As Estrelas de Saturno | jjk + pjm

Sentimentos confusos

Jeon Jungkook

A pergunta de Jimin ecoa por minha mente repetidas vezes assim que ele a faz. Porque, de verdade, eu não parei para pensar nisso. Ficar aqui com o Ji, longe da minha família? Longe do lugar em que me sinto confortável e acolhido? Saturno não é perfeito, mas lá nós não temos guerras, não temos qualquer tipo de preconceito que seja. Todos são tratados como igual, não observamos gênero, traços, personalidade, sexualidade.

Ao mesmo tempo, a ideia de ficar longe dele também me assusta. Sabonetes são cheirosos na Terra, a comida é muito mais saborosa também. E Jimin... o cheiro dele, o gosto dele, tudo dele. Os cabelos macios, a boca que tem o sorriso mais bonito de todos, os olhos que são como as minhas estrelas favoritas.

Viver sem Jimin me soa como a pior dor do mundo.

Mas o fato de eu não saber o que dizer deixa um clima desconfortável entre nós. E é dando de ombros que ele tenta quebrar isso e só me deixa pior ao dizer:

— Não é algo importante, não é? Não se preocupe.

— Ji... — Tento chamar, mas ele nega com a cabeça. — Amor...

— Vamos almoçar.

Jimin me ignora completamente e eu sinto meu coração doer por isso. Ainda assim, não insisto, porque não quero piorar a situação. Eu não consigo colocar para fora tudo o que estou sentindo, não consigo dizer a ele que é difícil decidir entre ele e meus pais. Eu amo os três, como poderia decidir entre as minhas três pessoas favoritas no universo?

Como meus pais se sentiriam se eu fizesse essa escolha? Talvez eles aceitassem, visto que meu pai abandonou tudo na Terra para ir a Saturno com a minha mãe e me ter lá.

Mas como eu mesmo me sentiria? A saudade dos meus progenitores dói todos os dias, ameniza pouca coisa quando consigo me conectar a eles por meio da minha pulseira.

Eu sigo Jimin para fora de sua sala e me sinto péssimo. Ele estava radiante de feliz com a notícia de ser promovido e eu estraguei tudo com esse meu jeito infantil e imaturo para lidar com situações novas.

Nós apenas atravessamos a rua do prédio em que ele trabalha e adentramos um restaurante. Parece de comida tradicional coreana, como alguns que Jimin já me levou algumas vezes, e eu me sinto confortável quando ele pede o que sabe que eu gosto, mas sem pimenta porque não quer piorar minha dor na garganta.

Mesmo chateado comigo, ele ainda se importa o suficiente para cuidar de mim e me tratar bem.

O clima segue ruim, mas nós nos sentamos juntos, frente a frente, e Jimin solta um suspiro cansado.

— Você quer refrigerante ou suco? — Ele pergunta sem nem me olhar, encarando a atendente parada ao nosso lado.

— Pode ser suco. — Digo baixinho.

Eu odeio ser ignorado, especialmente por ele. Eu vivi tanto tempo lidando com tudo sozinho, que criei uma bolha ao redor de Jimin e eu quando o conheci, para nos proteger e impedir que eu precisasse aprender de novo a ser sozinho. Em Saturno todos trabalham para a sobrevivência do nosso planeta, meus pais quase não ficam comigo no cantinho onde moramos, eu sou sozinho.

E eu odeio isso. É a pior parte da minha vida.

Eu tinha um buraco no peito por isso e Jimin o preencheu, fez com que eu sentisse amor por ele, com que eu me tornasse apegado a sua presença. O que vai ser de mim depois disso? Nem me refiro ao fato de ser um renegado, o que de fato serei e já aceitei, mas... como viver sem ele?

Jimin pede um suco de laranja porque sabe que é o meu preferido, e a moça sai de perto de nós para buscar nossas bebidas.

— Nós precisamos conversar, Ji. — Resolvo dizer, sentindo minha cabeça doer pelo resfriado e meu corpo implorar por uma cama quentinha.