Companheiros de Cela

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    Outro policial me levou para uma sala, onde troquei minha Armadura por um uniforme laranja feio e depois fui levado para uma cela. Não é exatamente um quarto de hotel, mas ao menos é limpa.

    Haviam duas camas no quarto, e um cara de capuz me encarava pelo canto do olho, deitado.

   Engoli em seco.

— Seu irmão vai trazer suas roupas e itens pessoais amanhã pela manhã. Seu amigo ali vai te explicar como as coisas funcionam. Acho bom que vocês se dêem bem, você não vai querer fazer inimigos aqui.

     Disse o policial, cuspindo as palavras rudemente. O cara de capuz murmurou algo coisa para si mesmo.

— Alguma pergunta?

— Ahm... eu tenho uma pergunta. É sobre o-

— Guarde para si mesmo.

    Rebateu, virando as costas enquanto saía. Suspirei e me sentei na cama, desanimado. Não posso perder as esperanças assim tão fácil. No tribunal, eles verão que sou inocente. Sim, vai ficar tudo bem! Não há nada com o que o Magnífico Sans não possa lidar!

   Ergui a cabeça, e resolvi falar com o cara de capuz.

— Olá! Eu sou o Blueberry, parece que somos companheiros de cela. Como é o seu nome?

   Perguntei, mostrando meu melhor sorriso. Ele me fitou por alguns segundos, em silêncio.

— Dust.

   Respondeu, desviando o olhar. Seu tom de voz era rouco e baixo.

— É um belo nome! Você-

— Toda manhã eles fazem uma contagem dos prisioneiros, as 6:30. O café é às 8h, o almoço meio dia e jantamos 17h. Eles trancam as celas às 19h em ponto, esteja aqui nesse horário. Isso que injetaram em você serve pra inibir sua magia, e também colocam isso na comida. Seus poderes não funcionam aqui.

   Eu o encarei, um pouco confuso.

— Mas não me injetaram nada.

    Ele apontou para o meu braço, onde notei uma pequena marca de agulha. Como isso é possível? Enfiaram uma agulha no meu braço, e eu nem mesmo senti a picada!

— Não me pergunte como eles fazem isso.

   Disse, ainda deitado com o braço esquerdo apoiado sobre o rosto. Ele parecia um tanto alheio a minha chegada em sua cela.

— Então, ahm, quanto tempo eu espero até o julgamento? Eles não me deram um prazo. Eu vou pra uma lista de espera, ou...?

   Dust me encarou seriamente por alguns segundos, e então riu. Uma risada seca e áspera.

— Você realmente não sabe como as coisas funcionam.

   Ele balançou a cabeça, ainda rindo.

— Somos monstros, os Direitos Humanos não valem pra nós. Não tem julgamento: se acham que cometemos algum crime, jogam a gente aqui e acabou. Sem juiz, sem advogado, sem nada. É isso.

    Concluiu.

— O quê?! Mas isso não é justo!

— Pois é. A vida não é justa. 

   Cuspiu, já meio sem paciência. Pesadamente, me sentei novamente na cama. 

— Mas... eu... eu não fiz nada...

   Ele fez silêncio por alguns segundos.

Ele disse que sente muito.

    Respondeu finalmente, virando-se de costas para mim na cama. Com um suspiro, deitei novamente na cama e deixei a mente vagar até ser completamente tomado pelo sono.

ConfinadoOnde histórias criam vida. Descubra agora