Aliados

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Quando cheguei em minha cela, Dust já estava lá. Sentado em sua cama, encostado na parede, girava um canivete nas mãos, passando-o agilmente entre seus dedos.

Me sentei do lado dele.

— Você vai se machucar.

— E daí?

— E eu não quero que você se machuque!

Ele revirou os olhos e continuou a brincar com a lâmina.

Um minuto de silêncio, dei um suspiro.

— Eu não te vi na sala de visitas.

Ele deu de ombros.

— Eu não estava lá.

— Sua família não veio te ver? E seus amigos?

Ele parou e encarou a parede por um breve momento.

— Não.

Murmurou, em voz baixa.

— Ah...

Mais alguns segundos de silêncio.

— Sabe, os meus amigos também não querem me ver.

Ele inclinou a cabeça na minha direção, ainda sem me olhar diretamente.

— Eles acham que eu matei ela, a minha afilhada. E eu estava lá, eu vi o assassino saindo pela janela. Eles não acreditam em mim, mas eu nunca... eu nunca faria isso. Agora eles me odeiam.

Dust escutou com atenção, mas não ousou dizer uma palavra.

— Deixa pra lá...eu-

— Eu acredito em você.

Murmurou, olhando pra mim, e foi a primeira vez que vi a cor dos orbes em seus olhos. Heterocrômicos. Havia neles um quê de insanidade mas, também, de sinceridade.

Dei um sorriso breve.

— Obrigado.

Ele assentiu e voltou a girar a lâmina. Lembrei, então, de Killer e Horror. Do que me disseram para fazer e do que aconteceria com meu lindo pescoço se eu não colaborasse.

Engoli em seco.

— Então, uhm, Dust...

Ele me encarou de soslaio.

— Você não tem vontade de, sei lá, dar o fora daqui...?

Por um momento, ele estreitou os olhos, desconfiado, e então respondeu:

— Killer está te incomodando? Posso dar um jeito nele se você quiser.

— O quê?! Não, não! Eu... ele só...uh...

Gaguejei, meio nervoso, e ele balançou a cabeça.

— O que eles querem?

— Que você os ajude a fugir.

Dust revirou os olhos.

— Claro, que novidade.

Murmurou, ainda girando o canivete nas mãos. Finalmente, largou a lâmina e se virou para mim.

— E você?

— Eu?

— É. Você quer sair?

Pensei por alguns segundos. A resposta mais óbvia seria "sim", mas preferiria que fosse por meios legais. A ideia de fugir não me era lá muito atrativa, apesar de tentadora.

Mas, se eu era inocente, não deveria estar preso. Então na verdade eu não estaria fugindo, apenas reavendo meu direito de liberdade de maneiras não convencionais.

Resolvi arriscar.

— Quero.

Ele suspirou.

— Tá.

Por alguns segundos, fiquei pensando no que esse "tá" poderia significar. Seria um "tá, problema seu" ou um "tá, vou ajudar"?

— Então...?

— É. Eu ajudo.

Não pude deixar de ficar um pouco surpreso.

— Sério? Fácil assim? Pensei que ia me matar.

Ele deu de ombros.

— Eu ia. Mas você não é tão irritante como eu imaginei.

— Isso é um elogio?

— Talvez.



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⏰ Última atualização: Apr 20 ⏰

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