Psicose

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     Acordei subitamente no meio da madrugada. Estava suando frio e respirava ofegante. Sabia que tinha tido um pesadelo, mas não me lembrava de como era.

     Ouvi sussurros e notei que Dust estava sentado em um canto, encarando a parede.

— Dust?

    Ele não respondeu, apenas continuou murmurando. Falava rápido e desordenadamente, a voz trêmula, enquando mexia com a cabeça.
    Sem saber o que fazer, me levantei e caminhei até ele.

— Dust, você está bem?

— Cala a boca, cala a boca...

     Ele murmurava palavras embaralhadas e desconexas, como se estivesse discutindo com alguém que não estava ali. De repente, começou a hiperventilar e se arranhar.

— Não, para com isso! Você vai se machucar!

      Eu tentei segurar as mãos dele, mas ele me empurrou com força. Ele estava fora de si, e olhava em volta como se não reconhecesse o ambiente.

— Você não entende, ela já está vindo... ela vai matar você, ela vai matar todo mundo…

      Ele se encolheu no canto, arranhando os braços com força. Todo o seu corpo tremia, e lágrimas escorriam por seu rosto. Senti uma pontada de medo. O que ele tinha visto ou ouvido para ficar assim?

Eu me aproximei dele devagar e me ajoelhei ao seu lado, tentando acalmá-lo.

— Ei, sou eu, seu amigo Blue. Você não está sozinho, eu estou aqui com você. Ninguém vai te machucar. Você está seguro aqui, você está bem.

Eu estendi a mão para tocar o seu ombro, mas ele se afastou bruscamente, como se eu fosse fazer algo contra ele.

— Fica longe!

Ele me olhou com raiva e medo, e eu recuei, chocado.

— Calma, Dust, não é real! Você está confuso. Você precisa de ajuda, eu não quero te machucar, eu quero te ajudar!

Eu tentei falar com calma e firmeza, mas ele não me ouvia. Estava fora da realidade.

Ele estava tendo um surto psicótico.

Naquele momento eu não sabia o que fazer. Não podia deixá-lo assim, mas também não podia ajudá-lo sozinho.

Eu estava angustiado e comecei a entrar em desespero. Olhei para ele, que ainda se debatia e se arranhava, respirei fundo e corri até a porta da cela.

— Ei!! Ajuda!! Ele precisa de um médico! Por favor!

*Você gritou por ajuda.

. . .

*Mas ninguém veio.

    Droga, eu estava sozinho.

Olhei pra ele, que continuava no canto, em crise.

— Por favor, para com isso, você tá me assustando!

—  Irmão, eu não tive escolha, eu juro, eu não tive escolha... ela ia matar você...

   Naquele momento, uma uma ideia brotou na minha mente. Corri até ele e me ajoelhei ao seu lado novamente.

— Olha pra mim, sou eu, seu irmão! Eu estou bem, estou seguro, olha! Estamos bem!

Ele me encarou por um momento, confuso.

— N-não, você....você morreu, eu matei você...

   Eu neguei com a cabeça e segurei seus braços pra que ele não se machucasse mais.

— Não, sou eu! Sou eu, eu estou bem, estou vivo, olha! Estou aqui com você, tá vendo?

— Mas ela tá-

— Não tem ninguém atrás da gente, estamos seguros aqui! Olha, tem grades e os muros são altos, ninguém pode entrar aqui!

Ele olhou em volta, e pareceu reconhecer o lugar.

— E eu estou aqui, não vou embora. Eu te prometo, vou ficar vivo pra você, okay?

Um pouco mais calmo, ele assentiu com a cabeça. Aos poucos, começou a respirar devagar.

— Viu? Tudo bem. Ninguém vai te machucar.

Murmurei, encarando-o nos olhos. Ele assentiu:

— ... obrigado.

Ainda que um pouco apavorado, eu o abracei. E ele me abraçou de volta.

Depois disso, parei de ter medo dele.

ConfinadoOnde histórias criam vida. Descubra agora