Um suspiro me escapa assim que a última folha é preenchida e eu posso, finalmente, projetar em minha cabeça todos os planos malignos que tenho para essa sexta-feira à noite e para o final de semana. E isso se resume em duas deliciosas ações: dormir e comer. Talvez não exatamente nessa ordem. Minha vida é monótona, mas não me importo com isso. O que importa é o meu direito merecido de ir para casa fazer absolutamente nada.
Meus dias são recheados com um trabalho que é praticamente exaustivo – eu sou Arquiteto em uma grande e renomada empresa – e séries bem tediosas todas as noites quando todos os meus neurônios estão fritos demais para que eu raciocine algo produtivo. Acontece que depois que me formei na faculdade, me afastei de tudo e todos, foquei unicamente no meu desejo de ser bem sucedido.
E eu ainda não alcancei tal objetivo.
Não cheguei no nível de trabalhar por projetos únicos, como grandes arquitetos. Não. Eu faço de tudo um pouco na empresa, não tenho um roteiro específico a seguir. Construo projetos incríveis, confesso, mas ainda tenho muito a crescer. Sendo honesto, tenho em minha mente que um profissional excelente sempre tem muito a construir para continuar em tal excelência.
Eu nunca gostei muito de conviver com outras pessoas, o que é muito bom porque trabalho sozinho, mas faz com que me sinta solitário algumas vezes. Isto é, eu nunca me enfiei em um relacionamento, me satisfiz com diversões de uma única noite onde sempre saí frustrado e desejando nunca repetir o mesmo erro. Mas eu o repeti, claro.
Sendo sincero, eu não gosto da minha vida atualmente. Sei que um dia eu talvez a aprecie, mas agora só me vejo como um jovem que mais parece um idoso, exceto que alguém mais velho certamente teria muito mais histórias para contar do que eu. O que posso dizer sobre mim, exatamente?
Park Jimin, vinte e cinco anos, solteiro, arquiteto, formado na faculdade há dois anos, trabalho e assisto séries no tempo livre. E é só isso. Eu não faço nada além disso. Não tenho amigos, não gosto de conversar com quem eu conheço e sequer de conhecer novas pessoas. E é isso.
Só que, apesar de estar habituado com minha rotina estressante e, confesso, chata, algo muda quando estaciono o carro na garagem. Isto é, eu tive a sensação de ver uma pessoa na minha calçada. E isso é insano, porque está chovendo como se estivéssemos prestes a ter outro dilúvio!
Penso duas vezes antes de averiguar o que está havendo, porque minha garagem tem porta para dentro de casa e isso significa que posso entrar tranquilamente sem me molhar. A outra parte de mim, no entanto, não conseguiria sossegar enquanto imaginasse que alguém está precisando urgentemente da minha ajuda.
Por esse motivo, pego o meu maior guarda-chuva e deixo tudo que poderia estragar em cima da bancada ao lado da porta – como meu relógio, meu celular e meus documentos – e é só com a roupa no corpo que vou até quem quer que seja na calçada.
Assim que me aproximo levo um susto. É um garoto!
— Ei, está tudo bem? — Ele treme e se assusta quando nota minha presença. Seus olhos arregalados demonstram medo. — Não vou machucar você.
Apesar de afirmar isso, ele se encolhe ainda mais contra o cobertor lilás repleto de desenhos que para mim não fazem sentido. Ele possui olhos da mesma cor que a coberta, fazendo-me pensar que a lente é extremamente bonita. Ele, como um todo, com os cabelos loiros e compridos, olhos que carregam lentes lilases e enrolado em um cobertor, encharcado pela chuva, é muito bonito.
— Who are you? — Ele indaga, repentinamente, me assustando brevemente pela mudança brusca de idioma. — Chi sei? — E eu continuo perdido.
Ainda ouço outras coisas que não compreendo, como: "¿Quién eres tú?" e "Qui es-tu?".
— Você não sabe falar coreano? — É minha última tentativa, ou teria que apelar para o uso de um tradutor.
O garoto parece perdido, olha um ponto fixo que não sei identificar e treme conforme se encolhe mais. Talvez esteja com muito frio, não consigo enxergar o quanto de roupas ele está usando, e mesmo que eu esteja com o guarda-chuva sobre nós, ele provavelmente pegou muita chuva antes que eu chegasse ali. De onde ele veio, afinal?
— Quem é você? — Ele é dono de uma voz grossa e, ainda assim, sutil. Me arrepia, me traz uma sensação incrível e inexplicável de paz.
— Eu me chamo Jimin. — Digo em meio a um sorriso. Ainda estou confuso e, sinceramente, preocupado, mas ele não parece querer me machucar. — E você?
— Saturno. Meu nome é Saturno. — Ele sussurra, olhando um outro lugar antes de voltar os olhos até mim. As írises coloridas entram em contato com as minhas e me deixam preocupado ao vê-las banhadas em lágrimas. — Eu caí.
— Caiu?
— Lá de cima.
E quando ele aponta para o céu, outra vez fico confuso. Mas, sinceramente, não tenho tempo para raciocinar a respeito disso uma vez que ele emite um grito alto quando um trovão irrompe no meio da chuva. Ele parecia uma criança indefesa, o que me preocupou e assustou ainda mais.
Não. Eu não vou levá-lo para dentro da minha casa, não é? Ele é um homem estranho, que talvez esteja alucinando e falando coisas aleatórias que não fazem sentido algum na minha cabeça. Eu não posso fazer isso, e...
— Vamos entrar, você pode se resfriar.
Não. Não é isso que eu devo fazer, poxa! Não acredito que sou burro a esse ponto. E se ele for um psicopata? E se ele for um maníaco? E se...
— Você vai cuidar de Saturno? — Os olhos marejados são donos de uma esperança que dói em meu peito. Outra vez digo, ele parece uma criança assustada. — Eu me machuquei.
Não vou, não. Eu não posso cuidar de...
— Vou sim. Venha comigo.
E quando ele segura em minha mão para levantar, agarrado em seu cobertor, algo em mim estremece. Minha pele arrepia, também, mas em nada se compara ao quanto meu coração acelera com aquele mísero contato.
Ok. Talvez eu possa mesmo tomar conta dele e tentar entender quem diabos é Saturno.
Só espero, de coração, não me arrepender por isso.
🪐🪐🪐
Olá, meus amores. Eu não sei nem colocar em palavras o quão ansiosa eu estava para desenvolver esse plot, que tenho comigo guardado desde 2021. Ele só ganhou sua atenção merecida este ano, mas, aaa, eu amo demais.
Quem me conhece sabe do meu amor pelo céu, pelo universo como um todo (tenho um saturno tatuado, que é o planeta do meu signo, as fases da lua, outra lua no braço, a constelação do meu signo e por aí vai), então essa história possivelmente se tornará meu novo xodó.
Ela é leve e sutil, pra distrair e se apaixonar por um Jungkook um pouquinho diferente.
Enfim, espero que gostem. Capítulos serão postados semana sim e semana não ♥
beijinhos e até o próximo ♥
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As Estrelas de Saturno | jjk + pjm
FanfictionPark Jimin levava uma vida monótona, baseada em seu trabalho cansativo ao longo do dia e séries tediosas todas as noites. Não gostava de conviver com outras pessoas, não tinha amigos e raramente saía com seus colegas. Ele não gostava da vida que tin...