Não... — Giovanna riu da sugestão.
— O que o meu corpo tem é saudade.

Mercedes olhou para os lados para ver se não tinha ninguém por perto antes de se sentar ao lado da mulher. Giovanna a olhou curiosa. Mercedes era tão séria, nunca tomava liberdade de sentar com eles nem para um chá, por mais que insistissem.

— Eu acho que a senhora deveria chamar um médico... pois acho que pode estar esperando uma criança. — ela falou em um tom delicado e baixo.

Giovanna olhou para baixo rapidamente e levou as mãos ao ventre, raciocinando a informação. Não era possível, era? Claro que era, com o tanto de vezes que se deitaram desde a primeira noite, não lhe surpreenderia. E pensando melhor, até sua regra estava atrasada, uma vez que sempre foi tão regular. Atribuía ao estresses das aulas, às novas de descobertas de seu corpo. Nem mesmo tinha percebido, simplesmente agradecia por ter mais dias de intimidade com Alexandre.

Agora a possibilidade da real causa fazia seu estômago embrulhar de ansiedade.

Não sabia se queria chamar médico ainda, não sabia se queria saber ainda. Não sem Alexandre por perto.

— Eu acho... difícil, Mercedes. — ela falou tentando soar convincente. — A escola está me deixando de cabelo em pé, deve ser isso.

— Bom, se a senhora diz, deve ter razão. — Mercedes se levantou sorrindo e tocou seu ombro. — Vou pedir para fazerem seu pão.

Quando Mercedes sumiu para a cozinha, Giovanna se permitiu acreditar na veracidade daquela teoria. Acariciou seu ventre com carinho, sorriu sem poder se conter. Ela esperava que ainda fossem ter mais um tempo para curtir a vida de casados um pouco mais, mas aparentemente os planos de Deus eram outros. Se estivesse de fato esperando, seria um grande presente para os dois.

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