Coisas Familiares

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Acordo. Olho para o relógio que está no criado mudo, ao lado da minha cama. Já são dez horas e o sol está brilhando belíssimamente através da cortina clara do meu quarto. Levanto da cama e caminho até o meu banheiro. Meu quarto é uma suíte, logo não preciso caminhar muito. Entro no banheiro e vejo minha imagem refletida no grande espelho, localizado na parede acima da pia. Eu não sou feia. Tenho longos cabelos castanho escuros, meus olhos são de uma cor que lembra mel, porém esverdiados. Tenho uma pele clara, mas não pálida e minha boca tem um belo desenho. Ainda assim, Maxon prefere à America.

Retiro o shorts rosa claro e a regata branca que estou vestindo, assim como minha lingeri de renda. Caminho até o box, abro-o e ligo o chuveiro. Água morna escorre pelo meu corpo, e fico no banho por pelo menos trinta minutos. Saio da área do box e me enrolo em minha macia, felpuda e branquíssima toalha. Ando até o meu quarto, mas paro sob o batente que o divide do banheiro.

Observo meu quarto. Tudo está no mesmo lugar que estava antes de que eu fosse para o palácio: meu guarda-roupas branco recostado na parede que divide o quarto e o banheiro, minha cama branca entre duas grandes janelas e um mini-divã em frente a ela, minha prateleira de sapatos na parede oposta a do guarda-roupas e dois belos tapetes de cor creme e felpudos, um em frente ao divã e outro em frente a prateleira. Há ainda um grande espelho de corpo inteiro na parede oposta a cama. Tudo está no lugar. Tudo é como antes. Tudo menos eu e o meu coração. Estamos frustrados e despedaçados.

Vou até o guarda-roupas e escolho uma saia azul marinho de cintura alta e uma blusinha branca, básica. Caminho até a prateleira e escolho uma sapatilha vermelha, com um lacinho na frente. Volto ao banheiro, penteio os meus cabelos, passo um pouco de rímel e blush, e ainda espirro sobre mim um pouco de um perfume suavemente adocicado. Me preparo para sair do quarto, mas antes olho, no espelho próximo a porta, a fim de ver como fiquei depois de me arrumar. Gosto do resultado.
Saio do quarto e desço as escadas.

Desemboco na sala de jantar, e o meu café da manhã ainda está sobre a mesa. Minha mãe aparece na porta do escritório. Tinha me esquecido: hoje é sábado e os meus pais estão em casa.

-Bom dia, filha!

-Bom dia, mãe. -sorrio.

-Bom dia, florzinha! -meu pai grita de dentro do escritório.

Sorrio e respondo, também elevando o volume da minha voz:

-Bom dia, pai!

-Coma, Kriss. Pedi para que Molly fizesse aquele bolo de laranja que você tanto gosta. Não é mesmo, Molly?!

Olho para trás e ali está a figura doce e amável de Molly. Ela é baixa, um pouco acima do peso e já deve estar na faixa de pelo menos cinquenta anos, porém ainda irradia a mesma força e doçura de quando eu ainda tinha cinco anos e ela foi contratada para substituir a antiga empregada da família, que se mudou para o sul de Illéa, onde poderia ficar mais próxima da família.

-Olá, Molly. -sorrio novamente.

-Olá, Kriss. -ela responde com o seu belo e agradável sorriso. Banimos o "senhorita Kriss" a muito tempo. Somente Kriss já é suficiente. Tentei fazer o mesmo com as minha criadas, no palácio, porém com elas não consegui o mesmo resultado. Insistiam no "senhorita Ambers". Oh! Que saudade de minhas três criadas. Não somente porque elas faziam praticamente tudo por mim, mas porque Julie, Kelly e Andie se tornaram minhas amigas, confidentes e companheiras, como nenhuma das selecionadas foi.

-Sente-se, Kriss. Já vou trazer o seu suco de abacaxi. -diz Molly.

-Hum! Suco de abacaxi e bolo de laranja?! Que delícia! -Todas sorrimos.

-Bom, então, já que está bem servida, continuarei a ajudar o seu pai a organizar as provas dos seus alunos. -avisa-me minha mãe. -Ah, e o Josh ligou hoje mais cedo. Pediu para que, assim que você puder, ligue para ele. O número dele está ao lado do telefone.

Minha mãe entra no escritório e eu instantaneamente corro até a sala e pego o telefone. Disco os números e logo uma voz masculina e educada atende:

-Alô, Kriss?!

-Eu mesma. Minha mãe disse que você ligou aqui em casa, mais cedo.

-Liguei. Quero ir almoçar próximo ao porto, hoje. Você quer ir?

-Claro! Podemos ir ao Roger's. Estou com saudade daquela comida leve e deliciosa.

-Estava pensando em ir lá mesmo!

-Ótimo, então!

-Passo para te buscar aí por volta de onze horas.

-Mas já é quase onze horas!

-Então fique pronta logo, Krissin. Quero ir andando, se você não se importar. Faz tempo que não passeamos juntos.

-Não, eu não me importo. Vai ser legal! -Fico quase eufórica. Passear pela cidade, como nos "velhos tempos"!

-Então, daqui a pouco estarei aí. -conclui Josh.

-Certo. Tchau!

-Tchau, Krissin!

Sorrio de novo.

Corro para a mesa. Praticamente engulo o delicioso pedaço de bolo, e tomo rapidamente o maravilhoso suco.

Subo as escadas, em direção ao meu quarto. Entro no banheiro, escovo os dentes, passo um gloss rosado e escuto a campainha tocar. Deve ser Josh. Saio do banheiro, dou mais uma olhada no espelho próximo a porta e ouço a voz animada de Molly, falando com Josh. Desço as escadas e vou em direção ao escritório. Bato na porta e entro.

-Pode falar, florzinha. -diz meu pai.

-Será que eu posso ir almoçar com o Josh, no Roger's?

-Claro, florzinha! Precisa de quanto?

-Acho que trinta illéanos devem dar.

Meu pai pega a carteira, que está em cima da escrivaninha, e retira o dinheiro.

-Aqui.

Pego o dinheiro e dou um beijo no rosto do meu pai, que sorri satisfeito.

-Obrigada! -agradeço.

Beijo também minha mãe e saio escritório, fechando novamente a porta. Guardo o dinheiro em um bolsinho da saia. Caminho em direção a porta de entrada. Josh me vê. Seu rosto se transforma em uma expressão engraçada: parece meio bobo, como se nunca tivesse vendo o que vê nesse instante. Bobagem. Josh já me viu inúmeras vezes. Molly sorri, e, enquanto volta para a cozinha, nos dá um olhar furtivo e divertido. Não sei qual é a dela. Josh ainda continua com o mesmo olhar "abobado".

-Ooôi! -digo, para despertá-lo do transe.

-Você está linda. -Josh responde sorrindo.

Sinto meu rosto corar. Que bobeira a minha. É normal um amigo dizer que a amiga está bonita, não é?!

-Obrigada! Vamos?!

-Claro! Vamos. -Josh diz meio ofegante. Acho estranho.

Passo pela porta, fechando-a. Josh, brincalhão como sempre, me oferece o seu braço, como um cavalheiro.

-Se me concede a honra, senhorita Ambers.

-Claro, senhor Sullivan. -entro na brincadeira e enlaço o meu braço direito ao seu braço esquerdo.
Atravessamos o jardim sorrindo.

A FinalistaWhere stories live. Discover now