Capítulo 36

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Alexandre não era um homem inseguro. Ele se repetia esse mantra na cabeça enquanto observava Giovanna tão entretida com João. Forçou sua mente para o porto de onde o Titanic saiu, e para o homem que seu pai tinha dito ser João. Apenas mais uma pergunta para fazer ao seu pai no dia seguinte. Por que diabos não tinha avisado sobre isso? Se ele se lembrava de tudo, provavelmente se lembrava desse homem, mesmo que não soubesse quem era Giovanna e nem sobre seu noivado com ele.

Ainda assim escreveu uma carta endereçada para sua esposa. Era como se a atraísse para cá. Fechou os olhos numa tentativa inútil de aplacar a raiva.

Entrou em passos lentos, caminhando até eles, até finalmente se fazer notado. Giovanna o olhou com um brilho que ele não viu nas últimas semanas desde que a notícia da morte de Paloma veio a tona, e ele se sentiu sobrando.

— Alexandre! — ela se levantou da cadeira, João se levantando junto em bons modos. — Você não vai acreditar! Esse é João! Ele está vivo!

A empolgação dela era contagiante, se Alexandre já não estivesse com um peso em sua mente. João estava vivo. Ele olhava para o homem, tão inocente, claramente sem um pingo de memória, e sentia péssimo.

— João. — ela chamou o homem. — Esse é Alexandre.

— Seu marido. — o homem concluiu sozinho, raciocinando as novas informações aos poucos.

— É um prazer te conhecer, João. — Alexandre falou, estendendo a mão com educação.

João o cumprimentou de volta, e Alexandre se voltou para Giovanna.

— Vamos, querida? — perguntou suavemente.

— Claro. — ela concordou antes de se voltar à João. — Eu volto amanhã para conversarmos mais.

— E sobre os meus pais?

— Hoje mesmo eu escreverei uma carta a eles. É o tempo de arranjarmos uma passagem para voltar conosco ao Brasil. — Giovanna falou com firmeza.

Alexandre a olhou curioso. Ela já pensava em tudo enquanto o advogado se sentia sobrando na conversa. Não seria inseguro, mas sentia que a afirmação dela no navio era um envio de Deus para que ele não se perdesse em seus pensamentos. Se Giovanna não tivesse dito que o amava... se ainda estivessem em pé de guerra como saíram do Brasil...

Na volta para o hotel, porém, Alexandre já estava calado com os próprios pensamentos. Não conseguia parar de imaginar que em seu lugar deveria estar João, e o quão simples a vida dela teria sido ao lado do homem. Como ele teria sido gentil em cortejar, como na primeira noite teria dormido ao lado dela ainda que não fizessem nada, como não a deixaria sozinha na primeira noite de casados, como de fato planejaria uma lua de mel. Se dedicaria a ela como ele não se dedicou.

Ao chegarem no hotel, Giovanna tirou o grosso casaco e se voltou para ele.

— Como foi com seu pai?

Alexandre se sentou perto da lareira e suspirou cansado.

— Estranho... era como se não fosse ele. Como se eu estivesse falando com uma pessoa completamente diferente.

Giovanna se aproximou dele, sentando-se em seu colo confortavelmente. Alexandre observava como ela estava em um humor leve. Ele envolveu os braços em sua cintura, mas não tinha coragem de encarar seu rosto. Temia que ela visse o ciúme estampado como tinta de jornal. Era ridículo. Giovanna o amava, era sua esposa. Nada dizia o contrário, a não ser o fato de que Alexandre não se sentia digno.

— É normal... — ela sussurrou, acariciando seu rosto. — Quer dizer... considerando tudo, acho que é normal estranharem.

— Ele tinha certeza que eu não viria.

Quanta Sorte | GNOnde histórias criam vida. Descubra agora