Capítulo 2:

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Na noite de sábado, o Kim estava em seu quarto lendo, quando ouviu um barulho vindo dos fundos da loja. Ficou com medo, pois já estava tarde da noite e achou que poderia ser alguém tentando entrar na loja. Pegou uma panela grande, que estava em cima da pia, juntou o pouco da coragem que tinha e foi verificar de onde vinha o barulho.

Desceu as escadas no escuro, quase caiu com susto de outro barulho vindo dos fundos. Respirou fundo e continuo a descer os degraus. Viu algo se mexendo próximo as latas de lixo que estavam ali. Tentou olhar de longe, mas não conseguiu enxergar nada.

Foi se aproximando aos poucos, morrendo de medo de ser alguém perigoso ou um bicho.

“É grande demais para ser um gato ou cachorro” pensou o Kim.

Quando chegou bem próximo a porta, olhou pela janela que tinha ao lado e viu que era um garoto, pequeno, procurando alguma coisa. Ele aparentava estar machucado.

O Kim deixou a panela no chão perto da porta e abriu devagar, para não assustar o garoto. O menor notou que alguém abriu a porta e se assustou.

DS: Por favor! Não o me machuque, por favor. Eu ..

O Kim observou o garoto, que estava assustado e aparentemente machucado. Tinha que ajudá-lo.

TH: Calma, não vou te machucar, como se chama?

DS: Kang, Song Kang. Eu só estava procurando algo para comer, não vou incomodar. – Disse o menor assustado com o que o Kim poderia fazer com ele.

TH: Me chamo Kim Taehyung. Você está bem? Parece machucado.

KG: Não diria bem, mas tentando sobreviver, talvez? – disse com um pequeno sorriso triste.

TH: Certo, entre. Vou pegar algo para comer e umas roupas limpas, acho que tenho alguma coisa que servir em você. – Disse o Kim com um sorriso doce no rosto.

KG: Hm .. tem certeza que posso entrar? Não quero ser um incômodo.

TH: Não tenha medo, entre. É melhor do que ficar aí, está frio.

Ambos entraram na loja, o Kim acendeu as luzes e viu o estado que o garoto estava. Com apenas uma calça rasgada e uma blusa fina, percebeu também que o menor tinha algumas marcas pelo rosto.

O coração do Kim apertou, sabia como era estar naquele estado, lembrou do tempo em que teve que morar na rua e procurar comida no lixo. Afastou aquele sentimento e as lembranças ruins e decidiu que iria ajudar o menor, do mesmo jeito que ajudaram ele.

TH: Vamos subir para o meu quarto, vou pegar umas roupas e você pode tomar um banho, enquanto preparo algo para comer. Pode ser?

KG: Se não for incômodo, eu aceitaria sim. Prometo que é só por hoje, amanhã já irei embora.

TH: Conversamos sobre isso depois, ok? Agora vem.

Antes de subir para o quarto, o Kim se certificou que havia trancado tudo novamente, passou na cozinha da loja e pegou algumas coisas para dar de comer ao menor. Falaria com o Sr. Choi logo de manhã, assim que o mais velho chegasse à loja.

Taehyung pegou algumas roupas que achou que serviria em Kang e entregou a ele. Mostrou onde era o banheiro, onde tinha os produtos de higiene que precisaria e disse que ia fazer algo para ambos comerem.

Enquanto Kim cozinhava, Kang terminou seu banho, deixou a toalha onde o outro havia pedido e seguiu o cheiro de comida até onde o outro estava cozinhando.

KG: O cheiro é ótimo. Obrigado, de novo, por me ajudar.

Taehyung se assustou ao ouvir a voz do menor, estava distraído e não percebeu que o mesmo havia terminado o banho.

TH: Oh, já terminou? Se senti melhor agora? Já estou terminando aqui, sente-se.

KG: Sim, faz tempo que não sei o que é um banho quente. – Disse com um sorriso triste no rosto.

TH: Entendo. Deve estar com fome, certo? Quantos anos tem Kang?

KG: Muita fome, não como tem dois dias. Tenho 17 anos e o Srº?

TH: Não me chame de senhor, sou só um ano mais velho. Fiz bastante comida, pode comer o quanto aguentar. – Disse  desligando o fogo e colocando a panela em cima da pequena mesa que havia no quarto. Sentou no banco do outro lado da mesa, de frente para o menor.

TH: Certo, quer me contar o que aconteceu para estar na rua? Não tem família? Se estiver desconfortável em falar, não precisa, ok? – Disse com uma voz doce e gentil.

Kang se sentiu bem na presença do outro garoto, não sabia o porquê, mas podia confiar nele. Então, ele contou sua história.

KG: Eu tinha uma família, não sei bem se posso chamar eles assim. Alguns meses atrás perdi minha mãe e bom, meu pai nunca me aceitou, acho que nunca quis ter um filho, ainda mais um filho gay. Então, logo após o enterro dela, ele me expulsou de casa. Não tinha dinheiro e não posso trabalhar ainda, então fiz o que puder pra tentar sobreviver. Mas sabe como são as coisas na rua, né? Todo dia é uma luta pra tentar sobreviver. – O menor já estava com os olhos lacrimejando, a qualquer momento desabaria no choro. Mas respirou fundo e continuou. O Kim ouvia com atenção e dor no coração.

KG: Eu já tentei ir atrás de emprego, mas quem contrata um menor de idade, sem nada? Durante a noite eu tento procurar lugares escuros para me esconder dos caras da rua. Mas nem sempre dá certo. – Disse abaixando a cabeça e olhando o prato. Comeu mais um pouco de macarrão, estava tão bom ou ele é quem estava morrendo de fome.

TH: É horrível, já passei pelo mesmo. Morei um ano na rua, até encontrar pessoas boas que me ajudassem. E bem, vou fazer por você o que fizeram por mim Kang. Aqui não é o melhor lugar do mundo, mas dá para nós dois. Se você quiser, claro, não vou te obrigar. – Disse o Kim com um sorriso.

TH: Falarei com o Srº Choi, o dono daqui, na Segunda-feira  de manhã, amanhã é domingo e não abrimos. Estamos precisando de mais uma pessoa para me ajudar na loja. Acho que ele não se importaria em ajudar.

KG: É.. É sério? – Perguntou o garoto animado. - Eu aceito sim, faço qualquer coisa. Obrigado, Srº Kim, muito obrigado mesmo.

Kang estava sorridente e com os olhos brilhando. Enxergou ali uma oportunidade de sair das ruas e mudar de vida.

TH: Aí, não me chame de Srº garoto. – Disse com a mão no peito, fingindo se sentir ofendido.  - Pode me chamar de Taehyung ou só Tae mesmo.

KG: Ok, Tae. Hum, e você pode contar um pouco da sua história? – Disse o menos curioso em saber como o outro havia ido parar nas ruas.

TH: Bom, quando eu tinha 10 anos ...

O Kim contou tudo o que aconteceu com o mesmo, não para se fazer de vítima e sim dar uma luz ao menor. Para que ele entenda que independente de tudo que já havia acontecido com ele. Ele ainda está ali, de pé e bem.

KG: Nossa, eu sinto muito Tae. Não sei o que dizer. – O menor já havia derramado algumas lágrimas, enquanto o Kim contava sua história.

TH: Isso ficou no passado, eu deixo isso lá e sigo minha vida. Bom, vai comer mais?

KG: Oh, não estou satisfeito. Obrigado. – Juntou as mãos e se curvou para agradecer.

TH: Você agradece demais Kang. – Sorriu – Vou fazer uma cama para você dormir, ok? Espere aqui.

10 min depois, ambos já estavam deitados em seus lugares, para dormir.

TH: Precisa de mais algum cobertor? Está com frio?

KG: Nunca estive tão quentinho hyung. Obrigado!

TH: Tudo bem. Boa noite, Kang.

KG: Boa noite Tae.

Antes de conseguir pegar no sono, o menor ficou pensando. Já havia perdido as esperanças de que um dia alguém pudesse lhe ajudar, não tinha a menor ideia de quando tomaria um banho, comeria uma comida decente e dormiria em uma cama quente. Olhou para o teto, como quem olha para o céu e agradeceu a quem quer que fosse, pelo anjo da guarda que haviam te enviado. Taehyung foi o fio de esperança que o menor tinha encontrado.

Esperança - TaeyoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora