Conversas Solitárias

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Cinco e meia da manhã. Ainda tenho algum tempo antes da contagem dos prisioneiros, então posso organizar minhas coisas no meu lado do quarto.

Ok, vamos pensar positivo. Poderia ser bem pior, não é? Ao menos é silencioso.

Bem, é quase silencioso. Vez ou outra meu colega de quando murmura coisas sem sentido para si mesmo, conversando sozinho ou com alguém que não posso ver. Ele é estranho, mas não parece perigoso.

Enquanto organizava minhas poucas posses no pequeno espaço que apelidei carinhosamente de "Quarto Legal", não consegui deixar de sentir uma pontada de curiosidade em relação a meu peculiar colega de cela.

O que será que ele tanto falava sozinho?

Intrigado, decidi tomar uma abordagem discreta para satisfazer minha insistente curiosidade. Sem fazer barulho me aproximei de sua cama e, como quem não quer nada, fingi estar ocupado organizando minhas coisinhas enquanto escutava atentamente suas murmurações.

A voz dele era sussurrante e parecia ecoar pelo quarto. Suas frases era meio desconexas, dificultando a compreensão do que ele estava dizendo. No entanto, havia algo intrigante em sua maneira de falar, como se estivesse mergulhado em um mundo interior. As vezes ele até mesmo parava e fazia silêncio, como se esperasse por uma resposta de seja lá quem que ele estivesse conversando.

É...muito bizarro. Mas quem sou eu pra julgar?

Apesar da estranheza da situação, não pude deixar de sentir uma certa empatia. A prisão era um lugar solitário e deprimente, onde a sanidade muitas vezes era posta à prova. Talvez ele só estivesse buscando uma forma de escapar da dura realidade da vida na cela?

Ou talvez seja algo mais profundo que isso?

Mesmo que o tempo todo houvesse um sorriso marcado em seu rosto, parecia torto e vazio. A voz rouca soava melancólica, meio falhada. Ele parecia... triste.

...

Ok, agora é oficial. Eu VOU ser amigo desse cara, nem que seja a última coisa que eu faça.

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