Saturno sente medo

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Jungkook pareceu tão desconfortável quando eu o disse que precisávamos conversar, que ele se envolveu contra o banco e só faltou se fundir contra ele. De modo figurativo foi o que aconteceu, aliás. E eu não deveria achar seu jeito emburrado e mimado tão fofo, mas é adorável demais.

— Ei, bebê. — Brinco ao chamá-lo, mas o bico que se forma em sua boca me faz sentir um aperto absurdo no peito. E é por isso que sequer tenho coragem de dirigir.

Eu deixo o carro no canto da rua, onde posso estacionar, tiro o cinto de segurança e viro o corpo para ele. E ele não me olha, porque está segurando o choro e eu percebo isso.

— Eu estou com medo, Ji. — Ele murmura. — Eu sempre estive sozinho, mas eu sabia onde estava e que podia correr para meu lugarzinho se precisasse. Eu podia conversar com meus pais e me sentir acolhido e eu não precisava ter medo algum. Agora eu tenho o tempo inteiro e é horrível sentir isso.

Quando ele pausa para respirar, estico minha mão e seguro a sua com delicadeza. A tensão seu corpo é tanta que suas unhas marcam sua palma. Deixo um selar em sua pele e vejo algumas poucas lágrimas abandonarem seus olhos com isso.

— Eu estou tão assustado, Ji, que me sinto uma criança de novo e é a pior sensação do mundo. — Ele sussurra para mim. — Você não é meu e eu sinto muito que eu tenha dito isso tão explicitamente na frente daquela menina, ela não tem culpa. Eu não sei se você gosta de homens ou não ou o que, porque em Saturno não temos isso, então me desculpa mesmo. Eu só me apavorei com a possibilidade de perder você e fiz a primeira coisa que passou pela minha cabeça. E agora eu estou morrendo de vergonha e você está irritado comigo.

— Saturno. — O chamo, mas ele não me olha. — Bebê, olha para mim.

— Eu vou chorar muito. — Ele declara.

— Você não precisa chorar, eu não estou irritado. — E não estou mesmo, porque ainda que eu tentasse falharia certamente. — Eu estou preocupado com você, Jungkookie. Mas não irritado.

Ele vira o rosto para mim, e quando o faz eu quase não resisto ao desejo absurdo de findar o espaço entre nós. Eu nunca quis beijar alguém desse jeito e agora parece me enlouquecer de tanta vontade. Porque eu quero muito, mas entendo que não posso.

— Você não pode ficar sem comer na minha ausência. Você... você não pode depender de mim para tudo, meu bem. — Continuo a segurar sua mão, indo até parte de seu braço com calma. — Eu preciso sair para trabalhar e ficar com meu coração em paz por entender que você consegue lidar com a saudade por pelo menos algumas horas. Eu me preocupo com o seu bem-estar e quero que se sinta bem e cuidado, mas preciso de ajuda. Sou tão inexperiente nisso quanto você.

— Mas eu... — Ele faz outro bico. — Eu tenho medo de ficar sozinho, eu não consigo sair de cima do sofá ou da frente da televisão, mesmo que eu não esteja assistindo nada. O silêncio me apavora, Ji.

— Eu sei, Jungkookie, mas eu preciso que confie em mim e entenda que eu sempre vou voltar. Todos os dias. Eu vou voltar para você. — Digo baixinho, tentando o tranquilizar de algum modo. — Por favor, tente. Por mim

○ ○ ○ ○ ○ ○

Saturno tentou. Ele tentou, de verdade, mas os dias que se seguiram foram um verdadeiro inferno. E eu não digo isso por mal ou por conta da nossa relação, porque ao fechar um mês desde que nos conhecemos, estamos em um patamar de amizade que eu não tenho com outra pessoa há muitos anos.

Muitos mesmo.

E eu sei que meu coração está uma verdadeira bagunça e que eu já quase o beijei inúmeras vezes nesses trinta e quatro dias. Sim, eu sei de cabeça o dia em que o conheci e quanto tempo faz.

As Estrelas de Saturno | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora