Capítulo 25

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Liz

Depois de rejeitar sua primeira ligação de hoje e ignorar todas mensagens de Rui. Resolvo levantar mesmo não tendo conseguido dormir esta noite. Vou tomar um banho para ver se diminui essas olheiras e se me dá coragem para fazer algo a não ser ficar na cama. Já está na hora de limpar a casa mesmo.
Uma ligação interrompe meu banho quente, não tive coragem para lavar o cabelo com água fria, seco a mão na toalha e alcanço o celular para enfim rejeitar outra chamada de Rui, realmente não quero falar com ele. Mas para minha surpresa, é o nome de Daiane que aparece na tela.
— Oi.
Atendo a chamada.
— Liz, bom dia. Tenho uma ótima notícia.
Fico quieta esperando que me conte. Desligo o chuveiro, ainda com shampoo no cabelo.
— A máquina copiadora chegou hoje do conserto. Já fiz um teste e ela está perfeita de novo.
Eu me esforço para vibrar por Daiane.
— Que bom.
É tudo o que consigo.
— Pode começar a trabalhar o quanto antes. Lembre-se que são vinte e duas ilustrações do personagem principal.
Pego uma toalha e a envolvo em mim. É estranho conversar com alguém enquanto estou nua.
Ela dá uma risadinha, animada, enquanto eu fico cada vez mais nervosa. Não posso ver Rui para ilustrá-lo logo agora.
As coisas que Cíntia me disse ontem me fizeram tão mal que mesmo tendo exagerado em dizer que estou traindo Otávio, me fez perceber que tem razão em estranhar que depois de apenas um ano de sua morte já assumi um namoro. Ela tem razão em estar com raiva de mim e até enojada.
Meus olhos ficam marejados em admitir isso em pensamento. Por um tempo eu realmente achei muito feio e ruim o que sentia por Rui, mas hoje vejo nosso relacionamento tão bonito. Quem sabe podemos ter algo daqui um tempo, uns anos, talvez. Não quero manchar a honra de Otávio, devo-o respeito. Agora realmente está cedo para eu ter alguém, cedo para eu ser feliz de novo. Só não tenho ideia de como vou trabalhar com Rui depois de tudo isso e esconder meus sentimentos. Já tentei uma vez e falhei. E creio que agora será ainda mais difícil.
— Liz? Está aí?
Pisco, fugindo da minha auto-reflexão repentina.
— Sim.
— Vai poder voltar a trabalhar, não está feliz?
— Claro.
Forço uma risada.
— Quando mesmo que tenho que entregar o trabalho?
Digo em seguida.
— No sábado de manhã.
Daiane parece ficar nervosa.
— Não acredito que esqueceu.
Se ela soubesse por tudo que estou passando agora, acreditaria.
— Está tudo sob controle.
Ponho a mão na testa, imaginando que só tenho pouco mais de uma semana para terminar as ilustrações.
— Assim espero. Eu confiei esse trabalho a você. O meu trabalho.
Ilustrar o primeiro livro de uma editora renomada é realmente um privilégio.
— Tem minha palavra, Daiane. Confie em mim. Eu já te deixei na mão alguma vez?
O silêncio é sua resposta.
— Está bem.
Ela respira fundo.
— Até sábado.
Eu a respondo e ela encerra ligação.
Volto a pendurar a toalha para enfim terminar meu banho, ponho a mão no cabelo e noto que ainda tem espuma do shampoo, logo ligo o chuveiro.
Penso que preciso reunir coragem para ligar para Rui e marcar nosso próximo encontro de trabalho. Sei que tem que ser logo, mas não precisa ser hoje. Estou enfadada por tudo que aconteceu ontem, vou me dar o dia de descanso. Amanhã ligo para ele.
Saí do banho enrolada na toalha igualmente minha cabeça. Vim para o quarto e vesti uma roupa de casa, agora já estou terminando de secar o cabelo com meu difusor. Eu me ver bonita, melhora meu humor. Depois de respirar fundo, até que sai um sorrisinho para meus cachos definidos.
Começo a arrumar a roupa que usei ontem à noite, que está jogada na cama, pego a bolsa do chão e deixo cair algo. Os bilhetes do parque radical que Rui e eu não usamos. Depois de ter melhorado, uma vontade incessante de chorar me abraça de novo. Eu me jogo na cama com os bilhetes na mão tão irritada por Cíntia ter me encontrado e ter me humilhado daquele jeito, ainda mais na frente de Rui, que não tem culpa de meus sentimentos. Ela interrompeu nosso passeio, nossa alegria e não tive nem a oportunidade de ouvir o que ele queria tanto me dizer em particular.
Viro para o lado de Otávio da cama, lembrando que só ele sabia lidar com sua irmã, que sempre fora complicada. Seria muito errado pensar no que ele faria nessa situação?
Viro de barriga para cima de novo, dessa vez mirando o teto turvo e encarando a óbvia resposta.
Claro, claro que seria.
Então alcanço a primeira gaveta da mesa de cabiceira e pego aquele remédio que tomava para dormir quando estava depressiva. Pego dois e tomo, esperando só acordar amanhã.

Um passo de cada vez (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora