Mosca na Sopa

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Esses dias, uma coisa engraçada aconteceu comigo. Um monstro esqueleto alto se aproximou de mim, com um sorriso que ia de um canto a outro. Tinha um olho vermelho sangue, e metade de seu crânio estava quebrado.

Ele parou em frente ao balcão e ficou me encarando. Havia alguma coisa assustadora em seu olhar.

— Olá, senhor criminoso! Tudo bem? Gostaria de algo?

Ele não disse nada, nem mesmo piscava. Mas estendeu um prato de sopa na minha direção, alternância o olhar entre mim e o prato.

— Óh! Você quer mais sopa?

— Mosca.

— ...o quê?

M o s c a.

Olhei para o prato. Uma infeliz criaturinha alada boiava na sopa quente.

— Óh, não! Eu sinto muito, você quer outro prato?

Ele me encarou, parecendo confuso. Provavelmente, "você quer outro prato?" não é algo muito escutado na cadeia.

Ele negou.

— Não. Eu quero mais.

— Mais? Mais sopa?

— Mais mosca.

Não pude deixar de rir, ele inclinou a cabeça para o lado.

— Haha, você é engraçado!

— ... é sério.

Cocei a cabeça, meio sem graça. O sujeito realmente mão estava brincando. Ele queria MESMO mais moscas na sopa.

É cada maluco que me aparece.

— Ahm, então, eu peço desculpas, mas... eu não tenho como colocar mais moscas na sua sopa.

Ele pareceu profundamente decepcionado.

— Nem uma?

— Não.... sinto muito, amigo. Mas talvez eu possa te oferecer um pouco de queijo pra sua sopa?

De um segundo para o outro, ele pareceu se iluminar.

— Queijo? De verdade? Tipo, queijo mesmo? Onde você conseguiu?

— Uh.... sim? Tem queijo na dispensa. Não é da melhor qualidade porque, bem, estamos na cadeia....mas dá pro gasto!

Ele abriu mais ainda seu sorriso.

— Gostei de você. Como é o seu nome?

— Blueberry, mas pode me chamar só de Blue.

Ele assentiu.

— Blueberry? Espera, não é você está na mesma cela que o de capuz?

— O de capuz? Quer dizer o Dust? Sim, eu mesmo!

— E você ainda está vivo? Uau, ele deve estar de bom humor essa semana.

Franzi o cenho. O que ele queria dizer com "ainda"?

— Como assim?

— Bem, ele matou os últimos dois companheiros de cela. Ele não é muito bom da cabeça... fica falando com o irmão morto o tempo todo.

— Oh, eu não sabia... o que aconteceu com o irmão dele?

— Ninguém sabe. Dizem que foi assassinado.

Fizemos silêncio por alguns momentos.

— Então.... você vai pegar o queijo?

— Ah, sim, claro! Um minuto...

Fui até a dispensa e peguei um pedaço grande de queijo. Algumas partes estavam mofadas, mas o cara disse que não gostava de desperdício e aceitou assim mesmo.

Estranho? Sim, mas ele até que era legal. "Horror", era o nome dele.

Ao final do período de almoço, lavei as louças e voltei para a minha cela.

Dust estava sentado em sua cama, brincando com um estilete que balançava de um lado para o outro. Eu o encarei por alguns momentos antes de comentar:

— Eu, ahm... acho que não podemos ter objetos cortantes aqui.

Ele me ignorou e continuou distraído com a lâmina, que girava entre seus dedos.

— Você pode acabar se machucando...

Por um momento, ele franziu o cenho e então parou.

— E você se importa?

Cruzei os braços, estranhando a pergunta.

— Ora, é claro que eu me importo!! Eu não quero que você se machuque!!!

Ele pareceu pensativo por alguns segundos. Seu olhar encontrou o meu, e por um instante me senti ameaçado.

Ele desviou o olhar.

— Você me lembra alguém que eu conheço.

E voltou a balançar o estilete entre os dedos.

Não consegui dormir naquela noite.

ConfinadoOnde histórias criam vida. Descubra agora