O reino do vazio

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Não havia castelo, nem fui profetizado. No entanto, dos confins do monte surgiram os três reis, cada um carregando um presente. A noite, desprovida de estrelas, refletia a falta de dignidade nos céus, onde não havia espaço para presépios, pois minha morada sempre fora além do lar. Ainda assim, os três reis consideraram-me digno de sua visita e, com grande alarde, desceram do monte.

O primeiro, imponente e vigoroso, possuía uma voz singular. Cada palavra pronunciada trazia consigo uma promessa que, embora vazia, encontrou morada no vazio que me habitava. Ele transformou as ruas em meu lar e fez do meu corpo sua presa. Como presente, ofereceu-me sua espada, uma lâmina pertencente a um guerreiro solitário que desconhecia a verdadeira guerra. A espada era frágil e o guerreiro, um vazio que se afogava na batalha que a vida lhe impusera, ao invés de enfrentá-la.

O segundo rei era doce, e nada tenho a dizer de mau sobre ele, pois nunca questionou nada. Estático e inerte, transformou-se em estátua de concreto. O doce rei petrificado em sua própria imobilidade.

O terceiro rei era louco. Não trouxe presentes, mas se apresentou como um anjo. Foi o anjo mais gentil do inferno, envolvendo-se numa dança em que conduziu com maestria cada passo. No compasso da melodia, sorriu e chorou, derramando lágrimas que quase me fizeram acreditar. Lamentavelmente, a queda dos céus o feriu.

Após as visitas, ergui um castelo majestoso, lançando os presentes do último andar e tornando-me rei de meu próprio reino. Incendiei o monte e desejei sorte aos reis.

Lágrimas de uma noite sem fimOnde histórias criam vida. Descubra agora